uma pessoa invade a sala

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Alguém invade a sala do velório; um homem barbudo, de olhos arregalados, semblante assustado, tentava dizer algo, mas faltava fôlego para se expressar. Com a mão no peito e esforçando-se para respirar, ele finalmente conseguiu pronunciar algumas palavras daquela boca seca e esbranquiçada. Dizia ele, já rouco, que “Eles” estavam se aproximando. Tentamos acalmar aquele homem e pedimos para que ele se explicasse melhor, mas, a única coisa que ele fazia era apontar o dedo trêmulo para o lado de fora, dizendo que “Eles” estavam se aproximando, e que deveríamos fazer silêncio. Fui buscar água para o homem, mas logo retornei, quando vi as pessoas que estavam do lado de fora, esperando para velar o seu defunto, entrando ligeiramente pela estreita porta do velório, todos amontoados e desesperados. A salinha onde velávamos Tio Afonso agora estava lotada; eu, minha família, a da amante e as pessoas que estavam lá fora dividiam o mesmo espaço funesto.

   Apoiando firme as mão no caixão do meu tio, o motorista do carro funerário começou a falar:

   — Ele retornou, e eu pude ver com meus próprios olhos — disse o motorista do veículo fúnebre — vi que a multidão corria para dentro do velório enquanto eu fumava meu cigarro no carro. Pensei que os barulhos vindo de trás do carro funerário eram das pessoas trombando em sua traseira, mas quando olhei no retrovisor, notei que a tampa do caixão estava se movendo, o mesmo caixão que me acompanhou durante a viagem, com um morto dentro. Meu Deus, como isso é possível?!

   Um senhor aglomerado junto a nós se manifestou:

   — Você está dizendo que meu filho está vivo? Meu filho? Você tem certeza? Preciso vê-lo! Ajudem-me a chegar ao carro funerário! Oh, graças ao bom Deus, meu filho querido abriu a tampa do caixão. Ele está vivo! Está vivo! — gritava o senhorzinho enquanto tentava se movimentar apoiado em sua bengala, dando pequenos passos bambos, acompanhado de sua sobrinha que o ajudava.

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