Capítulo 2 - Quando as palavras falharem, como ele vai saber como eu sinto?

26 2 1
                                    

 Quando o dia seguinte finalmente chegou, pequenos feixes de luz entraram pela janela do Hanshi anunciando o sol da manhã. Um cheiro suave de glicínias e lavanda perfumavam o ar e, através do vento — que trepidava o manto no encosto da cama — foi dançando até as narinas de Lan Xichen, trazendo o cheiro agradável das flores até ele.

Lan Xichen estava deitado em sua cama, não estava dormindo. Seu corpo já estava acostumado a acordar assim que os sinos eram tocados às 5h00, mas, desta vez, escolheu ficar um pouco mais em sua cama, já que em poucas horas estaria indo para LanLing Jin.

As palavras de Wei Wuxian ainda ecoavam em sua cabeça, de alguma forma ouvir aquilo fez com que aquela luzinha em seu coração acendesse, talvez realmente fosse a hora para ir atrás de sua própria felicidade. Afinal, Wangji já havia feito isso e, mesmo que seu Tio Qiren fosse contrário a escolha de parceiro de seu sobrinho, lá no fundo ficava feliz por vê-lo com a sua alma gêmea.

Com a mão sobre o peito, apertando o pente que daria a Jin GuangYao, Lan Xichen sentiu um misto de emoções percorrerem por seu corpo. Ainda havia uma pontada de medo em se confessar para o jovem mestre Jin, não sabia como ele reagiria. Será que ele ficaria feliz? Ficaria enojado? Ou apenas fingiria que nada aconteceu?

E mesmo que essas perguntas o perturbasse, Lan Xichen tentou se manter esperançoso e confiante, de alguma forma sabia que seu coração pertencia a Yao, assim como o dele pertencia a si.

Pela primeira vez em sua vida sentiu a paixão por alguém o invadir tão calorosamente, que tudo a sua volta parecia mais florido.

Lan Xichen curtiu aquela sensação esperançosa em sua cama por mais um tempo, até que tivesse que realmente levantar para tomar um banho. Ainda precisaria começar a arrumar as coisas que levaria para o tempo que ficaria fora, por isso, ele não demorou para ficar de pé e se despir. Lan Xichen caminhou tranquilo até a banheira de madeira que havia na outra extremidade de sua residência.

Quando tocou a água e percebeu que estava levemente fria, Xichen segurou em sua borda e entrou, deixando que vazasse um pouco do líquido em seu quarto.
Afundando um pouco na banheira, ele molhou seus longos cabelos e, enquanto lavava cuidadosamente um turbilhão de coisas passou por sua cabeça, inclusive uma ideia que tinha de levar uma pintura para Yao.

Já havia pintado para Jin GuangYao antes as quatro estações, que estavam penduradas no escritório que Jin Zixuan havia construído de presente para o seu irmão. Mas, não queria levar a ele outra pintura de paisagem, desta vez, queria dar de presente um lindo retrato. Yao era extremamente bonito, pintá-lo seria seu Magnum opus*.

Depois de muito ponderar sobre como faria o retrato dele, Lan Xichen decidiu fazer uma pintura de Yao com uma flor de Magnólia em seus cabelos castanhos. Faria seu rosto de lado, exibindo uma doce covinha e com olhar gentil que o jovem mestre sempre lhe ofereceu.

Lan Xichen saiu molhando seu quarto inteiro até alcançar o manto limpo que usaria para ir à Torre da Carpa, havia escolhido o azul escuro com detalhes em dourado na parte interna, um presente dado por Yao em sua última visita a LanLing.

Agora, sentado em frente a sua mesa de jacarandá, Lan Xichen pegou um pergaminho novo, alguns pincéis, suas tintas e uma xícara com água. Começou utilizando o pincel fino para traçar linhas mais claras e delicadas do rosto do jovem mestre Jin, em seguida, tirou o excesso da tinta e pegou um pincel mais grosso, com cerdas escuras e muito bem alinhadas. O usaria para desenhar os fios do longo cabelo de Yao, que em sua pintura pareciam vivos e vistosos.

Para fazer a flor no cabelo do Jin, Lan Xichen pegou sua tinta roxa e com pinceladas suaves foi fazendo as pétalas. Quando estava finalizando o retrato, batidas em sua porta o fez ter um sobressalto e deixar o pincel cair em seu tapete, resvalando um pouco da tinta na manga de seu manto. Ele tomou cuidado ao  se levantar para não estragar a pintura e foi atender a porta.

Quando as palavras falhamOnde histórias criam vida. Descubra agora