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''MALDIÇÃO - em Latim, male, "mal" e dicere, "dizer, falar" formaram maledicere,

que inicialmente significava apenas "falar mal de alguém".

Foi com o cristianismo que surgiu o significado de execração,

de afastamento do que é sagrado e correto. ''





Ao despertador não era permitido o não cumprimento de sua função básica por ser este papel o pontapé inicial para que mais uma série de objetivos por ela traçados metodicamente. Caso não tocasse para seu despertar a primeira missão do dia estaria falha e um efeito dominó de fracassos se iniciaria. Ele tocou poucas vezes antes de ser desligado preguiçosamente.

Naomi Harada, 17 anos, feiticeira de grau 2 do Colégio Técnico de Maldição Metropolitana de Tóquio. Aquele fato para ela não era um sonho se realizando ou algo do tipo. Não, ela apenas viu que tinha potencial para algo e resolveu que seria um desperdício não utilizar. Decidindo aquilo, ela sabia oque se iniciaria: sua saga para cumprir tudo da melhor forma possível. Ela não toleraria que as coisas fossem feitas de uma forma qualquer, preferia a morte que isso.

Diversas pessoas queriam estar em seu lugar, tentavam, mas fracassavam por falta de talento, competência, esforço ou simplesmente por não servirem para aquilo. Ela tinha todos os atributos.

Levantou-se tomando uma ducha rápida, colocando seu uniforme constituído por uma blusa de mangas compridas, saia na altura dos joelhos, meia calça preta e seus sapatos gastos. Dirigindo-se para a cozinha preparou para si ovos e bacon rapidamente. Da mesma forma que os preparou, os degustou. Sentindo cócegas nas pernas ela se abaixou para cumprimentar seu companheiro preguiçoso.

Colocou a ração do gatinho preto no pratinho checando se ainda havia água para o pequeno. Pegou sua bolsa olhando uma ultima vez se dentro havia tudo oque ela precisava:

-Até logo Kuro, comporte-se.

O gato a ignorou para continuar sua importante missão de esvaziar o próprio prato arrancando um sorriso dela.

Sua rotina era sempre a mesma, não havendo nada que diferenciasse o dia atual do anterior. E caso houvesse, deveria ser planejado por Naomi antecipadamente para que tudo corresse da melhor forma possível, do contrário, a frustração tomaria conta dela.

Ela sabia que para as outras pessoas, seu modo de fazer as coisas era extremamente exagerado, desnecessário, além de entediante. Sabia também que se abrisse a boca para expressar tudo oque julgava possuir todas as características anteriores ela passaria o resto de sua vida concentrada nessa tarefa que por sinal, não agradaria muitas pessoas. Pessoas estas que com certeza estariam inclusas em suas observações.

Naomi procurou por Shoko Ieiri sabendo que a encontraria novamente alimentando um de seus vícios ou concentrada em algum cadáver. Apesar de frequentar a escola para feiticeiros, o foco dela era a medicina devido ao fato de ter nascido com técnicas voltadas para essa área. Durante muito tempo ela foi considerada uma espécie de curandeira para sua família, lidando de forma fácil com ferimentos, dos mais simples aos mais complexos.

Mas por ser certinha demais e não desejar fazer nada que pudesse acarretar em problemas futuramente, ela decidiu que aprenderia a fundo sobre aquilo e ingressaria em uma faculdade logo em seguida para complementar seus conhecimentos. Apesar de desnecessário para alguns e difícil demais segundo outros, somente ela poderia traçar seus próprios limites e caminhos.

Chegando ao colégio ela sentiu o celular vibrar, pegando-o prontamente e ao ver de que se tratava começou a cogitar todos os motivos pelos quais estaria recebendo aquela ligação, já pressentindo o pior:

-Ieiri-san? Bom dia.

-Bom dia Harada-san- a voz do outro lado do telefone soou cansada e nem um pouco disposta- Sinto te informar, mas não poderei comparecer hoje.

Naomi ficou em silencio por um breve momento já sabendo que a noite para sua professora havia sido longa:

-Sem problemas- foi oque ela disse, mas não oque sentiu.

