𝐈𝐕. Deixando ser levada

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Eu só devia me acostumar com o impossível. Eles diziam que meu pai havia morrido, que meu noivo era um assassino e que eu precisava mudar de país. Tão fácil quanto roubar doce de criança.

— Não pode jogar essas coisas em cima da garota e esperar que ela reaja bem de uma hora para outra!

Merlin era um homem alto, normalmente pálido - pelo menos o tempo que eu o via -, de olhos azuis e sempre vestido com um suéter verde e calças pretas. Ele fora gentil comigo todas as últimas três manhãs quando ele passava e educadamente perguntava sobre o meu dia. O fazia rir o fato de que eu não podia relatar mais do que o sabor da gelatina diferente que tinha comido, pois eu ainda estava presa naquele consultório que pouco parecia pertencer a um médico de verdade.

— Não podemos mantê-la aqui, Merlin. É perigoso para ela, é um perigo para nós todos. - Harry reclamava.

O homem tinha um rosto sereno que me dava raiva. Hart estava sempre lá, parado e existindo, eu se quer podia respirar sem antes ser analisada por Galahad. Galahad, apelido esse que boa parte da equipe usava para o chamar, a não ser, claro, por Eggsy e Merlin.

— E olhe, ela parece muito bem, nem ao menos chorou.

Os dois estavam a uns dez metros de distância, Harry de costas para mim enquanto eu enxergava perfeitamente as expressões de indignação de Merlin. Não era como se houvesse importância para eles o fato de que eu ainda dormia as 13:00 horas numa tarde ensolarada, fingindo não escuta-lós ou mesmo ouvi-los, mas eu estava lá.

— Tenho um lugar seguro longe dos Kingsman. - Notei que as costas do de terno relaxaram, a mão esquerda solta com o óculos entre os dedos. — Eggsy vai com ela.

— Apenas Eggsy? Digo, ele sabe se cuidar muito bem, mas enquanto ao resto? Os poloneses? Onde eles vão?

— Cuidaremos dos poloneses. Antonella e Eggsy vão estar do outro lado do oceano com os Statesman.

— Statesman? O que é isso? Uma trupe americana? - Merlin desdenhava e tudo o que girava em torno da minha mente era o que eu iria fazer nos Estados Unidos. Porque era isso o que significava States naquele nome, certo?

— Só... Confie em mim, Merlin. A garota ficará bem.

Não sabia o que exatamente passava comigo aquele ponto, eu estava preocupada realmente? Estava com medo? Estava doendo? Eu me perguntava como conseguia acordar todos os dias e simplesmente não chorar por saber que o meu pai de criação estava morto e eu não podia fazer nada para mudar o fato de que a droga do homem por quem fiz juras de amor tinha uma vida dupla. A dor estava lá, queimando a garganta e presente no meu coração, mas não tinha forças para por para fora. Eu estava me DEIXANDO SER LEVADA, querendo esperança, deixando ser guiada por pessoas nunca vistas antes, eu estava totalmente a mercê daqueles caras que amavam ternos e agiam como cavaleiros.

Uma semana passou e nada mudou.

— Você gosta de rosa? - Eggsy perguntou. Ele tinha uma caneta entre os lábios e os pés estavam apoiados em cima da minha "cama".

— Prefiro azul. - Respondi, arrumando o meu cabelo num rabo de cavalo e olhando as nuvens de chuva pela janela. — Eggsy, eles disseram que você vai me levar pra América.

O cara se arrumou na poltrona ao meu lado e repousou os pés no chão, olhando para cima e pensando.

— Eles disseram?

— Eu escutei.

— Hum. - Eggsy jogou a caneta em cima de alguns papéis sobre a mesa de centro e juntou tudo, guardando num envelope. — Sua vida virou de cabeça pra baixo, não é? - Um meigo sorriso se revelou, o que amoleceu o meu coração angustiado.

COLORES.                                                        [Agente Whiskey]Onde histórias criam vida. Descubra agora