– Acho que pode dar certo meninos – Alison comenta empolgado no fim da aula. – Podem fazer um slide e um documento com os detalhes para eu apresentar amanhã ao Conselho? Eu mesmo faria, mas tenho tanto trabalho, e vocês têm todas as informações.
Sinto meu sorriso ficar um pouco azedo.
– Claro, eu faço. – Eu que propus, eu farei. Mais um trabalho. Eba! Ao menos estamos nos primeiros dias de aula, então não há muitos deveres.
– Combinado, o meu e-mail vocês já sabem. Só mandar os arquivos por lá, até mais.
Alison sai da sala, nos deixando sozinhos até o próximo professor entrar. Por Deus, parece que as aulas não terminam nunca. Com 7 aulas por dia, sinto meu cérebro fritando aos poucos. Ainda faltavam mais duas.
– Mais duas aulas ainda. – Tobias fala, praticamente lendo meus pensamentos, enquanto passa a mão na testa. – É de matar nesse calor de fevereiro. Usar essa farda nesse clima deveria ser proibido, devíamos ser liberados para usar o uniforme de educação física nos dias quentes.
– Também acho. Podemos tentar conversar com o Conselho e a Diretoria sobre isso, clamar por nossos direitos!
– Arthur, você já não fez isso ano passado? – Denis pergunta.
– E no ano anterior? – Ítalo interfere. – O pai do Denis está a um passo de nunca mais deixar você pisar na casa dele se continuar com essas ideias de "mudanças radicais" para a Solidum Numus.
– Nah, meu pai deixa eu fazer basicamente qualquer coisa depois da transição. Ele se sente meio culpado. Então eu aproveito disso. Mas de verdade, Arthur, não se sobrecarregue tentando mudar o mundo, principalmente, este lugar. Não vale a pena. E conversa comigo depois da aula, que eu te ajudo a montar a apresentação.
Tobias e Ítalo também se prontificam a ajudar.
– Valeu, galera.
***
Após mais xícaras de café que minha mãe deixaria eu tomar caso ela estivesse aqui e não em outra cidade, uma partida de Among Us para descontrair com os meninos e uma dor de cabeça depois de ficar muito tempo na tela do computador, terminamos a apresentação do Programa de Música para amanhã.
Foi árduo e dolorido acatar com tudo que eles poderiam reclamar, porém o trabalho estava bem feito, e enviei agora mesmo para o e-mail do Alison. Era quase meia-noite. Fiz uma careta assim que vi o horário, porém já havia enviado o arquivo. Ele só nos daria uma aula amanhã no fim do dia, o restante ele ficaria de plantão na sala dos professores, então ele teria tempo. Assim eu esperava.
Sinto meu estômago roncar, pedindo por uma comida que ainda não ficara pronta.
Meu irmão, André, cozinhava enquanto meus pais aproveitavam a aposentadoria deles em um sítio aos arredores da cidade. Era desconfortável e confortável dividir a casa com o André. Primeiro porque ele era um porco, e segundo porque ele não aceitava que ele era um porco.
Desço as escadas, sentindo o cheiro do strogonoff no ar, minha boca salivava.
– Arthur, tá pronto! – Ele me grita, mas já estou lá embaixo.
– Cheguei.
Nos servimos e comemos em silêncio, enquanto ele mexe ativamente no celular. Sinto o impulso de perguntar como foi o trabalho hoje, como foi o dia do meu irmão, mas algo dentro de mim, me reprime, então só como em silêncio, e mexo no celular às vezes, assim como ele.
Olho para a enorme louça suja, que havia se acumulado do café, almoço e jantar.
– Cara, eu vou lavar isso amanhã. Tô muito cansado. – Aviso a André.
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Sociedade Secreta da Música
Teen FictionApós o banimento das aulas de Artes no colégio militar Solidum Numus, Arthur, Denis, Tobias e Ítalo decidem tomar providências. Sejam elas pela revolução ou pela música.