Capítulo 4

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PAMELA ISLEY

"Você estava sozinha, abandonada no frio

Apegada às ruínas de seu lar despedaçado

Perdida e machucada demais para carregar o seu fardo

Todos nós precisamos de alguém para abraçar."

Não vou ser hipócrita e dizer que estou radiante e completamente transformada dois dias depois de ter descoberto que tenho uma filha.

Como eu sempre digo, nunca quis ser mãe. Logo, a ideia de ter um filho caindo de paraquedas na minha vida, ainda mais uma adolescente de catorze anos, é totalmente assustadora. Então posso dizer que estou aterrorizada com essa menina aqui, debaixo do meu teto, sob os meus cuidados.

Eu não sei cuidar nem de mim.

À primeira vista, pode parecer que eu sou uma adulta centrada, realizada, independente, que sabe se virar etc. E sim, por um lado tudo isso é verdade. Eu tenho uma empresa milionária, sou ativa nas causas que acredito, moro no melhor bairro da cidade, tenho uma casa maravilhosa, carro, dinheiro mais que suficiente para fazer as coisas que me dão vontade, mas... Sempre há um "mas", e no meu caso esse mas vem acrescentado de um milhão de coisas terríveis.

Não tenho preconceito com crianças nem com adolescentes. Não sou do tipo de pessoa que encara mães na rua com seus filhos e faz cara feia ou pensa: "nossa, que coisa horrível, ainda bem que não tenho filhos." Juro que não sou desse tipo.

Se eu for bem honesta, eu adoro crianças. Especialmente bebês. Eles são adoráveis, independente do trabalho que devam dar. E, se eu pudesse escolher ser uma pessoa diferente, se eu pudesse mudar o meu passado e a minha vida, certamente eu amaria ter vários filhos e construir uma família.

Só que eu sou Pamela Isley, a destroçada.

Ter uma família é um tema sensível para mim.

Porque eu não tenho. Eu nunca tive. Não realmente.

A única coisa que conheci foram pais terrivelmente abusivos que me geraram tantos traumas que perduraram ao longo dos meus quarenta anos que eu nunca pude conseguir nem cogitar a ideia de ser mãe. Eu jamais gostaria de passar a alguém a minha genética horrível, muito menos condenar essa pessoa a conviver comigo - uma criatura solitária, fria, sombria, quebrada.

Mas agora cá estou eu com uma filha.

A menina é parecida comigo em muitos aspectos, tenho que admitir.

Além do físico, ela é bem independente, sabe se virar. O que por um lado é ruim, porque eu sei que Max só é assim devido às circunstâncias nada favoráveis da sua vida antiga ao lado de Rachel. A menina precisou aprender cedo a ser adulta, e isso é triste. Eu sei bem o quanto.

Max é forte, do contrário não teria suportado tanta coisa. Do contrário, não estaria de pé agora depois de ver sua única família sucumbir.

A primeira noite foi estranha.

Não consegui dormir e acho que ela também não, pois ouvi o barulho da porta do seu quarto abrindo, além dos seus passos pelo corredor, depois pelas escadas. Mas não ousei sair do meu quarto para não correr o risco de encarar uma criança chorosa pelos corredores. Seria constrangedor e eu não saberia o que dizer.

A segunda noite foi igual. Mas eu consegui dormir um pouco e acho que Max também.

Durante o dia, o único assunto foi a vizinha, Harley Quinn. Aparentemente a garota está apaixonada por ela. Num bom sentido.

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