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MEIO COPO DE LEITE me foi servido pela empregada da casa dos meus avós aquela noite. Eu não entendi direito, fiquei me perguntando se era algo que os britânicos faziam para as suas crianças, mas não tive respostas. Eu ficava vendo aquele quadro estranho acima do bar particular do meu avô, Eric Gerald. Gerald, nunca gostei desse sobrenome, talvez porque eu não gostava do meu avô por ser um homem terrível, ou porque simplesmente era feio demais - o sobrenome e o homem.
Minha cabeça de criança dançava entre as cores do quadro e a conversa no fundo. Eu tinha dez anos para não ter mais medo do escuro e distinguir muito bem as vozes das pessoas mesmo sem ver os rostos delas. Dez era um número arredondado e eu gostava. Me lembro muito bem, apesar dos ruídos provocados pela chuva, de um homem falar sobre uma bomba no palácio de Buckingham e depois, com a voz rouca de um velho fumante, meu avô concordar, dizendo que tudo estava pronto para o plano dele.
Eu achei engraçado no começo. Bebi o meu leite e senti sono, fiquei tão sonolenta que dormi sentada na banqueta do bar da casa, frente a frente aquele negócio horrendo e cheio de cores que eles chamavam de arte. No dia seguinte voltei para o hotel onde estavam os meus pais e comentei o que tinha ouvido, contando como um filme para eles os relatos da noite que passou. Eu era uma criança com TDAH e ninguém deu muita bola até verem no jornal o atentado no palácio da rainha.
Era engraçado mesmo porque eu não sabia o que era real ou não. Eu relacionava as vozes com as cores, tal cor disse isso, tal cor disse aquilo. Sempre ocorria quando eu voltava da casa dos meus avós e tomava aquele mesmo leite mal servido. Todas as manhãs após isso eu falava algo que viria a se realizar e estampar as capas dos jornais.
Parou de ser engraçado quando aquelas vozes coloridas informaram a mim que o próximo alvo seria a minha mãe grávida com o meu irmão na barriga. E como qualquer uma das minhas 'visões', aquela também aconteceria.
ESPOSA DO DUQUE ENCONTRADA MORTA — Grávida, Melinda Prescott-Gerald morre envenenada aos 29 anos.
Eu parei de prever as coisas depois disso. Mamãe morreu quando eu tinha onze anos, um número ímpar desgraçado. Depois disso, não era como se eu tivesse uma super memória.
Meu pai era duque e eu não era mais nada porque nem era filha biológica dele. Logo após perder a minha mãe eu tive um pesadelo com as vozes e cores, imaginando ter ouvido o vermelho falar com o amarelo que era a minha vez de bater as botas. Fiquei aliviada quando acordei e conclui não ser uma previsão. Afinal, estou viva até agora.
— O que é isso? - Ouvi o meu namorado perguntar.
Quatorze anos depois, com os meus vinte e cinco anos e a flor da pele, eu estava grávida do meu atual noivo, Nowak Finch. Ele era o homem mais engraçado e divertido que eu já tinha conhecido, o que ia contra o seu fatídico nome, Nowak, nada divertido. Meu noivo era um inglês filho de poloneses e, assim como os pais, ele tinha os olhos azuis da cor do céu e o cabelo ruivo natural. Acho que em toda a minha vida nunca amei alguém como eu o amava. Aquele fato só mudaria nove meses depois quando o nosso filho nasceria num fogo cruzado de balas entre os agentes da Kingsman e os Statesman.
Mas não vou me precipitar, ainda demoraria até tudo aquilo vir a acontecer.
— Um teste de gravidez. - Respondi, o observando mudar de expressão.
— Você está grávida? - Perguntou, me fazendo revirar os olhos, não conseguindo conter a minha óbvia expressão de felicidade. — Meu Deus! É sério?
Claro que não. Eu só tinha passado três horas vomitando aquela manhã e comido três pães e um bolo inteiro para saciar o feto de três semanas que estava no meu útero.
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COLORES. [Agente Whiskey]
Fanfiction❝Ela é a minha missão. ❞ Após uma dívida de gratidão com o influente Duque Armando de Bourbon, o enigmático agente Galahad encontra-se em um dilema inesperado. Sua nova missão é proteger Antonella Prescott, a filha daquele que, no passado, lhe...