A caçada

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O céu outrora noturno agraciado de estrelas agora dava espaço á alvorada, abaixo dos maruis o mar se mantinha calmo, diferente de Neteyam, que por sua vez havia acordado horas antes do amanhecer, ansioso por seu compromisso com o Olo'eyktan.

Com medo de se atrasar, se dispôs a arrumar seu equipamento de caça e de seu irmão, para que tivesse certeza que não faltaria nada. Conhecia bem a cabeça de vento de Lo'ak e preferiu não arriscar, conferiu tudo duas vezes e então quando terminou foi até a cozinha preparar um chá que havia aprendido com sua avó Mo'at, para tentar se acalmar, já havia caçado centenas de vezes e sabia que o nervosismo não faria nada além de atrapalhar. 

Tratou de deixar a bolsa de seu irmão perto da porta, colocou a sua nas costas e partiu em busca de seu Ikran, fazia algum tempo desde que voou pela última vez. Não demorou muito para adentrar na singela floresta litorânea e vocalizar para o animal, que depois de alguns chamados apareceu batendo suas asas fortes e imponentes, o olhar que Neteyam poderia jurar que lia sua alma. O rapaz se pegou observando as cores chamativas de sua montaria, nunca cansaria de admirar o quão magnífico o animal era e o quanto ele o fazia lembrar de casa, de certa forma sempre teria um pedaço de casa consigo.  Sorriu com o pensamento, não tardando para acariciar o Ikran e fazer a ligação.

Já montado na criatura, Neteyam respirou fundo sendo imitado pelo fiel companheiro, sentiu a força de suas asas quando pediu para que levantasse voo. A medida que cortava as nuvens em alta velocidade se sentia cada vez mais livre, para o rapaz era impossível conter o sorriso quando o Ikran fazia mergulhos e algumas outras manobras no céu da aurora, faltavam algumas horas até o encontro com Tonowari e o grupo de caça então pôde aproveitar da companhia de seu irmão de espírito.

Quando ambos se cansaram das manobras aéreas, decidiu que era melhor pousar na praia para que pudesse descansar com o companheiro.
Assim desceu do animal se sobressaltou com o barulho de palmas atrás de si, puxou rapidamente seu punhal e apontou para a direção do som que descobriu ser causado por Ao'nung, esse por sua vez levantou as mãos á altura do rosto em sinal de rendição com um largo sorriso, fazendo Neteyam guardar novamente a arma.

"Bom dia Ao'nung, você me assustou. O que tá fazendo aqui?" perguntou genuinamente curioso, não era comum alguém vir até aquela praia distante tão cedo.

"Bom dia Sully. Perdi o sono, decidi vir esperar meu pai e os outros aqui, acabou que ganhei um espetáculo aéreo surpresa, devo admitir que você é muito bom no ar." Ao'nung admitiu, as palavras saiam com tanta facilidade de sua boca que ambos os herdeiros estranharam. Era de conhecimento geral que tal ato não era do feitio do rapaz, mas Neteyam resolveu não questionar.

"Não achei que teria alguém aqui á essa hora, mas obrigado, algum dia eu posso te ensinar, tenho certeza que você vai adorar." não era o na'vi mais próximo do rapaz, mas achava que uma experiência tão fantástica quanto voar deveria ser compartilhada. Fez a oferta com um sorriso acolhedor ao mesmo tempo que fazia carinho no pescoço do grande animal.

"Ah sim, mas não acho que seja muito meu forte." não queria transparecer, mas sentia frio na barriga só de pensar em estar tão longe do solo, sentia um medo terrível da ideia de voar.

"Qual é Ao'nung, se eu aprendi a ficar tanto tempo debaixo d'água você aprende a voar, acredite, eu também achava impossível." sorriu ao lembrar dos seus primeiros dias no recife, quando mal conseguia ficar dois minutos submerso.

"Isso é verdade, mas você teve um excelente professor, aliás de nada." se vangloriou sorrindo sendo acompanhado por Neteyam.

"Um excelente e humilde professor." revirou os olhos fingindo insatisfação,  percebeu que havia pego a mania de Kiri.

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