alguns seres sinistros despertariam

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de alguém. O próprio Monstro De Frankenstein se assustaria com aquela visão.

   Instintivamente, corri em direção a criatura e, ao me aproximar, joguei-me para o lado esquerdo, levando meu ombro a um impacto com a parede, conseguindo passar pela defunta sem ser pego. Parei mais a frente, ainda no corredor, fazendo sinal para que as outras pessoas viessem comigo; foi quando percebi que meu Tio Afonso estava sentado em seu caixão, fixando o olhar em mim, e o outro defunto estava imóvel no canto da parede. Ninguém teve coragem de fazer o que fiz, continuaram se espremendo na parede enquanto o podre ser os encurralava. Eu não suportava mais a visão daquelas terríveis nádegas em movimento; corri para fora do velório e notei o crepúsculo vespertino enquanto os gritos dos que ficaram lá dentro entoavam em agonia. A névoa ainda era presente em alguns pontos do lado de fora, onde algumas silhuetas de mortos ressuscitados perambulavam, e do outro lado do muro ainda era possível ouvir as vozes demoníacas. Entrei no carro funerário e pisei no acelerador.

   Enquanto dirigia, notava muitas velas acesas espalhadas pela estrada. Peguei um atalho, numa ruazinha que cortava o cemitério, entre algumas lápides e, por essa rua, da janela, eu podia ver, com um pouco de dificuldade por conta da sútil névoa, diversos corvos se aglomerando nas cruzes de cimento e sobrevoando alguns defuntos ambulantes; eu podia enxergar a terra das covas movimentando-se, de onde mais alguns seres sinistros despertariam, e por todo canto, pessoas clamavam por socorro. Logo eu estava longe daquele lugar, seguindo a estrada que dava acesso à saída daquela cidade macabra. Desde então, nunca retornei, e este, é apenas um dos relatos dos sobreviventes de Franco da Rocha; e sim, existem muitos outros casos assustadores, de pessoas que estiveram face a face com o mal. Agora, já passa da meia-noite e, como de costume, deito minha cabeça no travesseiro para tentar dormir, e enquanto o sono não chega, permaneço, mais uma vez, como todas as noites dos últimos treze anos, observando o ser nu que caminha no corredor do meu quarto, carregando sua vela fumacenta, me observando até que eu apague de sono, quando, na verdade, ela espera que eu apague de vez, para me carregar, sabe-se lá para qual inferno de onde ela veio.

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