– Eu não queria falar nada, mas eu queria muito, muito mesmo, cagar agora.
– Ítalo, não é o momento! – Eu repreendo meu amigo.
Eu, Ítalo, Denis e Tobias estávamos andando procurando a parte do muro da escola que era baixo em que íamos pular.
– É porque eu estou nervoso, porra!
– Eu também, mas segura isso, lá dentro tem banheiro.
– Ok. Quem é o mais leve de nós e vai pular o muro e tentar abrir o portão do estacionamento? – Tobias pergunta.
Eu olho em volta para os meus amigos. Tobias era o mais parrudo de nós, então não. Ítalo era magro, porém bem alto. Sobrava eu e Denis, que tínhamos quase a mesma massa corporal, magrelos mas com potencial para ter músculos se tivéssemos uma frequência boa na academia.
– Não olha para mim, eu já consegui as chaves. – Denis joga as chaves para mim.
– Odeio vocês, odeio esse plano, odeio a minha vida. – Reclamo enquanto Tobias e Ítalo me dão pézinho para eu me jogar em direção a minha morte.
Secretamente, eu também estava morrendo de vontade de cagar, estava suando frio, com um medo surreal de ser pego e destruir toda a minha vida, mas era por uma boa causa, certo? Meu estômago embrulha lembrando das mentiras que falei para passar a noite fora, que íamos estudar na casa do Ítalo. Era algo comum eu passar a noite com os meninos, e eles irem lá para casa também, mas eu odiava mentir o lugar em que estava para minha família por questões básicas de segurança.
O que André falaria se ele soubesse o que estou indo fazer agora? O que meus pais falariam? O mesmo discurso de sempre, que deveríamos escolher certo nossas batalhas, que a vida era assim, que o mundo era injusto (racista) e que tínhamos que seguir em frente sem causar maiores problemas.
Eu sempre odiei esse discurso, mas no fundo, sabia que era verdade. Rebeldes e revolucionários não venciam mais nenhuma batalha desde a Revolução Francesa. As ditaduras que vencemos, felizmente, com muito ardor, ainda tem resquícios espalhados por aí, olha a quantidade de militarismo que estamos tentando combater até hoje. É uma merda.
Isso me dá um gás para pular o muro, deixando meu medo de altura de lado, e colocando uma dor de joelho na minha agenda. Vou até o portão do estacionamento, e não encontro nem uma alma viva, quase tenho medo de esbarrar com um fantasma pelo abandono evidente do local durante a noite. Pareço entrar em uma realidade paralela ao ver o colégio de madrugada.
Abro o cadeado com uma facilidade alarmante e chamo meus amigos.
– Primeiro passo: INVASÃO. Check! – Tobias risca algo no seu bloco de notas.
– Apenas você traria um bloco de notas para invadir e vandalizar a escola. – Denis zomba.
– Sou organizado.
– Vou ao banheiro. – Ítalo corre até o vestiário, pois estávamos próximos da quadra – Já volto! – Ele grita e Tobias falta matá-lo.
– Eu vou atrás dele. Eu encontro vocês no laboratório – Tobias corre atrás de Ítalo tentando fazer o mínimo de barulho possível, apesar de estarmos distantes da portaria.
– Realmente não há câmeras de segurança?
– Não temos dinheiro nem para cortinas, Arthur. – Denis me responde – Não faço ideia do que acontece com o caixa da escola, mas coisa boa não deve ser.
– Já tentou investigar?
– Bom, vocês estão gostando que eu banque o Sherlock Holmes, então talvez eu faça isso mesmo.
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Sociedade Secreta da Música
Teen FictionApós o banimento das aulas de Artes no colégio militar Solidum Numus, Arthur, Denis, Tobias e Ítalo decidem tomar providências. Sejam elas pela revolução ou pela música.