Capítulo 1

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AVISOS: essa história, apesar de ter harlivy e desenvolver a relação delas, diferentemente das minhas outras fics, tem como foco principal falar de um tema que nunca abordei a fundo, mas que me fascina muito como escritor e ser humano: a maternidade e tudo que a engloba.

Conteúdo: morte, luto, saúde mental, suicídio, abuso de substâncias, aborto, maternidade, relações homoafetivas, transexualidade etc. 

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MAX MAYFIELD

"Todo mundo morre

Mas que grande surpresa

Contamos mentiras uns aos outros

Às vezes tentamos

Fazer parecer que

Talvez nós estejamos certos

Talvez nós não estamos sozinhos

Estamos sozinhos."

Sou o que chamam de sobrevivente.

Eu tenho sobrevivido há quatorze anos a todos os percalços que a vida continuamente insiste em me impor.

Sou pobre. Tão pobre que moro num trailer que sequer anda. Vivo no Rio Leste, o bairro mais fodido da cidade, onde só as pessoas que não tem grana para comprar uma casa vivem. E, além de ser um lugar feio e repleto de pobretões vivendo em trailers, há muitas gangues de adolescentes aspirantes a grandes criminosos, então, se você não estiver sempre de olhos abertos, pode perder o pouco que tem ao ser assaltado tarde da noite por um bando de pivetes desesperados.

Vivo aqui desde que me entendo por gente com a minha mãe Rachel. Somos só eu e ela. Eu não teria que me queixar se minha mãe realmente fizesse seu papel de progenitora e cuidasse de mim. Acontece que os papéis aqui são invertidos e eu quem tenho que cuidar dela - na medida do possível, visto que sou apenas uma garota que nem completou quinze anos ainda.

Rachel é alcoólatra. Todos os dias eu chego em casa e há garrafas de vinho barato vazias caídas pelo chão e latas de cerveja espalhadas por todos os cantos. Ela não trabalha há alguns meses, desde que sua depressão se agravou, incapacitando-a de se levantar do sofá.

Como sobrevivemos?

Bem, misteriosamente minha mãe tem bastante dinheiro guardado. E, apesar do seu vício em álcool, ela nunca ousou mexer nesse dinheiro para torrá-lo em extravagâncias. A maluca nem ao menos pensou em comprar uma casa decente para morarmos.

Ela não me diz de onde veio esse dinheiro, assim como também não fala sobre o meu pai. A vida de Rachel é um verdadeiro mistério tanto quanto a minha concepção e isso me deixa puta, porque é meu direito saber da minha história.

O pouco que eu sei é que meus avós maternos tinham uma vida bacana, moravam no Bristol. Acho que meu avô era advogado ou algo assim, tinha até um escritório desses renomados. Minha avó eu não sei. Talvez a grana que minha mãe tenha guardado seja herança dos dois, que infelizmente morreram quando eu era bebê, por isso não tenho lembranças deles.

Como minha mãe não tem irmãos, eu não sei o que é ter tios ou primos. Somos, literalmente, sozinhas no mundo, Rachel e eu. E apesar do seu vício e dessa doença terrível que a cada dia lhe transforma numa coisa que eu não reconheço, eu amo minha mãe. Nós sempre nos demos muito bem.

Quando eu era menor e as coisas não estavam tão ruins, me lembro de como Rachel cantava para eu dormir, de como me carregava no colo toda sorridente para me levar à escola. Nós costumávamos ir ao parque todos os dias e, sabendo que eu amava sorvete, mamãe sempre comprava um para mim.

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