Capítulo Único

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- Rei, para com isso!! - Kazuki gritava, sentindo sua garganta queimar enquanto aquelas palavras saíam. Já havia gritado tanto naquela manhã que tinha dúvidas quanto à integridade de suas cordas vocais.

Kazuki sentia dores em todo o corpo. Haviam cortes em seus braços, pernas, abdômen... E vários machucados que não cicatrizariam tão fácil na manhã seguinte. A dupla de assassinos tinha noção dos perigos que envolviam ganhar dinheiro por meio de um trabalho como aquele. Ser apanhado em serviço sempre fora um perigo presente na vida dos dois, como se fosse uma pequena voz no fundo de suas mentes, lhes assombrando nos momentos de calmaria. Embora essa possibilidade sempre estivesse ali, se esgueirando pelos cantos entre uma missão e outra e, mesmo que já tenham sido descobertos durante o trabalho antes, nunca haviam tido a infelicidade de serem capturados.

Pelo menos, não até aquela manhã.

Deveria ter sido um trabalho simples, sem muito estardalhaço nem muitas vítimas, mas um pagamento grande quase sempre representa um perigo maior ainda, e nesse ramo a ganância pode custar alguns dedos, membros ou, até mesmo, a vida.

Kazuki tinha esperanças de conseguir escapar da captura, mas a maior parte de suas esperanças se transformou em um sopro de desespero no instante em que os membros da antiga máfia lhe conduziram até uma sala. Estar preso em um cômodo nem de longe seria um problema, mas passou a ser uma cilada gigantesca no instante em que o loiro percebeu que Rei também tinha sido apanhado e agora tinha sangue no rosto, costelas quebradas e ambas as mãos amarradas em uma grade presa na parede.

Kazuki também fora amarrado, e ficaram de frente um para o outro de maneira a evitar que pudessem soltar as amarras alheias. Os integrantes da máfia os largaram sozinhos no cômodo e, mesmo sem terem lhes dirigido uma só palavra desde a apreensão, Kazuki e Rei sabiam que estavam naquela sala apenas esperando para morrer.

Kazuki sentiu algo se partir em seu íntimo ao ter que ver Rei metido naquelas condições. A promessa que mantinham nunca havia sido quebrada antes... Deveriam cobrir um ao outro e, caso um dos dois fosse capturado, a missão ficaria em segundo plano; se salvarem e permanecerem juntos sempre fora mais importante. No entanto, agora estavam presos, surrados e sangrando no chão de um porão da máfia, não podiam mais salvar um ao outro.

Seria aquele o fim? Seria questão de tempo até que conhecessem a face da morte e não pudessem fazer nada senão gritar por uma ajuda que nunca viria?

Rei sequer tentava lutar. Seu corpo doía de uma maneira que não sentia a anos, e sabia que sua resistência física não era tão boa em função dos traumas, cicatrizes e ossos quebrados da infância. Havia sido capturado primeiro, e agora que Kazuki também havia sido apanhado, Suwa já havia desistido de toda e qualquer esperança que pudesse ter em sair daquele lugar com vida. Estavam condenados a morrer, mas, se suas vidas acabariam em questão de minutos, o moreno ainda tinha uma última coisa que queria fazer antes que fosse tarde demais.

- A-Ainda tem uma coisa... - ele dizia com dificuldade, tentando chegar para frente apenas por mais alguns centímetros. As amarras da corda marcavam seus pulsos, deixando machucados evidentes por conta dos nós apertados e falta de elasticidade da corda. O atirador sabia que não conseguiria chegar tão à frente quanto gostaria, mas Kazuki parecia tão próximo... Se conseguisse se aproximar só mais alguns centímetros...

- Para de se mexer, você só vai se machucar!! - Kazuki gritava de volta. Não aguentava ver o rapaz naquele estado e não havia nada que pudesse fazer para melhorar as coisas, mas não queria que Rei continuasse se arrastando; sabia que aquelas amarras machucavam. - Chega, Rei!! A corda não vai soltar!! - o loiro continuava falando, se projetando para frente, na esperança de que o atirador lhe escutasse.

Arrependimentos (KazuRei)Onde histórias criam vida. Descubra agora