Sogra

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Tem um ditado que diz que "quando você se junta com alguém, você se junta com a família dessa pessoa também". Nunca li uma verdade tão universal na minha vida. Quando a gente dá a sorte de se relacionar com uma pessoa cuja família gosta de você, dá até gosto de ser recíproco. E felizmente eu costumo ser uma pessoa que se dá bem com parentes dos outros. Talvez porque minha família seja tão caótica, que quando eu encontro qualquer outra família com o mínimo de bom senso querendo me adotar, eu não penso duas vezes.

Porém a vida não é um morango, e não é sempre que eu dou essa sorte. Eu já tive que lidar com famílias que pela misericórdia, eu preferia passar o resto da eternidade trancada num umbral com a minha a ter que conviver novamente com essas pessoas.

E quando essas pessoas são as sogras, parece que tu saiu do umbral direto para o inferno. Afinal, não é um parente qualquer que tu pode fingir que nunca existiu ou que tu pode mandar para a casa do carERROR404. É a mãe do amor da sua vida (até aquele momento), e a não ser que o presente de Deus queira cortar relações em definitivo, você não pode mandar a criatura conversar com seus pares lá embaixo.

Em toda a minha vida de jovem namoradeira, eu só tive duas sogras que me deram dor de cabeça. A primeira eu quase casei com o filho dela (ainda bem que isso não aconteceu). A segunda eu cometi o erro de casar e ter uma filha, ô arrependimento...

A sogra número 01 era um amor de pessoa (só que não). Sabem aquela definição lá daquela série sobre a pessoa ser "pobre e soberba"? Então, perfeitamente aplicável a esta senhora aqui. Conheci o filho dela dentro de um ônibus, eu indo para a praia, ele indo para o trabalho. Conversamos, trocamos telefone, decidimos nos encontrar no parque da cidade - tá, mentira, a gente se encontrou sim, mas já pra fazer saliências, e depois de um tempo, muita cerveja, algumas praias e mais umas sessões de "manicure", começamos a namorar.

Tudo ia muito bem, até ele cismar de que a gente tinha que conhecer as famílias um do outro.

- Pra quê? - eu falei. -Minha família é complicada, você não entenderia
- Mais complicada que a minha eu duvido muito...
- A gente não precisa disso não, estamos tão bem assim...
- Mas eu acho importante, se a gente quer ficar junto, a gente precisa saber de onde o outro vem

Tá, ok, bom ponto, pensei. Mas começamos pela minha, já que pelo menos seria um ambiente onde eu poderia controlar a situação. Deu certo (obrigada Pai eu sei que tu me sondas).

Até o dia que eu tive que conhecer a família dele e entender o conceito de pobre e soberba da minha sogra.

Era aniversário de um dos sobrinhos dele. Levei presente para a criança. Fui bem recebida pelos cunhados.

Até o momento que eu fui cumprimentar ela, a razão do meu ranço.

- Oi sogrinha, que bom lhe conhec
- Oi, obrigada, pode ir comer alguma coisa lá na cozinha.

Tive nem reação gente, juro.

Esqueci de avisar que a velha era pobre, soberba e branca? Pois bem, tô avisando agora.

Todo mundo comendo na sala, sendo bem servido, e a mulher me manda para a cozinha, lá no fundo da casa, para comer.

Fui porque na época eu não tinha presença de espírito suficiente para elaborar uma resposta tão rápido. Mas não quer dizer que eu não tivesse uma resposta.

Tenho certeza de que a criatura não deve ter gostado da minha ideia de jogar a louça dela fora para fazer ela comprar louça nova e mais bonita, porque até esse namoro acabar eu nunca mais fui convidada novamente para aquela residência dos infernos.

Com a avó da minha filha, a gente aqui (eu, meu anjo da guarda e as vozes da minha cabeça) até pensava que seria diferente, mas nãm... Se Deus tem seus escolhidos, Satanás também tem, e com certeza eu fui escolhida nesse jogo da vida para o time lá de baixo. A velha aqui simplesmente era uma interesseira, mesquinha, se metia onde não era chamada, vivia fazendo bagunça e gerando discórdia por onde passava, um horror.

Um episódio desses me fez proibir a presença dela na minha casa.

Eu e o filho dela estávamos recém casados, terminando de montar a casa, esperando a chegada do nosso bebê - eu estava grávida de 5 meses. Até que ele queria porque queria trazer a mãe para casa para mostrar tudo para ela.

Eu não estava muito empolgada com essa ideia não, porque eu já estava sentindo os primeiros chutes da criança, ainda enjoava por tudo e por nada, e teria que ficar horas a fio na frente de um fogão cozinhando para outra pessoa.

- Mas tua mãe sempre tá aqui, por que a minha não pode?

Touché. Era verdade e eu nem podia refutar.

Que venha a sogra então.

E ela veio, em um sábado de sol.

Não alugou um caminhão, mas trouxe uma galera que eu não andaria com ela nem nos meus maiores delírios causados por entorpecentes ilícitos.

Esse pessoal entrou na minha casa. Comeu da minha comida. Beberam e FUMARAM DENTRO DA MINHA CASA. Ligaram o som no último volume. Ficaram ofendendo os vizinhos gratuitamente.

Mas eu, guerreirinha da paz e do amor, estava lá segurando a onda em nome da vida conjugal, quase parindo a criança na cozinha tamanho era o ódio.

Mas uma coisa foi demais para mim.

Foi ver a sogra pedir um copo para beber o raio do Campari dela. Eu vi meu digníssimo levando um copo de um conjunto novíssimo que eu tinha acabado de comprar, nem tinha tirado da embalagem ainda. Eu vi a velha pegando no meu pobre copo com as mãos engorduradas para beber aquele troço fedorento. E eu vi aquele copo tão lindo caindo no chão e se quebrando.

(Entendam o meu desespero de dona de casa: aquele conjunto custou caro, e eu tenho toc real com números, se tiver número ímpar maior que 3 em relação a objetos, eu fico estranhamente ansiosa com isso. E o infeliz sabia.)

A única coisa que eu consegui pedir sem entrar em colapso - porque o olhinho já estava tremendo - foi que ele desse um jeito de colocar todo mundo para fora de casa enquanto eu ia ali na padaria "comprar um refri".

Não sei o que ele falou, não sei o que ele fez, eu só sei que 20 minutos depois não tinha mais ninguém na minha casa, e eu pude surtar quebrando o resto do conjunto de copos em paz.

Hoje sou casada pela 3ª vez, dando grazadeus que minha sogra já é falecida.

(O que é uma pena, porque segundo relatos somos muito parecidas e iríamos nos dar muito bem)

Causos de Família E Outras HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora