𝐈𝐈. Vozes

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Olhe, acho que ela está acordando.

— Ainda está muito drogada.

Ouvi VOZES próximas a mim, sentindo um desconforto no estômago e um formigamento nas pernas. Nada mais que uma luz clara penetrava meus olhos. Eu, por outro lado, tentava com dificuldade abri-los por completo, mas aquilo exigia forças que não tinha. Estava tudo muito pesado, era como ter elefantes em cima das pálpebras.

— Hmm. A respiração dela está okay. Veja os batimentos do feto. - Soou uma das vozes ao lado de forma autoritária, porém, de tom muito suave. Provavelmente era uma mulher.

"Tum-tum"
"Tum-tum"
"Tum-tum"

Aquele barulhinho saltou pelos meus ouvidos e fez-me querer chorar. Eu estava com medo por não saber onde estava e começava a lembrar de meu pai e Nowak. Onde eles estavam? E por que aquelas pessoas estavam checando o coração do meu filho? Deus! Eu se quer tinha escutado aquilo antes, era martirizante não poder aproveitá-lo. Mesmo não estando pronta para o escutar, aquele som vinha de um ser que eu carregava dentro de mim.

— Querida? Consegue escutar? - Um tom diferente da outra voz se fez presente e eu consegui enxergar a sua silhueta.

Ao tentar falar, falhei e me contive em desespero pelos lábios em um movimento de abrir e fechar. Balbuciei algo, mas nada que fosse entendível.

— Calma. Está tudo bem. Não fique com medo. - A pessoa do meu lado pedia pausadamente.

Apertei os olhos com força, percebendo uma mão leve tocar a minha e conseguir me dar uma sensação de conforto.

— Está tudo bem.

— Ela já acordou? - Escutei outra voz se aproximar.

Dessa vez parecia ser de um homem, pois era aveludada e falava com firmeza.

— Quase. Um pouco atordoada ainda.

— Ela consegue me ouvir? - O homem distante perguntou.

— Sim. Não diga nada que a faça ficar preocupada. - A mulher respondeu.

Suspirei com raiva. Eu podia os ouvir, mas estava presa aquela maca e aos fios sobre o meu peito.

— E o outro? Onde ele está?

— Hm, o sedativo que usou nele era bem mais forte do que o dela. - A pessoa ao meu lado relatou. - Você por um acaso usou o W-18 no cara?

Houve silêncio por alguns segundos, até a sola de um sapato causar um barulho fino no chão.

— Pouco me importa o que foi usado nele. - De maneira notavelmente descontente, a dona da voz mais delicada disse ríspida. — Você foi extremamente imprudente lá, Harry.

Harry Hart - eu me lembrei daquele nome. A voz dele me veio a mente enquanto ele dizia e, de repente, já sabia quem era uma das pessoas naquele quarto.
Não que eu o conhecesse de fato. Ele era só um homem de terno e óculos, cujo rosto foi o último que vi antes de desmaiar em seus braços. Aquilo podia ser considerado mais assustador do que reconfortante.

— Imprudente, querida? O que está querendo dizer com isso?

— Só acho - Disse ela. - que aquela não era a sua missão.

Uma pequena discussão estava prestes a começar. Porém, antes que o homem pudesse responder algo, fomos todos alertados pelo barulho da máquina do leito próximo ao meu. A minha mão foi abandonada pelo calor úmido da pele daquele a minha frente e eu voltei ao estado de desespero. O medo confundiu minha cabeça e eu já não tentava abrir os olhos, apertava o pulso contra o colchonete debaixo de mim, remexendo o meu corpo sem parar. Então eu parei e deixei o cansaço tomar conta do meu corpo novamente. Não vi mais nada aquele dia.

COLORES.                                                        [Agente Whiskey]Onde histórias criam vida. Descubra agora