TRÊS

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Dou um beijo na testa de minha filha e outro na testa de minha esposa e as vejo embarcar novamente para nossa terra natal.

Tive a ideia de expandir a empresa para mais um país e vi a oportunidade de poder entrar no Brasil. É um país lucrativo e tecnologia só está crescendo. Não me arrependo de nada do que fiz. Desde que assumi a presidencia da empresa, tive um crescimento muito positivo. Me conforta saber que meu pai não vai levantar do túmulo e me matar, como ele havia prometido anos atrás caso eu fodesse com a coisas.

Pelo menos o desprazer de vê-lo novamente, eu não terei.

Dirijoaté em casa com calma. O trânsito aqui é bem diferente do que o Russia. Muitos carros na rua, muita condução pública. É um tanto caótico. Mas não posso mentir, é um país lindo demais. Tem uma beleza natural. Se o Brasil fosse uma mercadoria, se venderia sozinha, apenas pela sua figura.

Chego em casa e vejo Yakov na porta a me esperar. Marcamos uma reunião e eu sei que estou alguns minutos atrasados. O voô atrasou e eu não iria deixar Yanka e Yvannia sozinhas no aeroporto por nada nesse mundo. Meu coração já estava me doendo de ter que deixá-las ir sem mim, imagina largar elas lá por conta de uma reunião. Se quiserem, eles que me esperem.

O homem não parece desesperado nem nada. Yakov é um funcionário exemplar. Nunca tive problema com ele. Sempre me auxiliou e sempre esteve ao meu lado nas decisões mais difíceis. Quando tive a ideia de vir para cá, ele não pensou duas vezes em me apoiar. Quando meu pai era presidente, Yakov era apenas um estagiário. O coitado passou por poucas e boas na mão de Andrey. meu irmão o odiava, pois o achava sonso. Ele tinha na cabeça, que Yakov a qualquer momento poderia pegar seu lugar. Como se nosso pai fosse mesmo dar a presidência da empresa para alguém que não fosse um Markova.

As ideias de Andrey chegavam a ser estupidas demais. Assim como as de nosso pai.

Cumprimento o homem e ele sorri.

— Senhor Bóris,  boa noite.

— Já não te disse para me chamar apenas de Bóris, Yakov?

Sim, mas o senhor é meu chefe. Acho que seria uma falta de respeito.

— Ora, homem, deixa de yerunda¹. Eu te considero uma amigo antes de qualquer coisa. Se a vida fez com que você trabalhasse para mim, isso é apenas um detalhe. Só Bóris, por favor!

Ele sorri e levanta as mãos em sinal de derrota.

Andamos até o escritório e ele me mostra as planilhas que foram enviadas a ele. Vejo como as compras e vendas andam e se tudo está nos conformes, já que deixei tudo na responsabilidade de Viktor. Não que ele não seja um bom funcionário nem nada, mas ele teve alguns problemas que talvez possam atrapalhar o seu desempenho. E ao que tudo indica, uma outra questão está voando ao seu encontro nesse exato momento.

Yakov me mostra mais alguns dados e então começamos a repassar o que é preciso para que essa expansão se concretize o quando antes. Não estava com pressa, mas depois da notícia da gravidez de Yvannia e essa volta repentina das duas, o que eu mais quero é resolver logo as coisas por aqui e reencontrar minhas duas meninas.

Conversamos mais sobre outras coisas e então Yakov se levanta de sua cadeira e avisa que já via embora.

— Fica mais um pouco. Vamos tomar uma vodca. O dia foi cheio demais hoje, tanto para mim quanto para você acredito — eu digo a ele, já me levantando e indo em direção ao balcão que guardo minhas bebidas — Como estão as coisas na sua casa? Sua esposa já conseguiu um emprego? E seus filhos?

Verdades que MachucamOnde histórias criam vida. Descubra agora