Prefácio.

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PREZADO LEITOR,

Por muito tempo hesitei em publicar esta história. Foram oito anos de indecisão, talvez por um pouco de ciúmes da minha parte – um capricho humano que me permiti sentir; ou, ainda, talvez por ter receio de qual seria a reação de Harry Styles ao escutar minha proposta; por ser covarde demais para chamá-lo para conversar sobre esse assunto após tanto tempo sem mantermos contato.

Finalmente, decidi publicá-la em formato de livro, por um motivo bem simples: essa história não me pertence. Nunca coube a mim a decisão de escondê-la ou não do mundo. Essa decisão cabe, unicamente, a Harry Styles. Em função disso, em fevereiro deste ano, optei por compartilhar com ele a ideia que tive: transformar todas as cartas que ele me enviou em 2014, e que com tanto apreço eu guardei no meu armário durante todos esses anos, em uma única coletânea.

Sua resposta não demorou mais de uma semana para chegar até mim. Ele entrou em contato comigo pelo e-mail rapidamente, com sua forma cuidadosa de ser, avisando-me o quanto havia amado a ideia, como adoraria compartilhá-la com vocês.

Por essa razão, peço que não associem meu nome aos créditos dessa história. Ela não me pertence. Não sou narradora, não sou escritora – sequer sou artista. Sou formada em psicologia. Harry tinha consultas semanais comigo no ano de 2014 e, quando precisou viajar naquele verão, me escreveu essas cartas.

Cartas, essas, que agora confiamos a vocês.

Na época em que as escreveu, Harry Styles era apenas um garoto de dezesseis anos. Ele era solitário e ingênuo, apesar de odiar isso. Um menino que queria fazer um ou dois amigos para, dessa forma, se sentir menos sozinho. E surpreendentemente ele ainda é esse mesmo garoto, oito anos mais velho.

Na primeira consulta que Harry Styles teve comigo após sua viagem no verão de 2014, acreditei que ele estaria taciturno. Preparei-me para um silêncio triste, melancólico e prostrado de sua parte – porque, honestamente, não imaginava como ele conseguiria recuperar-se do que viveu em seus meses dourados. Pensei, por um momento, que ele usaria suas palavras mais deprimentes e cortantes e que elas teriam ímpeto de quebrar o coração das pessoas que estão ao seu redor; para que, desta forma, ele se sentisse mais parecido com alguém, com um coração menos destoante de todos os outros que pareciam tão intactos ao seu redor. Mas Harry foi doce, como vinho de cereja.

Ele foi doce porque também há beleza naquilo que todos julgam como feio. Porque há doçura e ternura naquilo que sangra. Porque há amor nas histórias de amor que não dão certo, nas histórias de amor que também soam como uma guerra. Porque há esperança e serenidade nas despedidas, porque há fé no futuro. E Harry Styles soube enxergar tudo isso quando a vida lhe machucou.

O mundo transformou-se para mim a partir desse dia.

Quero que você, prezado leitor, tenha também tenha seu mundo mudado para algo destoante dos corações intactos.
Quero que sinta esse amor, essa guerra.
Quero que quebre e se reconstrua para quebrar mais uma vez.
Quero doçura, quero ternura.
Quero tudo isso várias e várias e várias vezes.

Quero que se lembre de Harry Styles da mesma forma como eu me lembro: doce, como vinho de cereja. Mesmo quando você estiver velho, com olhos decrépitos e cheios de rugas, quando não for capaz de lembrar-se de nada; quando as memórias desse amor estiverem embaçadas e esbranquiçadas. Quando esse momento chegar, você não precisa lembrar da forma como Louis Tomlinson fechava os olhos e inclinava sua cabeça ao soltar uma risada. Ou a maneira carinhosa com a qual eles acreditavam serem um time, juntos. Ou, ainda, a forma como eles continuaram amando um ao outro quando o amor que cultivaram no verão já havia transformado-se em um campo de batalha. Não, você não precisa lembrar-se de nada disso. Eu apenas quero que você ainda se lembre de Harry Styles como alguém doce, terno e raro. Alguém que enxergou beleza na feiura, que encontrou conforto na guerra. Alguém que o mundo machucou, mesmo quando tudo o que ele fez foi ser doce.

À você, leitor, que busca encontrar conforto nestas frias páginas amontoadas, com algumas manchas amareladas e rabiscos feitos em meio à célere vida do jovem Harry: peço que nos perdoem por decepcioná-los e colocá-los em meio a esta confusão.

Não haverá tanto conforto quanto imagina.

Ainda assim, peço que permaneça.
Peço que fique, não vá embora.
Não deixe esse Harry Styles sozinho novamente... Não após ele ter feito um ou dois amigos.
Dê uma chance à história.

Ao final das cartas, você irá entender o porquê delas serem tão especiais para mim – a razão pelo meu temor de maculá-las uma vez que divulgadas para os olhos maldosos do mundo; entenderá o motivo de eu tê-las guardado durante todos esses oito anos e sentir que nunca serei capaz de superar as memórias que elas me contam – mesmo que essa história não me pertença, de fato.

E quando você entender tudo isso, peço que compartilhe sua experiência comigo. Uma troca justa, eu diria. Meu e-mail estará escrito na última página deste livro, logo após a última carta. Me enviem seus pensamentos, escreva-me uma carta também. Toda vida é digna de ser coletada em um livro, eu quero escutar a sua história.

Por fim, para os corações quebrados que, por alguma razão, identificam-se com Harry Styles:

continuem batendo,
continuem quebrando,
continuem se apaixonando.

Vocês contam a história de amor que o mundo inteiro pararia apenas para poder escutar.


Amor,
Francesca Berthold.

[22 de março de 2022.]

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