ADIVINHA O AMOR

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A NOITE ESTAVA extremamente bonita. A Lua e as estrelas estavam ainda mais iluminadas por causa do horário tardio. A garota estava nervosa e podia sentir o corpo estremecer ao entrar na rua de casa. Era chegada a hora de despedir-se do garoto que ela amava. Era assim durante os cinco dias da semana que tinham de ir para a escola. Por um lado, ela adorava esse momento, pois era a única hora que os dois podiam ficar de fato sozinhos, mas, por outro, também era o pior momento, pois o tempo até chegar ao portão da casa dela não passava de cinco minutos em passos lentos. Ela estava se sentindo uma tola por ficar tão nervosa, mas não podia evitar. Havia tomado uma decisão, era esse o momento. Tinha de fazer logo isso.

— E então...? — Ela se adiantou, puxando o assunto.

Ele não olhou para ela, apenas continuou andando, lado a lado.

— E então o quê?

— Hoje é o último dia, não finja que não sabe. Vamos, quem é ela? — As mãos da garota estavam suando.

Os dois já estavam nesse jogo de adivinhação há pouco mais de duas semanas. A garota não aguentava mais esperar, apesar de a ideia ter partido dela. Ele apenas concordou.

— Está bem, pode começar com as perguntas — o garoto assentiu, ainda olhando para a frente e andando.

A garota tinha certeza de que os olhos dele brilhavam.

— Ok, então. Como ela é? Primeiro, a cor dos olhos. — Ela sorria.

— São escuros — respondeu, simplista.

— Cabelos?

— Curtos, lisos e de cor escura também. Castanhos, para ser mais específico.

O coração da garota saltou com a descrição.

— Bom, o que você mais gosta nela?

— Gosto de tudo, mas, em especial, dos olhos. Amo o olhar dela. Deixa-me desconcertado. — Ele riu um pouco.

— Ah, é mesmo? — Ela também riu de modo leve. — E como você começou a gostar dela? — A garota sentia todo o sistema nervoso acelerado e pulsando sob cada lugarzinho da pele.

Ele ficou em silêncio por um minuto, tempo suficiente para chegarem até o portão da casa dela. Pela primeira vez naquela noite, ele se virou para ela e a olhou dentro dos olhos. Um sorriso bobo brotou lentamente nos lábios dele.

— Por que esse sorriso? — ela perguntou, abaixando os olhos, envergonhada.

Ele ficou sem saber o que responder, mas, de repente, ocorreu-lhe uma boa desculpa:

— É que eu estava me lembrando de como comecei a gostar dela. Da garota, você sabe. — E abaixou os olhos também.

— E como foi?

— Rápido.

Ela riu, pedindo com o olhar para que ele explicasse.

— É sério, foi incrível. Escuta só. Lá estava eu, entrando na minha nova sala de aula, morrendo de vergonha e pensando como seria ficar ali por um ano inteiro, com pessoas desconhecidas, quando me sentei, olhei para o lado e... lá estava ela. Juro que não conseguia parar de olhar para ela nem por um segundo. Era tão linda... Tão delicada... Tão perfeita. A única coisa que eu sentia era que precisava protegê-la, ficar perto dela. — O garoto continuava com o mesmo sorriso bobo nos lábios, encarando a garota que ele acompanhou até o portão de casa durante um ano.

— Uau... — A garota estava desconcertada com a forma como cada palavra havia saído da boca dele.

Ela estava feliz por ele. Apesar de amá-lo, ela se sentia feliz por ele estar feliz, por ele estar amando com intensidade.

CAMPOS EFÊMEROSOnde histórias criam vida. Descubra agora