Capítulo 03 - Sussurros

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Não sei por quanto tempo fiquei no chão, mas depois do que pareceram horas, me arrastei com dificuldade até a cama, subi nela e me deitei.

Não dormi direito por causa da dor e fiquei despertando muitas veze. Meu corpo inteiro ainda queimava e até respirar era difícil.

Toda vez que eu acordava de um sono intranquilo, tudo estava escuro no quarto e devia ser madrugada. Fraco e cansado, apenas fechei os olhos e tentei voltar a dormir, sem querer pensar muito nas coisas que tinham acontecido.

Quando amanheceu, meu humor estava mais azedo que feijãozinho de limão. Otto apareceu pontualmente, trazendo uma  bandeja flutuando atrás dele.

De cara amarrada, dei uma espiada no conteúdo dela. Era o café da manhã.

-Leve isso de volta, Otto. -Mandei, zangado. -Não estou com fome.

-Tem que comer! Foi o senhor seu pai quem me mandou te trazer o desjejum! Me mandou preparar também uma poção revigorante, para as duas dores.

Além de mim e do senhor meu pai, ele era o único que sabia das coisas que meu pai fazia comigo. Na verdade, ele até já foi testemunha de algumas das cenas...

Mas era silenciado pelo meu pai, assim como eu. E nem era preciso...

Otto defendia meu pai e via razão em tudo o que ele fazia.

-Ah, sim! -Dei um sorriso amargo, cheio de ironia. -Ele me quer bem alimentado e saudável só para poder me machucar mais depois!

-Não é certo zombar de seu pai desse jeito!

-E é certo ele fazer o que faz comigo, Otto?

-O senhor seu pai só estava te corrigindo! Se o senhor Maximus não fosse tão teimoso, nada disso teria acontecido!

-Sai daqui. -Falei, desistindo de qualquer conversa com ele. -Quero ficar sozinho.

Sem esperar resposta, voltei a deitar, agora virado de costas para ele. Esperei sua partida.

Qualquer movimento que eu fazia parecia ser uma pisada de dragão que eu levava. Era como se meu corpo tivesse sido moído e depois remontado. Me ergui com um gemido e alcancei a bandeja. Mas dali eu só tinha interesse na poção. Tomei tudo em grandes goladas e voltei a me deitar, sem qualquer ânimo para fazer outra coisa.

Acabei pegando no sono de novo. Quando acordei, já era quase hora de almoçar e as dores tinham melhorado. Fiquei deitado de barriga para cima, olhando o teto e pensando no quanto eu gostaria que ele caísse, só de raiva.

Por mim a casa inteira podia despencar!

Mais tarde, Otto apareceu com outra bandeja, dessa vez trazendo o almoço, e levou de volta a intocada do café, resmungando comigo como sempre, mas eu ignorei. Havia outra dose de poção junto com a comida e só bebi ela. Nem mesmo agora eu tinha fome.

Fiquei deitado a tarde inteira, sem fazer nada. Foi só quando a noite chegou que percebi que eu não tinha sido convocado para as aulas do dia, e tampouco Lucius veio me ver. Nunca conversamos sobre isso, mas acho que nosso pai o proibia. Meu irmão devia pensar que eu só ficava de castigo. No fundo, eu sabia que era melhor assim.

Quando Otto trouxe o jantar, descobri que o apetite tinha voltado. Já não sentia dor, e comi tudo o que havia na bandeja. Quando terminei, olhei para minhas vestes e percebi que ainda usava as mesmas roupas do jantar nos Blacks.

Sem dar importância para isso, simplesmente voltei a deitar. Fechei os olhos e mesmo que já tivesse dormido bastante, peguei no sono novamente com facilidade.

Maximus Malfoy - LIVRO I Onde histórias criam vida. Descubra agora