O QUARTERBACK

03. Sujo

Kessie Stevens

Fato curioso sobre os jogadores de futebol:

Eles são extremamente resistentes a dor.

Em uma semana como capacho oficial do time de Crimson o máximo de atendimento que eu fiz foram dois curativos e uma compressa de gelo.

Dado ao nível de contato que o esporte exige fico surpresa de não ter visto ninguém se ferir de verdade em uma semana intensa de treino.

A temporada começa em dois dias e o efeito disso já é sentido por todo o campus, todas as áreas comuns estão decoradas com bandeiras vermelhas que carregam o brasão do time, deixando um clima animado entre a maioria das pessoas. Não em mim.

Não me anima em nada saber que em menos de quarenta e oito horas serei obrigada a andar por ai rodeada de caras enormes que são bons demais para sequer enxergar algo fora da sua bolha de ego e privilégio.

Estar no meio do time ainda é desconfortável pra mim.

Por mais que eu tentasse desesperadamente me manter invisivél eles pareciam determinados a conseguir a minha atenção. Não posso deixar de pensar que isso é culpa de uma pessoa em particular...

Jake Sanders.

Aparentemente tudo que interessa o Capitão interessa também o restante do time.

Não que eu ache que ele esteja interessado em mim, Jake não me mandou mais nenhuma mensagem depois que eu ignorei sua ultima gracinha.

Ele agora se limita a me olhar daquele jeito que faz meu estôgamo doer e meu rosto esquentar.

Os garotos não são tão atrevidos quanto Jake, mas também não são exatamente discretos com seus olhares inapropriados sempre que preciso passar por eles no centro de treinamento, alguns até arriscam uma piscadela, mas nada mais invasivo que isso.
Os garotos se comportam diferente sempre que Jake está por perto, os olhares cessam e os comentários sobre minha bunda desaparecem.

Sanders deve ser um capitão rígido.

Sanders e Rígido na mesma frase me fazem sentir um arrepio indesejado na espinha.

Evitá-lo não era uma tarefa fácil, Jake Sanders não é do tipo que passa despercebido por ai, jamais seria.

Ninguém com aquele corpo consegue passar despercebido em lugar nenhum, mas eu tenho me esforçado para manter os olhos longe dele.

Por mais que Jake seja —de longe— o cara mais bonito do time, ele definitivamente não era o único ali a chamar atenção.

A minima percepção de achar um deles atrante me causa um amargor na boca, sei o que esperar desse tipo de cara e não quero provar desse gosto novamente.

Para caras como eles as mulheres representam uma unica coisa; um desafio.

Somos só mais uma oportunidade para eles se provarem uns pros outros, afinal, é assim que funciona o universo deles. Uma constante guerra de egos.

Posso dizer sem pesar algum que me envolver com um jogador de futebol no colégial foi a pior coisa que eu poderia ter feito, aquilo tornou cada um dos meus dias naquele lugar insuportaveis.

Matt foi o primeiro— e único — cara com quem passei de beijos, ele soube quebrar cada uma das minhas barreiras. Eu fiquei tão iludida com a idéia de ter um cara como ele me dando tanta atenção que não percebi os sinais.

Eu tinha 16 anos e ainda não sabia o quão cruéis os garotos podiam ser, mas ele se encarregou de me ensinar isso muito bem.

Meu coração se quebrou com a mesma rapidez com que foi roubado, me rendendo incontavéis noites de choro e o sentimento de inferioridade que nem todas as sessões de terapia que minha mãe pagou foram capaz de curar.