O filho do meu tio

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  O homem barbudo, ao retomar o fôlego, alertou o velho e sua sobrinha de que não era uma boa ideia irem para o lado de fora; foi ignorado; a esperança do velho em rever seu amado filho era mais forte que tudo, e nisso, algumas pessoas o seguiram, correndo para longe dali, sobrando apenas seis pessoas ao meu lado.

   Não demorou muito para a sobrinha retornar apressada para dentro do velório, aos berros:

   — Não sei o que se passa lá fora, mas é seguro que fiquemos aqui. O motorista não estava delirando; Maurício, o filho do meu tio, realmente saiu do caixão e caminhava lentamente, vindo de encontro a nós, pronunciando algumas palavras indecifráveis como se o ódio tomasse conta de seu ser. Fiquei apavorada, com muito medo e decidi voltar, deixando o teimoso do meu tio do lado de fora.

   Do outro lado do muro, onde os enterrados permaneciam em sono perpétuo, a jovem assustada disse ter visto um nevoeiro se formando, e de lá, vozes pronunciavam um estranho e assustador dialeto em sincronia; logo pudemos ouvir as vozes que ecoavam lá fora se aproximando do velório, e não demorou muito para que a névoa invadisse o local onde estávamos. Gradualmente nossa visão ficou embaçada com o gélido nevoeiro. A bruma se alastrava com velocidade, diferente de todas que já vi, carregada de um grotesco aroma de enxofre e pus, extremamente desagradável, causando ânsia em todos nós. A escuridão é assustadora para muitas pessoas, mas, depois daquele dia, o oposto da escuridão é o que realmente me atormenta; a claridade em excesso, o brancor de um nevoeiro putridamente perfumado.

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