A DESCOBERTA DE SER MÃE ATÍPICA

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Ele nasceu, dia quinze de outubro de dois mil e dezoito.
...
Pela manhã fui a consulta padrão, fiz a retirada dos pontos da cirurgia e o médico disse que a partir dali ele poderia chegar a qualquer momento mesmo, já que nada o segurava.
Estava liberada a fazer tudo, pular, dançar, rodar...
E depois de meses eu podia fazer minhas atividades sem o medo de meu neném nascer antes do previsto, ele já estava pronto!
Dancei.
Arrumei a casa.
Fiz almoço.
Dancei novamente.
Tomei um banho bem quente e olha... a bolsa estourou.
Mais alguns exercícios e seguimos para o hospital.
Chegando lá, seis centímetros de dilatação, está ótimo!
As contrações começaram, como durante a gravidez, só que elas foram ficando mais intensas e os intervalos bem mais curtos, uma dor fora do normal (iria eu tentar um parto humanizado), as horas foram passando e as dores aumentavam ainda mais, até respirar doía, tinha a sensação de que estava sendo rasgada por dentro.
Oito centímetros.
Nove centímetros.
- Força mãe, ele já está quase, já conseguimos vê-lo. Dizia a equipe médica.
Numa dessas, eu já estava sem força e o médico percebendo chegou e me propôs irmos para o centro cirúrgico.
- Mãe, preciso que fique em posição fetal para aplicar a anestesia.
Fiquei e pude sentir a agulha passando entre as minhas vértebras e a dor ia aliviando enquanto a anestesia ia fazendo efeito.
Hora de conferir os batimentos cardíacos do bebê, tudo fluindo bem ou aparentava isso, só que eu já não tinha mais forças, não tinha mais de onde tirar, o médico chegou para mim e falou que eu só precisava fazer força mais uma vez.
Deitei e respirei e fiz toda força que eu podia.
O silêncio invadiu o centro cirúrgico.
Eu apaguei.
Quando recobrei os sentidos, não via meu filho em lugar nenhum, estava um silêncio, então perguntei por ele e pediram que eu aguardasse.
O tempo foi passando e lá se foram quase quarenta minutos, se não mais.
Me permitam ir vê-lo, ele estava num respirador, com CPAP (para ajudar ele a respirar) e uma luvinha na boca.
Ele dormia, tão calmo, tão sereno, tão perto do meu colo e eu não podia pegá-lo
Perguntei a enfermeira que horas eu poderia pegar, sentir ele. Ela disse que iria verificar com o pediatra que acompanhou o parto e me avisaria.
Fui para o quarto e não demorou, ela veio me dizer que iriam organizar tudo para levá-lo naquela noite ainda.
As horas passavam e nada.
Duas horas da manhã, ela veio dizer que não teria como ser naquela noite, mas que pela manhã ele estaria logo cedo comigo.
Não consegui dormir nada, a ansiedade me consumia.
Sete horas da manhã. Eu já estava com o coração a mil por hora, só que ele não veio. Deu nove horas e enfim ele chegou. A enfermeira o pegou e colocou nos meus braços, tentei colocar ele para mamar, ele não fazia a pega, ele só tremia, tiraram a roupa dele e colocaram junto a meu corpo, na intenção de aquecer, caso fosse frio, mas ele não parava, tremia ainda mais.
O obstetra foi até o quarto vê como estávamos e percebeu os tremores nele. Logo o pediatra chegou e nos deu alta. Achei que estava tudo certo, na sequência veio uma enfermeira dizendo que tinha ido buscá-lo e junto o obstetra com a seguinte informação:
- Mãe, consegui uma vaga para seu filho na UTI neonatal e já estamos providenciando o transporte.
Daí, foram dias ainda piores como os meses da gestação.

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