hurt

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19h08

Agradeceu por Park morar perto do hospital, teria que passar mais uma noite no lugar. A viagem era silenciosa e torturante para Jeon, ele estava ansioso, apertava o volante com força, a mulher não percebia, estava ocupada digitando algo no celular, Jungkook sentia sua ansiedade piorar a cada som da unha de Park batendo contra o ecrã do aparelho.

— Como consegue? — murmurou, apoiando seu cotovelo na porta do carro, olhando o trânsito, que os prenderia ali por alguns agonizantes minutos.

— Hm? — guardou o celular e o olhou atenta com seus olhos escuros e puxados.

— Como conseguiu entrar dentro desse carro e aceitar meus agradecimentos como se merecesse?

Ela ficou em silêncio e desviou o olhar quando sentiu o fitar sério de Jeon, ele estava com as mesmas impressões de raiva do dia que discutiram, talvez pior. Se sentiu apavorada quando se deu conta de que poderia ser presa dentro do carro pelo homem, mas não tinha certeza se ele seria capaz de o fazer.

— Eu vou de ônibus. — tirou o cinto de segurança e antes que pudesse abrir a porta, foi segurada pelo antebraço sem muita força, porém, que foi o suficiente pra fazê-la parar e segurar a mão de Jungkook, o afastando co certa agressividade. — Porra, meu braço!

Ele se lembrou do roxo.

— Desculpa, de verdade, eu esqueci... — imediatamente tirou seu cinto e se aproximou com os olhos arregalados e a boca aberta, assustado por tê-la machucado. Pegou a mão da mulher, levantando a manga de sua blusa enquanto continuava pedindo desculpa repetidamente. — Eu não medi força, não queria te machucar!

— Tudo bem, Jungkook. — puxou seu braço antes que ele pudesse visualizar o machucado. — Não toca mais em mim.

Ele sentiu atravessar por si uma vontade imensa de chorar, estava petrificado, a única coisa que seu cérebro conseguiu fazer foi trancar as portas e colocar o cinto, ouvindo algumas buzinas atrás do carro.

— Você não vai descer até me mostrar esse braço.

Engoliu a angustia que o invadira e falou sério, sem esperar uma resposta e partindo com o carro, parando rapidamente atrás de outro, e estacionando o automóvel. Se virou para a Park, ambos estavam sem cinto, ela escondia o rosto com as mãos e respirava fundo, parecia muito estressada.

— Park. — a chamou baixo, e estendeu a mão tatuada, ela queria rir de nervoso por ter sido tão burra ao ponto de não conseguir esconder uma mancha. O assunto anterior deletara da mente de Jungkook. Desabotoou a manga da blusa e ergueu, mostrando a ele contragosto, não conseguia o olhar nos olhos. O roxeado estava mais forte e maior, cobria uma parte considerável de seu antebraço, mas dava pra esconder facilmente. Quanto mais ele olhava, mais assustado ficava e se queationava como a garota conseguia movimentá-lo, pegar peso ou algo parecido. Hesitante, aproximou seu indicador da mancha, tocando o redor dela, enquanto a outra mão segurava a mão dela. Ela quase gemeu de dor quando sentiu o toque na lesão, mas não permitiu que o som saísse de sua boca, ela tinha os olhos fechados e engoliu em seco, Jungkook a observou.

— Vou te levar comigo ao hospital, não reclame ou eu denuncio. — abotoou a manga cuidadosamente e devolveu o antebraço a ela, novamente colocando o cinto e vendo ela fazer o mesmo sem questionar, deu graças a deus por isso. — Não sei qual desculpa vai usar com o médico, só um idiota não reconheceria uma agressão física como essa.

Era como se Jungkook tivesse sentido ódio durante todo o dia, ou toda a semana, ódio de si, dos seus atos, de todos os últimos acontecimentos, da mentira de Park, e agora de seja lá quem a agrediu. Daquela vez era um sentimento confuso e misto, era ódio, tristeza, e pavor. Estava apavorado, tinha medo de perguntar pra mulher como ela ganhara aquele grande hematoma, tinha medo de qualquer pergunta que fosse feita pra ele ou por ele.
Ela foi para a consulta sozinha, Jungkook se preocupou apenas em pagar. Preferiu não visitar seu pai naquele momento, tinha medo da mulher ir embora sem avisar, não iria arriscar, mas perguntou pelo velho Jeon, estava melhorando aos poucos, receber a notícia de que Butter se preparava para a cirurgia o alegrou de tal maneira, que teve uma crise de ansiedade leve, que foi controlada com calmante. Ainda teria que conversar com Park sobre a doação.

— Jeon Jungkook, já o conheço. — a enfermeira apareceu sorridente como sempre. "Se eu fosse bem pago como ela, também estaria sorridente dessa forma" Jungkook pensou.  — Pode te fazer algumas perguntas?

Tinha a Park ao lado, com uma compressa no braço e o que parecia ser uma pomada na mão. Ótimo, estava resolvido. 

— Claro. — concordou sem delongas, atento ao que a mulher dizia. Era palpável a vergonha da garota, estava mais fragilizada que nunca, Jungkook a conhecia, então poderia imaginar como ela se sentia inferior naquele momento.

— Nyala havia me dito que o senhor quem a trouxe, certo?

Estava tão acostumado a chamá-la de Park, que até se esquecera do primeiro nome da mesma. Ele assentiu.

— Em casos de hematoma, é necessário que sejam sinceros. Inúmeros casos de agressão chegam aqui, todos os dias, as mulheres costumam encobrir o marido por medo, e aqui nós temos um projeto que busca ajudar essas vítimas. O senhor pode nos confirmar que o caso de Park não foi agressão física?

A olhou, vendo os olhos dela nadarem em lágrimas, sem derrubar uma única gota, mas implorava a ele algo que ele sabia bem o que significava. Era muita coisa pra sua cabeça.

— Trabalhamos numa clínica veterinária, é puxado. — riu nervoso, puxando seus cabelos pra trás. — Foi um acidente com um cachorrinho meio agressivo.

Park voltou a dar ar aos seus pulmões.

— Claro, ela tinha citado. — sorriu simpática, acariciando o ombro da mulher de leve. — Era só isso, obrigada.

Se curvou e saiu, deixando ambos ali parados. Era estranho ver Park daquela forma tão enfraquecida e inferiorizada, como se fosse quebrar a qualquer momento, segurando o braço ferido e encarando o chão, como se esperasse Jungkook dizer algo, mas ele nem sequer tinha coragem. Se conheciam há quase um ano, se viam todos os dias e se comunicavam brevemente durante muitos dias, praticamente todos, mas qualquer assunto que passasse do tópico clínica veterinária, ou as farpas que trocavam propositalmente e naturalmente, era ambíguo e surpreendente para todas as partes. Era como se todo o hospital a volta deles parasse, andasse em câmera lenta, e aqueles minutos poucos que ficaram em silêncio eram eternidades, como se o silêncio e olhar de Jungkook a machucasse bem mais que um forte apertar no hematoma. Esperava ouvir mais alguma frase ousada e egoísta do homem, como um "você me deve uma", ou voltasse a sua promoção completamente desmerecedora. Nada disso aconteceu, apenas um aproximar, onde Jungkook passou seu braço  pelos ombros da mais baixa, a trazendo pra perto de si e sussurrando no ouvido da mesma.

— Vou te levar pra casa.

FLAMINGOS ❥ JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora