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Aria

Um largo sorriso se abre no meu rosto assim que, após 15 minutos aguardando ansiosamente, conforme cronometra o timer do meu celular, os resultados dos três testes de farmácia que mantinha guardados saem um a um, quase em horário simultâneo.

Positivo.

Positivo.

Positivo.

Hoje de manhã eu acordei sem vontade de ir ao banheiro, o que veio a acontecer somente agora à tarde. Foi a minha primeira urina do dia, e o momento certo que encontrei para conferir se as mudanças que ocorreram no meu organismo não são apenas coisa da minha cabeça. Processando a magnitude da informação, encaro os dois riscos vermelhos. Eles, assim como a minha menstruação atrasada e os sintomas sutis que eu tenho sentido há mais de uma semana (marcados por náuseas e vômitos matinais), não mentem: eu consegui engravidar!

Meu peito se enche de alegria e eu começo a rir da notícia, que é mais do que contagiante. Lágrimas se acumulam nos meus olhos, porém não escorrem. Eu comemoro internamente, quase chorando de tanta emoção. Cubro a boca com uma mão para conter a vontade louca de gritar que sinto. Tomada por uma série de sentimentos, e ainda sem acreditar em tamanho milagre, imagino qual será a reação de Luca assim que eu contar a ele que teremos mais um filho. O cenário que construo em minha cabeça é o melhor que a minha mente consegue criar, e o meu coração acelera quando concluo que ele ficará contente assim como eu. O que é surreal demais para ser verdade.

Por mais que me doa admitir isso, uma parte minha morreu quando Matteo e Gianna mudaram de ideia quanto a serem pais, e finalmente entraram em um acordo com a realidade. Eles lidaram com a situação como dois adultos e, embora eu tenha ficado orgulhosa com a escolha madura que tomaram no fim, não parei de pensar em como seria a minha vida se criasse a criança gerada por eles como minha filha. Luca não demonstrou, no entanto, também se sentiu da mesma forma. Ele e eu realmente queríamos adotá-la. Dar um lar amoroso e acolhedor para ela. Tratá-la como se fosse nossa. Entretanto, com a mudança de planos que aconteceu ao longo dos meses, fomos praticamente obrigados a tentar uma fecundação orgânica. Nós transamos como um casal de adolescentes com os hormônios fora de controle. Todo dia sem falta. Eu até mesmo marquei uma consulta com o médico para tomar uma quantidade adequada de ácido fólico. A demora para um resultado foi tanta que cheguei a acreditar que não iríamos conseguir. Mas nós conseguimos!

- Mãe? - Ouço quando Marcella me chama do corredor, com uma batida firme que me tira do meu momento de comemoração. Por causa da reunião dos professores, os alunos foram liberados mais cedo. Não tem nem uma hora que ela chegou da escola.

Coloco o ar para fora, tentando acalmar os ânimos. Luca será o primeiro a quem darei a notícia, então o que me resta é tentar agir normalmente na frente dos nossos filhos. Preciosos como são, eles também ficarão radiantes assim que descobrirem que terão mais um irmão. Porém, não será agora que contaremos. Ainda não é a hora certa para isso. Por enquanto, é uma informação que eu quero manter em segredo.

- Sim, querida?

- Você ainda vai demorar pra sair? Preciso urgentemente da sua ajuda.

- Minha ajuda? - continuo falando alto para ela conseguir me escutar do lado de fora. - Com o quê?

- Uma questão de Matemática, de um assunto que aprendemos na aula de hoje, que eu não tô conseguindo acertar. - Posso sentir o tamanho da sua frustração pelo seu tom. - Já tentei de tudo, mas só sai o resultado errado! Tô quase desistindo.

Ela realmente parece irritada. Prendo uma risada, achando a sua reação diante dos erros cometidos cômica.

- Tudo bem! Só um minuto!

Saio da borda da banheira onde me sentei, escondendo os três testes dentro do armário da pia para mais ninguém encontrá-los. Prendo os meus cabelos embaraçados no alto da cabeça, seco as lágrimas que molharam os meus olhos e arrumo a minha camiseta enorme de dormir, calmamente desamassando o seu pano amarelo-queimado com as mãos. Preciso dar um jeito na minha aparência caótica antes de encará-la. Ela não vai entender nada, e eu não quero assustá-la com o meu surto emocional.

Quando as coisas entram nos conformes, me adianto para sair.

Pego o meu celular da bancada da pia, caminho até a entrada do banheiro e abro a porta antes trancada, encontrando Marcella parada no corredor, aguardando pacientemente. Balançando para trás e para frente nos calcanhares, em um vestido com bainha de ruffle verde que tem um laço amarrado ao redor da cintura, ela me lança um sorriso assim que trocamos um característico olhar entre mãe e filha. Eu sorrio de volta, acariciando seus longos cabelos pretos macios e prendendo uma mecha solta atrás da sua orelha, para ver melhor seu rosto com traços infantis. Ela é quase como se fosse uma versão feminina de Luca, porém ainda em formação. Tudo aponta que será uma linda mulher no futuro. Forte de uma maneira que eu nunca consegui ser por causa da minha criação autoritária e restrita. Nossa menina.

Nós duas vamos para o seu quarto no início do corredor, e lá eu tento ajudá-la com a lição de casa como posso. Permanecendo ao seu lado na mesa de estudo, confiro o seu caderno temático da Pequena Sereia. Como conheço o conteúdo, e tenho uma memória funcional, eu o ensino calmamente à ela. Inteligente como é, Marcella entende tudo assim que eu termino de dar a aula, buscando facilitar o assunto para o seu raciocínio de pré-adolescente. Os minutos transcorrem vagarosamente e, quando enfim concluímos a questão, encontrando o valor correto que ela não conseguiu achar anteriormente, eu começo a interrogá-la em relação à escola. Ela me garante que é a melhor da sua turma, e também uma das alunas preferidas dos professores, o que me enche de orgulho. É bom ver que nisso somos semelhantes.

Do outro lado da parede de concreto, consigo escutar o volume alto que sai da TV do quarto de Amo, que assiste a um filme de heróis - acredito que um de animação do Homem-Aranha - ideal para a sua idade, como nós dois combinamos após tanto discutirmos. Por ser uma criança teimosa, ele geralmente queria ver aqueles para maiores de 18 anos, com cenas fortes de assassinato e violência, e eu não permitia de maneira alguma. Tenho medo de como isso pode influenciá-lo, e é um risco que eu ainda não quero que ele corra. Sei que ele seguirá os passos do pai quando crescer, e que se tornará um Homem Feito assim que chegar à adolescência, mas é algo que eu vou retardar até onde der. Porque a minha família é o que eu mais tenho de valioso na minha vida, e eu farei tudo ao meu alcance não somente para manter a inocência de Amo, como também assegurar que ele tenha uma infância normal.

Ser mãe não é nada fácil, ainda mais em um mundo como o nosso. Porém, mesmo com o trabalho que teremos, Luca e eu queremos muito criar um terceiro filho. Nem consigo acreditar que o nosso sonho finalmente se tornará realidade.

A Origem de ValerioOnde histórias criam vida. Descubra agora