Prólogo

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WILTSHIRE, INGLATERRA
JULHO DE 1964

Sonhei com a minha mãe.

A mesma coisa de sempre. Eu a abraçava apertado e chorando, querendo nunca mais solta-la. Mas ela só fazia carinho no meu cabelo. Como em todos os sonhos, ela estava tão bonita quanto foi em vida, e sua aparência muito melhor do que tinha poucas semanas antes de partir.

Aos soluços, eu dizia que sentia sua falta e que não aguentava mais. Queria que ela me levasse com ela para onde quer que estivesse porque qualquer lugar era melhor do que ali. Mas tudo o que mamãe fazia era sorrir.

Aquele olhar dela diante do meu desespero me perturbava tanto que eu sempre acordava assustado, sem fôlego e com o rosto molhado de suor e lágrimas. Toda vez que eu tinha esse sonho, não conseguia voltar a dormir. E não tinha sido diferente dessa vez, por mais que eu ficasse rolando na cama.

E eu já sabia onde tudo isso ia terminar. O dia seguinte mal chegaria na metade e eu já estaria com esgotado, o que com certeza me faria ouvir várias reclamações. Tudo só serviria para me deixar mais cansado ainda.

Não que eu precisasse ficar sem dormir para me sentir exausto...

Todos os meus dias pareciam iguais. Poucas coisas me distraiam, e eu não tinha ninguém para desabafar. Havia Lucius, que até me ouviria, mas não me entenderia por muitos motivos. E eu não queria ser julgado por ele. Apesar do meu irmão ser meu melhor amigo, sinto que não posso ser totalmente honesto com ele. Até porque, ele não sabe de tudo o que acontece nessa casa.

Não me restava mais ninguém além do meu irmão.

Afinal, minha mãe estava morta e meu pai era um monstro.

Nem sempre foi assim. Eu não costumava me sentir tão solitário quando era mais novo. Antigamente, minha vida era boa. A família era unida, e eu não tinha do que reclamar. Embora eu tenha tido uma criação rígida, eu era mais feliz.

Sempre tive tudo e mais um pouco. Por causa da riqueza da família, nunca fui privado de nada, e tudo o que eu queria me era dado. Minha mãe era carinhosa, meu irmão meu companheiro, e meu pai, naquela época, o meu protetor.

E mesmo assim, sempre me senti diferente. Era algo em relação ao que fui criado para acreditar. Minha família tinha essa mania de supremacia bruxa, e fui ensinado desde muito novo a acreditar nela também. Sempre que meus pais, ou qualquer outro parente, vinham com a velha e entediante conversa do puro sangue, eu era obrigado a ficar quieto e escutar. Eu era uma criança bem nova, então ficava confuso. De um lado estavam meus pais, que sabiam o que era melhor para mim, me dizendo todas aquelas coisas que eu achava tão... Cruéis. Do outro, estava meu próprio coração inocente, pensando que não precisava ser daquele jeito.

Me lembro da maneira como meu pai me segurava no colo para ver os quadros dos nossos antepassados nas paredes, quando eu sequer tinha altura para alcança-los. Lembro do jeito que as pessoas nas pinturas me encaravam com os olhos frios e resmungavam, como se já soubessem que eu seria diferente. Eu me  encolhia no colo do meu pai, o abraçando e escondendo o rosto. É esquisito pensar que um dia ele foi o meu maior herói...

Hoje, é ele quem me faz desejar ter um.

Por muito tempo escutei sem reclamar. Nunca contestei nadinha do que me diziam. Eu era só um garotinho! O que eu sabia sobre como as coisas funcionavam?

As coisas começaram a ficar diferentes quando eu tinha sete anos, a época em que a magia desperta nas crianças bruxas. Meus pais nunca tiveram a preocupação de que eu fosse um aborto mesmo antes dessa idade, pois eu já tinha nascido com uma condição mágica que comprovava que eu era bruxo.

Maximus Malfoy - LIVRO I Onde histórias criam vida. Descubra agora