8 - Escuridão

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Já estiveram em um lugar tão escuro, mas tão escuro que você simplesmente perde a noção de espaço e direção?  Você não vê um único ponto de luz, nem mesmo enxerga suas próprias mãos?

É onde eu estou agora, é uma escuridão sem fim, onde a angústia toma conta do meu peito.

Eu estava desnorteada em meio a tanta escuridão, sempre quis saber o que existe após a morte e agora eu havia descoberto. 

De repente, um feixe de luz se abre a minha frente me cegando por alguns segundos.

— S/n - identificando a voz, abro meus olhos com dificuldade e a vejo se aproximar. Minha mãe estava agora em minha frente, exatamente igual ao que me lembro - Continua linda - sorri triste - Porém jovem, esse era meu medo

— Seu medo? - pergunto sem entender

— Que viesse para cá tão jovem - diz passando a mão por meu rosto, fecho os olhos sentindo seu carinho

Apesar das nossas desavenças, eu a amava, sentia sua falta e me arrependia de não ter feito as pazes com ela antes de sua morte.

— Eu não me arrependo do caminho que percorri, segui meu sonho como sempre quis, construí uma carreira na agência que tia Peggy fundou e outra fora dela também, vi Gael crescer, e tive o privilégio de amar e ser amada... Meu único arrependimento é de não ter tido mais tempo com ela - digo abaixando a cabeça

— No fundo eu sempre soube que se casaria com uma mulher

— Não me casei com ela, mas queria ter tido a chance

— Qual o nome dela?

— Natasha - digo com um sorriso de canto

— É um belo nome - diz se sentando em uma poltrona vermelha, que eu nem sei como apareceu aqui, e me puxando para sentar na outra, de repente estávamos em uma sala de cinema

— O que... Como viemos parar aqui? - pergunto, ela ignora e me entrega um balde de pipoca

— Ele é tão bonito - diz com a atenção presa na enorme tela a nossa frente

O filme que estava sendo exibido - se é que posso chama-lo assim - eu já havia visto. Ou melhor, eu já havia vivido. Na tela passava uma de minhas inúmeras lembranças, essa em questão era do aniversário de cinco anos de Gael, o primeiro em que passamos juntos.

— Ele se parece com você - digo e vejo um sorriso de canto brotar em seus lábios - Então é assim que acontece após a morte, vamos reviver todas as minhas memórias?

— Talvez - dá de ombros enfiando algumas pipocas na boca - Por que a medalha? - pergunta e eu me viro para prestar a atenção na tela novamente

— Gael ganhou em sua primeira competição de patinação no gelo, ele é muito bom nisso

— Aquela é a Natasha?

— Sim... - confirmo com um sorriso e os olhos cheios de lágrimas vendo minha ruivinha na tela

— Ela é muito bonita, parece gostar do seu irmão - na tela, agora mostrava uma das inúmeras vezes em que Natasha colocava Gael para dormir e lhe contava histórias enquanto eu ficava na porta toda boba admirando a cena

— A Nat o ama como se fosse seu, ela voltou para minha vida quando ele tinha onze anos e desde então me ajuda a cuidar dele

— Fico feliz que ele tenha tido duas ótimas figuras maternas - sua expressão triste rapidamente se dá lugar a um sorriso encantador - E ali, o que aconteceu?

Recomeço | Natasha Romanoff Onde histórias criam vida. Descubra agora