Doze

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── Certo, agora a gente só precisa de ervilha congelada, tomate e refrigerante - disse o appa Jin de Woo, segurando a lista de compras com o braço estendido para poder decifrar os rabiscou de Namjoon.

── Está escrito "desinfetante" - corrigiu Woo.

── Ah, é, você tem razão. - Seokjin deu uma risadinha. ── Ia ser bem interessante fazer faxina essa semana.

── Quer seus óculos?

   Wooyoung pegou um desinfetante da prateleira e jogou na cesta.

── Não, ainda não vou admitir a derrota. Óculos me fazem parecer velho - respondeu Seokji, abrindo o freezer.

── Mas você é velho - afirmou Woo.

   Em resposta, recebeu uma pancada fria no braço com o pacote de ervilha congeladas. Enquanto tentava encenar sua morte dramática devido à ferida fatal provocada pelas ervilhas, ele o viu observá-lo. Com uma camiseta branca e calça jeans preta. Rindo baixinho e tapando a boca.

── San - cumprimentou, atravessando o corredor em sua direção.── Oi.

── Oi - respondeu ele, sorrindo e coçando a nuca, como ele imaginou que faria.

── Nunca vi você por aqui antes.

   Aqui era o único supermercado de Seul, minúsculo e escondido ao lado da estação de trem.

── É, a gente costuma fazer compras fora da cidade - explicou.

── Mas tivemos uma emergência leiteira.

   Ele mostrou uma garrafa grande de semidesnatado.

── Bom, se pelo menos você tomasse chá preto.

── Nunca vou passar para o lado escuro da força - retrucou ele, observando o appa de Woo se aproximando com a cesta cheia.

   Ele sorriu.

── Ah, appa, este é o San - apresentou Wooyoung. ── San, este é meu segundo appa, Seokjin mais pode chamar ele de Jin.

── Prazer - cumprimentou San, abraçando o leite contra o peito e estendendo a mão direita.

── O prazer é meu - respondeu Jin, apertando a mão dele.

── Na verdade, a gente já se conhece. Fui o corretor que vendeu a casa para seus pais. Meu Deus, deve ter sido há uns quinze anos. Lembro que você só tinha uns cinco anos na época e sempre usava um macacão do pikachu com um tutu de balé.

   As bochechas de San ficaram vermelhas, e Woo segurou a gargalhada até ver que ele estava sorrindo.

── Dá para acreditar que essa moda nunca pegou? - disse ele, dando uma risadinha.

── É, bom, as pinturas do Van Gogh também não foram apreciadas enquanto ele estava vivo - afirmou Woo, enquanto caminhavam juntos até o caixa.

── Pode ir na frente - ofereceu Jin, apontando para San. ── A gente vai demorar muito mais.

── Tem certeza? Obrigado.

   San andou até o caixa e lançou um de seus sorrisos perfeitos para a atendente, depois colocou o leite na esteira e disse:

── É só isso.

   Wooyoung observou a mulher e viu as rugas se encravarem por sua pele à medida que seu rosto se fechava em uma expressão de nojo. Ela escaneou o leite, encarando San com os olhos frios e nocivos. Ainda bem que olhares não podiam matar. San encarava os pés como se não estivesse notado, mas Woo sabia que ele havia percebido.

   Algo quente e primitivo se atiçou dentro de Woo. Algo que, em um estágio inicial, parecia náusea, mas continuou crescendo e fervendo até chegar a suas orelhas.

── Um wons e quarenta e oito - cuspiu a mulher.

   San pegou uma nota de cinco won, mas, quando tentou entregar o dinheiro, a atendente estremeceu e afastou a mão com pressa. A nota caiu como uma folha outonal no chão, e Wooyoung explodiu.

── Ei! - exclamou, marchando para o lado de San. ── Qual é o seu problema?

── Woo, não - pediu San, baixinho.

── Com licença, Sumin - falou Woo, lendo o crachá da atendente com um tom irônico. ── Eu perguntei qual é o seu problema.

── Eu não quero que esse cara me toque - respondeu a mulher.

── Acho que ele também não quer que você toque nele, Sumin. A burrice pode ser contagiosa.

── Vou chamar o gerente.

── Faça isso. Vou dar a ele uma prévia dos e-mails de reclamação que vou mandar aos montes para a sede do mercado.

   San pós a nota de cinco wons no balcão, pegou o leite e seguiu em silêncio em direção à saída.

── San? - chamou Woo, mas ele o ignorou.

   O appa de Woo deu um passo à frente, com as mãos erguidas, e parou entre Woo e uma Sumin cada vez mais vermelha.

── Calma.

   Woo deu meia-volta, os tênis berrando contra o chão polido.
   Pouco antes de chegar à porta, gritou:

── Ah, Sumin, você devia procurar um médico para tratar essa sua cara de bunda.

   Do lado de fora, ele viu San a uns dez metros de distância, descendo rápido a ladeira. Woo, que não corria por nada, correu para alcançá-lo.

── Você está bem? - perguntou, se colocando na frente dele.

── Não.

   Ele o contornou, com a garrafa de leite gigantesca balançando ao lado.

── Eu fiz alguma coisa errada?

   San se virou, com os olhos escuros brilhando.

── Olha, eu não preciso que um menino que eu mal conheço brigue por mim. Não sou problema seu, Jung Wooyoung. Não faça de mim seu problema. Você só vai piorar as coisas.

   Ele continuou andando, e Woo o observou até a sombra do toldo de um café obscurecê-lo e fazê-lo desaparecer. Parado, ofegante, ele sentiu a raiva recuar em seu interior e se apagar aos poucos.

   Sentiu-se oco quando a perdeu.



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ESTÁ OBRA É UMA ADAPTAÇÃO. TODOS OS CRÉDITOS SÃO DA AUTORA HOLLY JACKSON.

Manual de assassinato para bons garotosOnde histórias criam vida. Descubra agora