Primeira Parte: Capítulo 2

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Sorte que o restaurante não era tão longe de casa. Não segurei as lágrimas no caminho de casa. Aquilo foi tão doloroso como ser golpeada com uma faca nas costas. O homem que eu amei minha vida toda casará com outra mulher. O homem que eu amo não teve coragem de me amar. Ela viverá nos braços que eu sonho todas as noites. A vida eu sempre quis terá uma nova protagonista.

Meu mundo desabou, levando consigo toda a esperança que ainda restava em mim. Esse golpe foi baixo. Desde que me conheço por gente, eu amo aquele homem e simplesmente não vamos terminar juntos. Queria refazer todos os passos. Voltar ao início e apagar a nossa história por inteira. Eu seria tão mais feliz deixando todas as lembranças que me atormentam.

Cheguei em casa com a maquiagem borrada, mas não me importei em me dar um pouco de dignidade. Eu estava em local seguro e iria deixar meus sentimentos fluírem. Fui até a cozinha que encarei o armário de vidro. Ali guardava o pior de mim trancado. A chave eu tinha dado descarga meses atrás. Todos os dias passava pela cozinha e via o que estava trancado e como aquilo trazia à tona a pior parte da minha vida.

Não seria uma recaída, certo? Aos poucos estava voltando beber com moderação como foi hoje. Tinha aprendido a lidar melhor com meus sentimentos sem tentar inibi-los. Sabia o quão longe isso me levava, a linha que não podia ultrapassar. Tentei forçar os puxadores, mas lógico que não cederia. Estava tão tarde e já não era seguro ir dirigindo até o mercado mais próximo.

Que se foda, vou quebrar isso. Vasculhei as gavetas do balcão. Encontrei o rolo de massa na última gaveta, isso serviria. Fui em direção ao armário e, sem hesitar, comecei a bater com o rolo na porta de vidro, tentando quebrá-la. O barulho dos golpes ecoava pela cozinha, mas eu não conseguia parar. A raiva estava tomando conta de mim e eu precisava extravasar de alguma forma.

Após alguns minutos de batidas, a porta finalmente cedeu e estilhaços de vidro voaram pelo ar. Eu parei, ofegante, olhando parar os cacos espalhados pelo chão. Respirei fundo e estiquei o braço para alcançar uma das garrafas de vodca. Tomei um gole no gargalo. O gosto amargo esquentou minha garganta. Eu estava sóbria há muito tempo, esse era o único motivo que conseguia imaginar para quebrar uma promessa feita por mim.

Antes de me servir, varri todos os cacos de vidro do chão. Sentei no balcão da cozinha, com a cabeça apoiada nas mãos e os dedos entrelaçados. As lágrimas ainda jorravam pelas minhas bochechas e não sabia descrever o sentimento que estava tomando conta do meu peito. Raiva, talvez. Ódio. No quarto gole de vodka eu não sentia mais o amargo da bebida. Meus lábios estavam dormentes, minha cabeça girando e dez vezes mais pesada.

A campainha toca. Olho para o relógio do celular e marca meia noite e quarenta minutos. Não lembro da hora que cheguei. Meu coração gela. Ando até a porta e olho pelo olho mágico.

Claro. Só poderia ser. Ele ergue o rosto por ter escutado meus passos.

- Mas que merda - soltei em sussurro.

- Jade, está ai? Por favor, me deixe falar com você. - suplicou com a voz trêmula.

Abro a porta de imediato. Ainda estou com a mesma roupa, porém descansa e com alguns botões da camisa desabotoados. Ele encarou a garrafa de vodca na metade que estava segurando. Ah, esqueci essa belezinha aqui. Passo as costas da mão em minha bochechas para tentar enxugar as lágrimas e coloco o cabelo para trás das orelhas. Seu olhar fixo transmitia preocupação.

- Posso entrar? - pergunta por fim.

Saio da frente sem dizer nada e caminho até o sofá. Ele entra e fecha a porta com cuidado. Dá uma olhada em volta. Suas mãos estão nos bolsos de trás da calça jeans. Sento-me no braço do sofá.

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⏰ Última atualização: Mar 08, 2023 ⏰

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