Marta tinha sido convidada pelo seu primo e sua namorada para ir a um baile de carnaval, e apesar de ter inúmeras razões para recusar, ela decidiu aceitar o convite. Relembrava-se da última conversa com seu primo, mas o desejo de se divertir superava qualquer hesitação. Ela sabia que não podia deixar a oportunidade escapar, mesmo com um pressentimento sombrio que a assombrava.
Uma hora depois, ela estava pronta e maquiada, vestida como uma enfermeira sanguinária e mascarada. Foi o máximo que conseguiu improvisar, com sua formação em enfermagem. Ela adicionou uma minissaia branca, camiseta, jaleco e uma máscara japonesa branca e sem expressão. Para dar o toque final, derramou tinta guache vermelha estrategicamente sobre a roupa e prendeu o cabelo num coque austero.
Seu celular vibrou, revelando uma mensagem do casal, avisando que já estavam esperando por ela lá embaixo. Marta deu uma última olhada no espelho, pegou suas coisas, colocou-as em sua pequena bolsinha bordada para dinheiro e o celular, e saiu, trancando a porta do apartamento. Uma sensação de inquietação a acompanhava.
Assim que avistou o carro do primo, acenou e correu na direção deles.
— Só vocês dois mesmo para me convencerem a sair de casa!
— Larga de ser boba e entra aí, Martinha!
Patrícia era uma garota simpática que sempre irradiava alegria e bom humor. Marta adorava ver como os olhos de seu primo brilhavam quando estava com a namorada. Ela entrou no carro, sentando-se no banco de trás, começando a se animar com a ideia da noite.
— Se ficar chato, volto para casa e nunca mais falo com vocês dois, hein! — Riu, prendendo o cinto de segurança.
Assim que chegaram ao local, puderam ver o aglomerado de pessoas na entrada e a música de marchinha preenchendo o ar. Ricardo desceu do carro e esperou pelas duas, todo animado, pronto para entrar:
— Animadas, gatinhas? Pois eu estou! Vamos!
— Mas que animação toda é essa, Rick?
Patrícia fingiu um ar de desdém, colocando as mãos na cintura e rindo, mas logo depois se juntou à diversão. Marta enlaçou o braço no dele e se posicionou na fila.
Dentro do salão, estavam envolvidos pela decoração extravagante, com máscaras de Veneza, brilho, cores vibrantes e confetes espalhados pelo piso encerado. Patrícia estava deslumbrante como uma bailarina toda em tons de rosa, com uma máscara enfeitada com pedrinhas da mesma cor, enquanto Ricardo ostentava sua fantasia de pirata mascarado. O trio se entregou à música e à dança, depois de pedir suas bebidas.
O tempo passava, e Ricardo avisou que iria ao banheiro, assegurando que não demoraria. Marta e Patrícia optaram por se sentar e esperar por ele. No entanto, um olhar preocupado de Patrícia em direção a um trenzinho de foliões em formação indicava que algo estava errado.
— O que aconteceu, Patrícia?
— Eu... Não é nada, só acho que minha pressão caiu.
— Quer que eu verifique sua pressão arterial?
— Não precisa, Martinha! Já passou! — Sorriu, mas sua expressão traía preocupação.
Marta sabia que era uma desculpa, mas decidiu não pressionar. Em vez disso, mudou de assunto, mencionando que Ricardo deveria estar enfrentando uma fila enorme no banheiro, provocando risadas e descontraindo o ambiente.
No entanto, meia hora depois, Ricardo ainda não havia voltado, e a inquietação começou a se transformar em angústia.
— Rick está demorando muito...
— Deve ser a fila do banheiro! Com tanta cerveja, deve estar gigantesca!
Marta sorriu, mas sua intuição insistente a alertava de que algo estava muito errado. Decidiu esperar um pouco mais, mas quando a ausência dele se tornou mais evidente, ela finalmente se levantou.
— Onde você vai, Marta?
— O que quer dizer, para onde vou? – Ela ergueu os braços. — Vou procurar meu primo!
— Eu vou com você!
A ansiedade de Patrícia era palpável, e Marta percebeu que a preocupação era compartilhada. Elas decidiram que era mais seguro não se separar, mesmo que o baile estivesse quase no fim.
Juntas, foram em direção aos banheiros, atravessando o salão, ainda cheio de casais e foliões animados. As duas chegaram até um espaço mais calmo, um jardim que separava o salão dos banheiros, além de um local com espelhos e poltronas para as mulheres retocarem a maquiagem e descansarem. O ar fresco da madrugada penetrou na pele quente de Marta, fazendo-a se arrepiar, como um presságio sombrio.
Quando chegaram lá, um homem de macacão se adiantou para informá-las de que aquele era o banheiro masculino, antes que continuassem:
— É que meu namorado, primo dela, foi ao banheiro umas duas horas atrás e ainda não voltou.
A ansiedade de Patrícia agora era óbvia, e Marta tinha certeza de que ela também estava preocupada.
— Mas onde ele poderia estar, Marta?
Marta tentou organizar seus pensamentos enquanto alternava o olhar entre as duas.
— Por que vocês não procuram na parte de cima? Algumas pessoas vão para lá para fumar ou namorar, se é que me entendem... — O homem piscou na última frase, apontando na direção da escada caracol.
Patrícia se afastou irritada, indo em direção à escada, mas agora Marta notava claramente o medo em seu rosto. Marta a seguiu, rezando para encontrar Ricardo e dissipar o pressentimento sombrio que a envolvia.
Quando chegaram ao topo da escada, o ambiente estava deserto. O chão estava coberto de confetes coloridos, copos descartáveis amassados e algumas máscaras de papel espalhadas. Um sofá em forma de ferradura estava de costas para elas. À medida que se aproximaram, avistaram alguém deitado nele. Era Ricardo.
— Olha só! Ele deve ter bebido até não aguentar mais e se jogou aqui!
Patrícia berrava, furiosa, começando a cutucá-lo com violência, chamando-o aos gritos.
— Calma, Patrícia! Ele deve ter ficado cansado e...
Marta não conseguiu terminar a frase. Assim que Patrícia parou de sacudi-lo, ele caiu do sofá, rolando para o chão, com um punhal enterrado no peito, de onde um filete de sangue fresco escorria.
Patrícia gritava, e Marta estava paralisada de horror. Era como se um pesadelo terrível tivesse se tornado realidade diante delas.
Ricardo estava morto.
(991 palavras)
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ASSASSINATO NA FOLIA
Short Story-ˋˏ ༻✿༺ ˎˊ- Todos dançavam ao som de carnavais passados. A folia, os confetes e as risadas ... Tudo enchia o ar com uma alegria contagiante. Alheios ao que acontecia fora do salão. Ninguém imaginava que havia um homem sem vida, numa noite tão col...