Dez

3 1 0
                                    

Tinha algo errado, como se o ar da sala estivesse parado e se tornasse cada vez mais espesso até que Wooyoung só conseguia respirar coágulos gelatinosos gigantes. Em todos os anos desde que conheceu Taehyung, ele nunca se sentira assim.

Wooyoung lançou um sorriso reconfortante para Taehyung e fez uma brincadeira sobre a quantidade de pelos de cachorro presos em seu legging. Taehyung abriu um sorrisinho, passando as mãos pelo cabelo azul - claro e liso.

Os dois estavam sentados no escritório de Kim Jay Park, com Wooyoung na cadeira giratória e Taehyung em uma poltrona de couro vinho à sua frente. Taehyung não estava olhando para Wooyoung, e sim encarando os três quadros pendurados na parede dos fundos. Três telas gigantes da família, imortalizada para sempre em pinceladas coloridas. Seus Pais caminhando no bosque durante o outono, Jay Park tomando uma xícara de algo quente e Taehyung é Yeonjun pequenos, em um balanço.

A mãe havia pintando os três quando estava morrendo; foi a última marca que deixara no mundo. Wooyoung sabia o quanto esses quadros eram importantes para os Kim's, como os olhavam nos momentos mais alegres e nos mais tristes. Mas se lembrava de outros dois que antes ficavam ali. Talvez Jay Park tivesse colocado ambos em um depósito para dar aos meninos quando crescessem e saíssem de casa.

Wooyoung sabia que Taehyung fazia terapia desde que a mãe tinha morrido, sete anos antes. E que ele havia conseguido atravessar a ansiedade, quase chegando ao seu limite, e se formar na faculdade. Mas, há alguns meses, o amigo teve um ataque de pânico no novo emprego, em Londres, e pediu demissão para voltar a morar com o Appa é o irmão.

Taehyung era frágil, e Wooyoung estava se esforçando muito para não forçar a barra. Pelo canto do olho, conseguia ver o cronômetro rodar no aplicativo do gravador.

⎯ Bom... Taehyung, pode me contar com detalhes o que vocês estavam fazendo na casa do Jackson naquela noite? - perguntou Wooyoung com cuidado.

Taehyung se mexeu, com os olhos baixando para circundar seus joelhos.

⎯ Hum, a gente só estava, tipo, bebendo, conversando, jogando Xbox, nada de mais.

⎯ E tirando fotos? Tem algumas no Facebook daquela noite.

⎯ É, tirando fotos bobas. A gente só estava passando o tempo mesmo.

⎯ Mas não tem nenhuma foto do Jungkook.

⎯ Não, bom... Acho que ele foi embora antes de a gente começar a tirar fotos.

⎯ E o Jungkook estava agindo de forma estranha antes de ir embora?

⎯ Hum, eu... Não, acho que não.

⎯ Ele falou sobre o Jimin?

⎯ Eu, hum... É, talvez um pouco.

Taehyung se mexeu na poltrona, provocando um barulho alto no couro enquanto ele se desgrudava do tecido. Algo que o irmão mais novo de Wooyoung teria achado muito engraçado e que, em outras circunstâncias, ele também.

⎯ O que Jungkook falou sobre o Jimin? - perguntou Wooyoung.

⎯ Hum. - Taehyung hesitou, cutucando a cutícula do polegar.
⎯ Ele, hum... Acho que tinham brigado. Jungkook disse que ia ficar sem falar com ele por um tempo.

⎯ Por quê?

⎯ Não me lembro direito. Mas Jimin era... Ele era um saco. Estava sempre tentando arrumar briga com Jungkook pelos motivos mais idiotas. Jungkook preferia dar um gelo nele do que discutir.

⎯ Sobre o que eles brigavam?

⎯ Coisas idiotas. Tipo o fato de ele não responder as mensagens dele rápido o bastante. Coisas assim. Eu... Eu nunca disse isso, mas sempre achei que Jimin ia causar problemas para ele. Se eu tivesse dito alguma coisa, não sei, talvez tudo tivesse sido diferente.

Manual de assassinato para bons garotosOnde histórias criam vida. Descubra agora