O medo

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Notas do autor
Eu queria agradecer pelos 90 seguidores e tbm eu queria pedir um favor comentem bastante oque vcs estão achando da história e não esqueça de dar a estrelinha pra ajudar a autora aq rsrs entt boa leitura pra vcs bjs 💛

A tristeza era visível no rosto de todos. A melancolia era quase palpável entre as quatro paredes do velório; o ar fúnebre, que nos cobria como um lençol, penetrando em nossa pele como um abraço depressivo, percorria o corredor que dava acesso ao lado de fora; e lá fora, a melancolia também se manifestava, na estreita rua de terra, permeada pelas lamentosas árvores secas do inverno, e, também, no grande portão enferrujado que servia de pouso para alguns corvos. Do outro lado da rua de terra, rente a entrada do velório, se encontrava um muro repleto de lodo; muro esse que dividia, do lado de cá, as duas salinhas do velório, e do lado de lá, lápides, covas e jazigos. Aquele foi um dia triste para muitos. Dois velórios, duas famílias desoladas, duas vidas que se foram.

   O carro fúnebre que trouxe o cadáver do meu tio e de sua amante estacionava novamente, com mais um defunto que, em breve, substituiria o lugar do meu Tio Afonso assim que seu velório acabasse. Carros e mais carros chegavam, trazendo os familiares do próximo morto que seria velado naquela salinha. Do lado de fora, uma família desconhecida para nós, compartilhando do mesmo sentimento lastimável, aguardavam enquanto nos despedimos do Tio Afonso, para que mais tarde, eles também pudessem se despedir de seu ente querido, agora falecido.

   Não bastassem os dois velórios, mais o terceiro que se iniciaria em breve, da família que aguardava lá fora, recebemos notícias de que mais tarde o carro funerário partiria em busca de um novo morto; bem-afortunada era a Morte naquela fria tarde de domingo. Fomos notificados de que em quinze minutos o caixão do meu tio, e o de sua amante, deveria ser fechado para seguir caminho entre as lápides. Entre choros e lamentos, nos aproximamos do Tio Afonso para um último adeus, inclusive minha tia que, deixando o rancor de lado, despedia-se de seu infiel defunto com um beijo na testa, aos prantos. O mesmo acontecia no velório da defunta amante, na sala ao lado. Fui o último a me aproximar do caixão para me despedir daquele corpo enrijecido, de coloração de cera velha —deplorável livor mortis —, mas fui interrompido, pois foi exatamente a partir daí que se iniciou os momentos mais aterrorizantes da minha vida.
 

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