Lá estava eu, recepção do hospital maternidade.
1º dia como mãe, só que mãe de UTIn e eu nem sabia o que essa denominação significava ainda.
Apreensiva para ter notícias, contando os minutos para autorizarem a visita na UTIn e saber de fato o que estava acontecendo.
O recepcionista avisa: "Visitação na UTIn liberada".
Eu, mais algumas mães e a expectativa de encontrar o filho.
Lá estava ele, deitado, só de fralda, com uma sonda, o CPAP, vários fios dos mais variados aparelhos e um acesso no braço.
Poder está com ele, mesmo não podendo tê-lo no colo era algo surreal. Conversei com ele e disse que logo ele estaria em casa, não havia me atentado que era só o primeiro dia.
Naquela sala gelada, cheia de esperança e medo ao mesmo tempo, chegou então o tão esperado médico responsável pela UTIn, ele passou por todos os berçários, até chegar ao meu filho sendo o último a ser atendido e com isso veio o meu primeiro relatório.
- Alguém já falou para você o que aconteceu com o seu filho? - perguntou o médico.
Falei que não tinha ideia do que estava acontecendo e expliquei sobre o que havia acontecido na noite anterior e manhã antes de ele dar entrada no hospital.
Pois bem, lá veio o relatório como eu não poderia imaginar.
Relatório Médico:
-"Olha mãe, o quadro do seu filho é um tanto complicado, os tremores que ele estava tendo, nada mais eram que convulsões recorrentes, nesse momento ele está sedado e em coma induzido, afim de aliviar o cérebro dele e reduzir as convulsões. O que levou isso foi um sofrimento fetal devido o parto, ele não recebeu oxigênio durante o período expulsivo e pode ou não ter influência daqui para a frente em seu desenvolvimento, o nível do APGAR dele foi de 2/6, uma quantidade baixa demais para qualquer criança".
Oi?
Como assim sofrimento fetal? O que é isso? Pode ter sequelas? De que tipo? Até onde isso pode influenciar em seu desenvolvimento? Mais perguntas e quase todas sem respostas. Comecei a pesquisar o que era, para tentar entender mais e as dúvidas só aumentavam.
Mais uma vez um choque e a volta no susto para a realidade. Nas visitas o médico sempre falava a mesma coisa, não teve evolução, continua dormindo, ainda não tem o que dizer, como ele não tem reação, não podemos informar nada mais além disso.
Eu já estava acostumada ao "estável", apesar de ainda não ter sentido na pele a dor da palavra "intercorrência", até esse dia.
Depois de quase uma hora de espera para a visita das onze horas, o recepcionista avisa que não teria visita, que teve uma intercorrência na UTIn e que ninguém poderia entrar.
No mesmo instante, o medo tomou conta de mim e aquela pergunta começou a gritar em minha cabeça: "será que aconteceu algo com meu filho?" Mas eu não tinha como saber, não ainda.
Visita da tarde. Negada.
Notícias só no dia seguinte.
Chegando lá, todas as outras mães tiveram o relatório de como seu bebê estava, ele foi o último mais uma vez e nisso o médico chegou com a notícia que ele tinha tido uma parada cardiorrespiratória e que por isso não teve visita no dia anterior. Mas que naquele momento ele estava estável novamente.
Sabe o peso dessa palavra? ESTÁVEL.
Se não, desejo que continue assim.
Dois dias depois, as enfermeiras me deram ele no colo a primeira vez, depois de nove dias eu ia poder segurá-lo.
Que sensação incrível.
Ele já abria os olhos, só que de um jeito muito sútil. Eu o peguei, senti seu corpo, seu cheiro e pude dar um beijo, mesmo que de máscara para protegê-lo e depois desse momento, a enfermeira pediu que eu começasse a tirar leite, pois iriam tentar a alimentação por sonda nasogástrica pela primeira vez (até o memento ele se nutria do que seu corpo tinha de reserva)....
Outubro de 2018
Com o início da maternidade descobri algo realmente doloroso.
Hoje observo o quanto muitas mães reclamam sobre o quanto não dorme a noite, em quanto o seu bebê chora, em que perdeu a liberdade e por aí vai, e eu, de maneira dolorosa, falo a quem quiser, queria eu está passando noites acordada, mas com meu filho nos braços, queria ter os seios cheios de leite para amamenta-lo e não tirar na mão deixando num potinho para o dia que ele vai poder se alimentar, queria ter ouvido meu bebê chorar ao menos uma vez, mas o máximo que ele faz são burburinhos (e sei que é de dor ou incômodo por tantos fios nele), queria ter a liberdade ao menos de ir visita-lo na hora que eu quisesse, mas preciso esperar, pra ir de acordo o tempo que o hospital permite.
Eu, definitivamente não sei do que essas mães tanto reclamam, sendo que essa situação (e de várias outras que vão pra casa sem seu filho no colo passam) e doída e elas têm a sorte de ir com eles pra casa, de acompanhar o primeiro banho, a primeira troca de fralda, a queda do umbigo e o melhor de tudo, ter a graça de ver seu bebê dormindo, vê ele sonhando e ter certeza de que ele não está tendo uma convulsão.
Só tenho uma coisa a dizer: levante os braços para os céus e agradeça a chance de ter seu filho nos braços porque até o momento só tive o meu por menos de 30min antes de ser encaminhado à UTI.
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