-Há algo que eu possa fazer por você?- ela perguntou, não por bondade, mas querendo que ela lhe desse um motivo para estar ali e não ter perdido seu tempo indo até o local para nada.

-Na verdade sim. Liguei para pedir que leve a papelada com os relatórios da semana para o diretor Yaga. Não pode passar de hoje.

-Pode deixar.

Com isso, ela estava perdendo o controle da situação.

Os próximos eventos só fizeram com que tivesse certeza de que aquele com certeza não era o seu dia. Além de Shoko não comparecer e deixá-la responsável por algo, esse algo estava e completo caos. Além de cada pedaço do relatório estar em um local diferente da sala não havia qualquer ordem nas páginas. O processo de ajeitar tudo levou em torno de uma hora. Tempo que ela passou amaldiçoando sua professora mentalmente.

Terminando, ela se apressou tentando fazer com que aquele dia não saísse ainda mais de seu controle, mas aparentemente, se livrar daquela má sorte lhe custaria um pouco mais. Bem mais.

Naomi trombou com alguém e ao dar um passo para trás na tentativa de fazer um pedido de desculpas ela pisou de mau jeito sentindo a dor se alastrar em seu tornozelo e a queda logo em seguida:

-Opa! Mais cuidado mocinha.

Ela ouviu alguém lhe dizer e apesar das palavras serem uma repreensão, o tom de voz era justamente o contrário, estando descontraído. Descontraído demais. E ela reconheceu aquela voz. Olhando para cima Naomi viu o homem de cabelos brancos como a neve que apesar de vendado tinha sua atenção presa nela:

-Me desculpe sensei, eu não devia correr pelos corredores- ela disse colocando a mão sobre o tornozelo doído.

-Não precisa se desculpar, acidentes acontecem.

Gojo Satoru era conhecido como o mais forte feiticeiro. Mas não era essa fama que lhe chamava atenção. Ele também era conhecido por:

* Seu jeito extremamente descontraído com absolutamente todos, independente do fato de serem alunos ou superiores;

*Bastante irresponsável quando queria;

*Arrogante;

*Odiado por seus superiores;

*Galanteador.

E apesar de todos esses traços que Naomi julgava muito bizarros para um professor, ele era de alguma forma, confiável, desempenhando bem sua função dentro da instituição, mesmo que isso incluísse irritar seus superiores incansavelmente. Ela não o via muito por sempre estar com seus alunos ou fora dali, responsável por questões que ela nunca soube quais eram:

-Venha cá, me deixe te ajudar.

Ao ouvir essa frase e vê-lo se abaixar em sua direção ela sentiu um frio em sua espinha. Uma sensação de perigo iminente que dizia que ela devia negar ajuda daquele homem com todas as suas forças. Ela não soube se aquilo era apenas seu senso de dever exagerado ao extremo reagindo ao que sabia dele ou se era esse o efeito que o feiticeiro mais temido pelas maldições exercia sobre as pessoas ao seu redor. Numa reação que ela preferiu interpretar como reflexo, ela negou a ajuda do homem dando-lhe um tapa em um sua mão.

A reação chocou tanto ela quanto ele. Gojo ficou imóvel quando a viu se levantar como se nada tivesse acontecido:

-Eu estou bem sensei, não precisa se preocupar- ela se curvou- Novamente, me perdoe pelo ocorrido.

Gojo a encarava como se ela fosse uma espécie exótica. Ele sabia que ela havia usado algo para desfazer o estado dolorido que seu tornozelo se encontrava anteriormente. Ele havia sentido a energia amaldiçoada dela fluindo.

Naomi esperou que ele considerasse seu pedido de desculpas, mas como aparentemente ele preferiu ignorá-la, ela concluiu que os boatos sobre ele estavam certos e ela devia manter-se longe:

-Se me der licença.

Ela passou por ele apressadamente, mas algo naquela curta interação a incomodou. A forma na qual ela sentiu o olhar dele a perseguir enquanto ela se afastava dali também.

Amaldiçoada - Imagine Gojo SatoruOnde histórias criam vida. Descubra agora