QUATRO

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Acordo bem cedo e faço o que costumo fazer sempre. Nada de novo neste dia que começa bem cedo, pelo para mim. A única coisa de nova - e desagradável -  é a falta de minhas meninas.

Tento ao máximo não ficar pensando nisso durante todo o tempo, porque sei que foi por um bem maior. O meu neto, ou neta. Tenho certeza que darei todas as oportunidades de for uma menina. Quero que ela conheça tudo sobre a empresa e quem sabe um dia, ela não poderá se tornar a primeira Markova mulher na presidência. Eu ficaria orgulhoso, mesmo ainda tendo um pouco de medo da promessa de meu pai, porque, acreditem, se ele visse uma mulher ocupando aquela cadeira, ele se levantaria do túmulo sem nem pensar duas vezes.

Tomo meu café, ainda pensando em Yanka e Yvannia. Como elas devem estar agora? Será que chegaram bem? Não recebi nenhuma notícia. Quando chegar na empresa ligarei para elas.

Antes de sair, lembro-me que a esposa de Yakov virá hoje para conversar com a cozinheira. Vou até a cozinha e me dirijo a mulher, mas eu ainda não me lembrei do nome dela. Faz pouco tempo que a contratamos e eu não sou do tipo de homem que passa muito tempo em casa.

A mulher está de costas para mim, mexendo em algumas panelas e eu não sei como faço para abordá-la. Resolvo pigarrear para ver se ela se vira e assim eu possa dizer o que vim dizer, e claro perguntar seu nome.

— Olá senhor, bom dia — ela diz, com simpatia.

— Bom dia, senhora... — acredito que pela expressão que tive, ela entendeu que eu não me lembre de seu nome.

— Augusta.

— Sim, Augusta. Me desculpe! Eu não costumo me esquecer de nomes, mas é que faz pouco tempo que a senhora está conosco, não é? 

— Sim, senhor. Tem uma semana apenas e acho que essa é segunda vez que nos vemos — ela diz, praticamente justificando minha falta de educação por não saber seu nome.

— Vim apenas informar, que hoje, pedi para que uma moça viesse aqui. O nome dela é Polina e eu a chamei para a vaga de governanta. Gostaria de pedir que a senhora mostrasse tudo a ela e explicasse com as coisas aqui funcionam. Poderia fazer isso? — vou direto ao assunto.

— Claro, senhor. Sem problemas — sorrio para ela e me viro para ir embora, mas ela continua a falar — Ela já está contratada, senhor? Quer dizer, me desculpe a intrusão, mas o senhor não quer conversar com ela antes?

Senhora Augusta tem um ponto muito válido, mas eu já conheço Polina. Acredito que não preciso disso agora e meu objetivo é ajudar Yakov e sua família.

— Nós já nos conhecemos, senhora Augusta. Ela é esposa de um dos meus mais antigos funcionários.

A senhora abre a boca e concorda com a cabeça, aceitando a minha fala.

Por fim, vou embora. Ainda tenho muito o que fazer e o dia será longo e solitário. O que é o mais triste. 

As coisas na empresa ainda estão devagar. É uma marca nova, em um país novo, com clientes mais novos ainda. Isso era de se esperar. Por mais que a MarkovaTech seja conhecida, ela muito mais conhecida em meu país. O primeiro contato com coisas novas, sempre é uma grande novidade e na maioria das vezes, sempre rola uma surpresinha. Como por exemplo, a falta de um telefone que não faz ligações internacionais. Meu plano de falar com Yank hoje, foi pelo ralo. Der'mo!¹ Até o final do dia, eu vou arrumar um jeito. Preciso arrumar.

O dia passa voando e eu mal consegui chegar perto da minha secretária para pedir que ela desse jeito de arrumar uma forma, qualquer forma, de eu me comunicar com Yanka. Quando pisquei, o dia jpa havia terminado e eu ainda tinha muita coisa para fazer. Mas prometi a minha esposa, que não me enterraria em trabalho. Chegaria no horário de sempre e sairia no mesmo horário de todos os dias. Mesmo ela não estando lá para me receber de braços abertos e com beijos carinhosos.

Chego em casa a vejo toda muito bem arrumada. Não que ela costume ficar bagunçada, mas sabe quando você entra em uma casa organizada? Pois é, eu tenho essa sensação. tem até um cheirinho de comida no ar. Não parece apenas uma casa. Parece um lar.

Olho ao redor apenas para me certificar de que estou entrando mesmo na casa certa e sim, é essa mesma. Acho até engraçado meu pensamento. Mas é óbvio que é a minha casa. Onde mais eu poderia estar?

Chamo pela senhora Augusta, mas ela não responde.

Deixo minha valise em cima do móvel próximo a porta de entrada e caminho até a cozinha, que é certamente onde a mulher deve estar. Quando chego no cômodo, dou de cara com Polina, mexendo em uma panela e com o pano o ombro.

— Polina?

— Senhor Bóris, boa noite!

Polina é muito educada. Sempre foi. É uma mulher muito bonita, nunca neguei isso, mas ela nunca chegará aos pés de minha Yanka. Tenho um respeito enorme por Polina e maior ainda por seu marido. São duas pessoas que eu não hesitaria em ajudar em momento nenhum.

— O que está fazendo aqui? — olho para meu relógio e vejo que a esse horário, ela já deveria ter ido para casa — Você não devia estar em casa?

— Ah, sim, mas eu me ofereci para fazer o jantar. A senhora Augusta, muito simpática aliás, não se sentiu bem, então, eu me ofereci para terminar as coisas por aqui.

Hoje de manhã quando sai a senhora estava ótima. Não me pareceu adoentada ou qualquer outra coisa assim.

— Yakov sabe que ainda está aqui? Preciso avisá-lo? Vou pedir para o motorista te levar assim que terminar, tudo bem?

— Não se preocupe, Yakov costuma chegar tarde em casa. Ele ainda deve estar na empresa — ela diz.

— Mas, e seus filhos?

— Rurik já está acostumado a cuidar deles. Além do mais, deixei tudo pronto antes de sair.

Concordo com a cabeça, sem muito o que dizer e me retiro da cozinha, deixando a mulher sozinha para terminar o jantar.

Subo até meu quarto e vejo que as roupas de cama foram todas trocada e perfeitamente esticadas na cama. Me dá até pena de deitar e desarrumar as coisas. Polina é mesmo muito caprichosa. As empregadas devem ter sofrido um pouco na mão dela. 

Não perco muito tempo. Vou para o banho e assim que termino de me vestir, desço logo para o jantar. O cheiro daquela comida me deixou com água na boca.

Quando chego a sala de jantar, me impressiono mais ainda. Polina preparou a mesa lindamente. Tudo em seu devido lugar e isso não era nem tão necessário assim. Apenas um prato, um par de talher e um copo já estava bom. Toda essa arrumação, me fez lembrar de Yanka. Ela que gosta desses detalhes todos. Sempre diz que o lugar onde se come, nem sempre precisa ser bonito, mas se for confortável aos olhos, já vale muito. E sem sombra de dúvidas, ver tudo isso me deixa muito confortável.

Sento-me - sozinho - e olho ao redor. As cadeiras vazias. Só faz um dia que Yanka e Yvannia viajaram e eu já sinto meu coração dilacerado.

Minhas meninas são minha vida. E como se vive sem a sua própria vida?

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¹ Que merda!

Verdades que MachucamOnde histórias criam vida. Descubra agora