14. Recupero meu morto-vivo de estimação

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P.o.v. Bianca di Angelo

Senti saudade de Dámassen, quase imediatamente.

Agora entendia o porquê o Tártaro era considerado o pior lugar do universo. Tudo parecia disposto a me machucar ou me matar, lenta e dolorosamente. O ar sulfuroso fazia meus pulmões e minha pele arderem. Os meus pés andavam pelo chão instável, rachado e eventualmente com alguns pequenos monstros que pareciam hibernar e carcaças de monstros mortos que eu precisava desviar.

Os cortes, que descobri que as arais tinham me presenteado, estavam fechados pelas misturas de ervas medicinais de Dámassen, mas meu peito ainda doía muito e minha cabeça ainda latejava. Eu não estava na melhor condição física para andar pelo o lugar mais terrível do universo.

Me perguntei quanto tempo conseguiria sobreviver à atmosfera venenosa e a paisagem traiçoeira com poços, precipícios e rochas afiadas. Então sim, eu preferia comer com um gigante e contar histórias, do que andar pelo Tártaro, mesmo na companhia de dois deuses.

Passamos por uma bolha que brotava do chão. Era translúcida e do tamanho de uma minivan. Em seu interior estava o corpo semiformado de um drakon. Flegetone esmago-a rapidamente com o pé e ela explodiu em um gêiser de gosma amarela e fumegante, e o drakon se desintegrou.

— Aqui - disse Estinge depois de caminharem até o topo de uma elevação. Abaixo deles, em uma depressão parecida com uma cratera lunar, havia um círculo de colunas de mármore em ruínas cercando um altar de rocha negra.

— Um santuário de Hermes - explicou Flegetonte.

— Um santuário de Hermes no Tártaro? - Perguntei franzindo a testa.

— É. Caiu de algum lugar há muito tempo. Talvez do mundo mortal. Talvez do Olimpo. - Ele disse sem dar muita importância.- Enfim, os monstros não chegam perto dali. A maioria.

Penetraram na cratera e entraram o círculo de colunas. Observei como a borda da cratera impedia a visão da terra estéril por onde teríamos de ir. A ideia de não ter uma visão clara de um monstro se aproximando me colocou em uma posse defensiva, mas me surpreendi quando vi nos degraus do altar uma fatia de pizza, cachorro-quente, o pedaço de um sanduíche, algumas uvas e outras frutas, um prato de rosbife, um saquinho de M&Ms de amendoim e outros. Um banquete inteiro.

–Isso é... hambúrguer?

–Oferendas queimadas - explicou Estinge. -Sacrifícios do mundo mortal para Hermes, acho.

–Isso não está...?

–Envenenado? - Sugeriu Flegetonte. - Nah, acabaram de ser sacrificados, ainda devem estar quentes. Pegue, não vai querer tomar as águas do meu rio.

Optei por não questionar e me aproximei do altar, mas hesitei antes de pegar o cachorro-quente.

–Hermes não vai ficar ofendido e tentar me matar, certo?

–Não se preocupe, Hermes nem deve ter acesso à esses sacrifícios. - Tranquilizou Estinge. - Coma, eu e Flegetonte vamos ter certeza que não há monstros nas proximidades.

–Obrigada.

Depois disso não voltei a protestar. Comi rapidamente o cachorro-quente e algumas uvas. Acho que nunca comi algo tão delicioso nos últimos meses, ainda estava quente e nunca imaginei que poderia gostar tanto do sabor de ketchup. Em seguida comi uma fatia de melancia, tão suculenta que deveria ter o bastante de água para me manter pelos próximos dias.

Peguei a fatia de pizza, o sanduíche e o saquinho de M&Ms de amendoim e guardei-os na minha bolsa.

–Já podemos ir agora. - Avisei. - Devo ter suprimento o bastante para voltar para o mundo mortal.

Di Angelo 2 | O labirinto de DédaloOnde histórias criam vida. Descubra agora