2 Efeito devaneio*

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De repente, me dei conta que ela  acariciava minha bochecha e nossos rostos estavam muito próximos, quando me dei conta, seus lábios, os mesmos que desejei por tanto tempo, estavam agora nos meus em um beijo carinhoso.

Meu corpo que pareceu ter ganhado vida por si só, se encaixou no dela e minhas mãos alcançaram rápido sua cintura, deixando o beijo mais intenso e vantajoso.

Como era bom finalmente conseguir sentir aquela sensação, sua pele arrepiada em minhas mãos suadas e trêmulas, sua voz soltando suspiros relaxantes para mim, seu peito acelerado contra o meu coração também correndo alguns quilômetros sem relógio.

Ei! Ei! Ei!

Um tique tique tique fez minha cabeça sacolejar.

Acorda... acorda... ACORDA AGORA, SEU SEM VERGONHA!

Impossível. Caramba, foi apenas um devaneio... Puto mesmo hein, puto mesmo hein.

Passando poucos segundos em que eu estava em paralisia débil, ela veio até mim quando já estava com a bolsa em mãos. Meu corpo reagiu com um singelo abaixar de cabeça, que se sucedeu ao susto que tomei pelo seu estalar de dedos na minha frente.

Você é um puto, Ruggero. Definitivamente, um puto.

Como vai olhar para ela depois de saber que ela sabe sobre você ser um encarador pervertido?

Sua voz rouca soa por meus ouvidos, me alegrando.

----- Pasquarelli? Está tudo bem? Você ficou paralisado aí sem reação. ----- Seu gesto de se mover para me observar melhor não estava ajudando minha mente a pensar com clareza. ----- Está sentindo alguma coisa?

Calor com certeza. Ela está muito, muito mesmo, perto de mim. Perto de mim... Perto de mim...

----- Humm... Oh, sim!

Sua cabeça curvou pra trás.

----- Está vermelho! É febre?

Tudo que fiz antes de responder foi estalar a língua dentro da boca. Ela está brincando sobre a pergunta?

----- Não. Tudo está bom... ---- Despertei devagar, olhando para os lindos peitos dela... Droga.

----- Okay. Uma amiga me mandou mensagem dizendo estar me esperando lá embaixo, você não se importa, né?! ----- Ela olhava para o celular.

Ah, me importo sim. No entanto, pode ser que não faça diferença pra você e talvez eu tenha delirado sobre o que ouvi segundos atrás.

----- Até amanhã, então! ----- Ela acenou pegando as chaves do Studio e tudo que fiz foi a seguir para fora.

Saio praticamente correndo dali, muito envergonhado dos meus pensamentos.

Inacreditável.

Não basta sonhar com ela enquanto durmo. Agora fico imaginando acordado como se ela fosse perceber e me agarrar mandando ver.

Me sinto um abestalhado sem vergonha. Melhor esquecer, não vai mudar nada na minha vida.

A senhora Sevilla deve ser casada e talvez tenha filhos. Preciso parar de pensar nela e lembrar que somos aluno e professora de dança, somente.

Entrei no meu veículo e vi meu rosto corado através do espelho retrovisor.

Saindo do estacionamento, admirei a paisagem do lugar onde moro. Precisava distrair a mente com outra coisa por um momento.

Morar em Floripa na Itália  era bom e tudo parecia tranquilo por ali para as pessoas de fora.

A cidade exalava um falso sossego.

Eu ficava imaginando na parte do entardecer, como seria se eu  saísse com meus amigos para a praia de El diablo, como fazia antes na grande parte da minha adolescência na antiga cidade que morei. Aqui tinha algo diferente. Um vulcão ativo mas não perigoso do outro lado da ilha, que é habita por familiares e turistas curiosos.

Dava aquela sensação de paz de momento, que surgia e fazia qualquer um sonhar com mais.

Mas tinham dias, na maioria deles, que as coisas eram bastante barulhentas e o sossego se escondia nas cavernas montanhosas.

Com certeza hoje seria um desses dias.

💋

Meu carro estava limpo depois que passei no lava-jato, além da ida ao supermercado para comprar algumas coisas essenciais para consumo caseiro.

Cheguei na rua em que moro e já podia ouvir a gritaria e o som alto.

Princeton Room era tão badalada que as ruas se agitavam por si só. Era estranho subir a esquina e não ver um casal se pegando ou alguma roda de amigos se divertindo, alguns adultos bebendo e cantando também.

Não importava o dia, se estivessem dispostos, a curtição era ali. No fim de semana se tornava ainda mais doido.

Já haviam me convidado para participar, mas sempre recusei por sentir que seria um intruso entre eles.

Acredito que sou na vida de qualquer um que encontre e queira ser amigável comigo. Por isso, minha mente tenta afastar essas pessoas a todo custo, enquanto meu coração quer ter elas por perto. Pelo menos as que me fazem e que eu faço bem.

Seria maravilhoso se minha amada professora de dança fizesse parte dessas pessoas.

E eu continuo sonhando acordado.

Quando será que vou parar de ser um iludido em nível hard? Talvez amanhã, ou nunca. Talvez nem cura exista para isso.

Depois de estacionar o carro, já fora dele, abri a porta da minha casa e entrei com as sacolas.

Assim que as deixei no balcão, a vibração de mensagens do meu celular me fez pegá-lo no meu bolso.

#Olá, Pasquarelli. Quer sair para um lugar comigo?

Olhei para a tela, claramente confuso.

#Quem é? Quem te deu meu
número?

#Humm. Então é mesmo você! É a Karol. Seu número está no registro que você fez pra entrar na aula de dança.

Nossa, nossa e nossa.

ELASALVOUOMEUNUMERO.

#Ah! Me desculpe! Não me lembrava. E, olá, senhora Sevilla.

Mandou um emoji simpático.

#Vai aceitar o meu convite?  Sem preocupações, pois não estaremos sozinhos.

É outro sonho? E se for? Bem ... Se for, eu definitivamente tenho que procurar um ou uma psiquiatra.

#Ok. Acho que aceito!

#Maravilha! As 20hrs nós nos encontramos! Ainda bem que moramos bem próximos.

#Beleza, então.

Será que ela reparou que a chamei de senhora? Nem deve ter notado.

Outra questão é. Isso só pode ser uma pegadinha. E vou cair nela mesmo assim.

Será que é?

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