encontro

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Da última vez que tiveram um encontro de família daqueles, Morpheus havia sido convidado pelo Destino. Enigmático como sempre, o homem magro e alto, coberto por uma capa escura amarronzada, olhava para todos os irmãos com consciência das motivações de Sonho. Carregando um gigantesco livro com capa de couro escuro que guiava o futuro, Destino sempre estaria presente nessas ocasiões.

Morpheus encarou os olhos sem cor de seu irmão. Por causa de um simples convite, sua última reunião de família acabou com o próprio Inferno e Lúcifer destituindo-se de seu cargo. Não foi uma experiência muito interessante, mas com certeza, chegou a um final complexo e curioso.

– Acho que é a primeira vez, em todas estas Eras, que estou aqui, em uma reunião com vocês, por causa de Morpheus – Desejo falava com sua voz sedutora e aveludada, preenchida com humor curioso.

Com o cabelo louro curto e um sorriso enorme e travesso, Desejo era tudo aquilo que poderia ser interessante em alguém. Também se transformava a cada momento, tornando-se aquilo que preenchia suas preferências. Mas uma coisa era padronizada: seus trejeitos curiosos e sedutores, sexy em todo momento, e os olhos, de um tom dourado hipnotizante.

– Não posso negar que acho isso bem interessante – Morte comentou, porém, em seus olhos, havia uma pontada de conhecimento sobre o que o levou a isto.

– Gira, gira, gira, gira, mundooooo – Delírio saltitava com olhos loucos e movimentos perigosos. – A rosa que caiu do mundo tornou-se mel e se foi. O paraíso alcançou o foguete e desfez em pó o seu sorriso.

– Diga-me querido irmão, o que o leva a nos juntar? Saudades? – perguntou Desejo com sua voz melosa.

Morpheus estava sentado de forma rígida, com a postura séria e tão reta quanto a de um rei. Ele observava todos ao entorno da mesa com raiva, curiosidade e interesse. Sim, ele desejava aquele encontro, mas acima de tudo, queria saber onde estava Zoe. 

– Conheci uma nova perpétua – disse ele, em um tom de voz tão baixo quanto um sussurro, mas tão potente e impactante que todos os seus irmãos se calaram. Por um segundo, até o próprio Destino franziu as sobrancelhas.

– Isso é impossível. Perpétuos não nascem há Eras – Desespero sussurrou com sua voz pegajosa e nojenta.

– Ora, como você a conheceu, Morpheus? – questionou-o Desejo, apoiando-se na mesa com os cotovelos enquanto as mãos seguravam o queixo e o rabo balançava de um lado para o outro.

– O nome dela é Zoe. Ela me convocou, em um sonho. Curioso, a levei para meu castelo para descobrir mais sobre sua vida e mortalidade – O Rei dos Sonhos e dos Pesadelos começou a contar. – Com o tempo, comecei a perceber algumas situações diversas junto a ela. Luzes fortes e conexões com o mundo exterior. Porém, tudo se alterou quando encontrei o seu físico, de carne e osso.

– Mas se você desfez a conexão entre os dois, provavelmente nossa querida irmãzinha já estava sabendo de tudo – Desejo afiou-se em sua interpretação, olhando de forma julgadora para a Morte.

– Eu contatei minha irmã, sim, enquanto buscava por respostas, Desejo – retrucou Morpheus, com os olhos de gelo começando a brilhar. – Porém, depois de entender mais seus poderes e chegar a uma conclusão, ela simplesmente desapareceu de meus domínios. 

– Então, você conheceu e perdeu uma possível perpétua? – Desespero comentou, rindo em gorgolejos excrucitantes.

– Sim – a boca delicada de Morpheus franziu em uma expressão de nojo.

– Quando a conheci, não fui buscá-la como uma alma recém chegada. Na verdade, me senti invocada da mesma forma que Morpheus fora antes. Ela é poderosa, inversa a mim – Morte se posicionou, fazendo o assunto continuar.

– Como se fosse a Vida... – Destino pensou alto, intencionalmente. O olhar brilhando mirado no horizonte.

– E por que devemos ajudá-lo a encontrá-la Morpheus? Por que correr atrás de alguém tão poderoso como nós. Sabe bem como sempre fomos livres em relação a isso. – Desejo comentou com desdém. Então, em poucos segundos, estava passando as unhas afiadas suavemente pelo pescoço de Sonho, por trás de sua cadeira.

– Ah... é claro – os olhos dourados aumentaram em uma excitação, sorrindo com as presas brilhantes a mostra. – Desejo, paixão... amor. Quem diria, não é mesmo, irmãozinho? Novamente seus amores caindo em desgraça.

Morpheus agiu rápido, agarrando Desejo pelo pescoço e o prensando na parede com força. Havia ódio em seu olhar, mas também mágoa. O espaço começou a tremer como se houvesse um terremoto.

– Eu já lhe disse o que poderia acontecer se você mexer comigo novamente, não lhe disse, Desejo? – O Rei dos Sonhos e dos Pesadelos estava mais estressado do que nunca. O ódio saía de sua boca como veneno.

– Ei! Chega vocês dois! – Morte gritou, colocando-se entremeio.

– É, chega – Desejo disse, esganiçado.

– Morpheus, por favor – Morte suplicou, colocando a mão sobre o antebraço de Morpheus.

Então, Sonho o soltou, fazendo com que Desejo caísse no chão como um gato. O chão, entretanto, não tinha parado de tremer ainda.

– Pode parar de desmontar o nosso espaço, por favor? – Morte lhe pediu.

Foi então que Morpheus percebeu o que estava acontecendo ao seu redor. As colunas do salão estavam prestes a ceder e, apesar de todos os presentes naquela sala serem imunes a qualquer ferimento tão estúpido quanto alguns destroços, o que mais os preocupava era o responsável com poder suficiente para fazer aquilo acontecer.

– Não sou eu – disse ele, com as sobrancelhas franzidas, fitando sua irmã e então olhando em volta.

– Mas então, quem...? – alguém sussurrou, sem obter resposta.

Uma claridade começou a surgir no centro do salão, tão brilhante quanto um pequeno sol. Intensa, poderia cegar qualquer mortal que a observasse, queimando suas retinas. Tão forte quanto o poder que corria nas veias de todos os perpétuos que estavam ali reunidos. E ela foi aumentando até que não houvesse nada além da mais pura luz, branca, intensa e poderosa, que só poderia pertencer a um único ser daquele universo.

– Olá, meus filhos – disse o Criador. 

 

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A Senhora dos Despertos | Fanfic Sandman +18Onde histórias criam vida. Descubra agora