Capítulo 5

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MAX MAYFIELD (TALVEZ ISLEY TAMBÉM)

"Ouço você gritar, solitária e desmoronando

Você pode me consertar? Você pode me mostrar esperança?

No final do dia, você estava impotente

Você pode me manter perto? Você pode me amar mais?"

Rachel me criou de uma maneira muito específica e sei que, caso exista alguma coisa depois da morte, ela está me olhando e esperando que eu faça juz a essa criação, portanto eu tento ser agradável, tento ser grata por tudo que Pamela Isley tem feito por mim desde o momento que nos conhecemos, mas admito que não é fácil estar em contanto com minha outra "mãe" e agir como se ela fosse apenas uma adulta me ajudando.

Tipo, essa merda toda é muito confusa e contraditória. Ao mesmo tempo que tenho que ser grata por ela ter aceitado cuidar de mim e estar se dispondo a fazer tudo para ser legal, em contrapartida ela também é minha mãe e de certa forma tem obrigação em fazer essas merdas, então eu não sei até que ponto o que Ivy faz para mim é de livre e espontânea vontade para ser legal ou se está apenas querendo fazer média porque sabe que aos olhos dos outros ou da justiça ela tem alguma obrigação.

De qualquer forma, estou sofrendo demais sem minha mãe e sem a vida que eu conhecia. Por mais que eu tenha uma cama confortável, um quarto só meu e esteja morando num bairro de bacana, essa porra toda é muito nova e confusa para mim. Estou de luto por ter perdido a única família que eu conhecia e fui - literalmente - jogada nos braços de uma estranha. Ivy e eu podemos ter o mesmo sangue, mas não nos conhecemos. Não posso chamá-la de mãe e me sentir à vontade assim, do nada. Aliás, eu tenho certeza que essa perua surtaria se eu decidisse chamá-la de mãe. Mesmo que brincando.

Por sorte, sua vizinha é muito da hora. Harley Quinn tem sido uma companhia fundamental para mim neste processo de transição. Apesar de soar meio exagerada e talvez até mesmo maluca, ela é sincera como poucas pessoas dessa idade podem ser e me trata melhor do que eu poderia sonhar. Acho que nem Rachel me tratou tão bem assim.

Harley e eu jogamos videogame, brincamos com Bruce, tocamos guitarra - ainda estou aprendendo - comemos porcaria, conversamos sobre tudo. Ela me trata como se eu fosse adulta. Não tem receio de me dizer nada ou de fazer perguntas constrangedoras. Na verdade, Harley é especialista nisso. Às vezes eu nem sei o que responder, mas ela insiste e sou obrigada a falar alguma coisa.

Eu acho curioso como alguém tão diferente, independente, maluca e às margens da sociedade pode ter dinheiro suficiente para morar no Bristol, numa casa daquele tamanho, mas... Eu me controlo para não ficar lhe interrogando. Por mais divertida e solicita que Harley seja, todas as pessoas tem seus limites e não quero ultrapassar os dela. Nem os de Ivy.

A verdade é que estou por conta própria desde que Rachel se matou. Tenho medo de fazer algo errado e estragar tudo. De acabar numa situação pior do que a atual. Medo de ir para um orfanato. Por isso, não posso desagradar Ivy nem fazer nada muito louco, embora eu tenha vontade de... Sei lá, chutar o balde. Seja lá o que isso signifique.

Não sei se Pamela gosta de mim, mas ela é do tipo de pessoa extremamente certinha que segue as regras, e o fato de eu ser sua filha biológica e de Rachel ter escrito uma carta pedindo para ela cuidar de mim significa, na sua cabeça de adulta séria e centrada, que ela deve fazer isso. Deve exercer sua função de mãe, cuidando de mim, me dando tudo do bom e do melhor até eu fazer dezoito anos - quando enfim poderá ter paz ao me chutar para longe.

E, embora eu não a conheça o bastante, não tenha tido tempo de criar um vínculo ou algo assim, eu tenho medo de pensar nos meus dezoito anos. Tenho medo de me imaginar lá fora, no mundo, totalmente sozinha, à própria sorte.

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