Este capítulo contém gatilho sobre suicídio se não se sentir confortável não leia
Não me lembro de ter visto aquele quarto quando entrei, mas me aproximo e logo ponho a orelha na porta tentando ouvir algo, a sensação no meu peito agora parece adrenalina, mas um medo também de ser apanhada que não entendo.
- Uma garota como ela, é óbvio que ela não foi forçada, da forma como ela se entregou facilmente - ao ouvir estas palavras não acredito no que ouço, é a confirmação que eu nunca devia ter confiado em alguém. Ao me desencostar da porta ela faz um pequeno barulho quase me denunciando, e ouço os passos dele vindo até ela. Me apresso a chegar á cama encontro a minha roupa espalhada pelo chão e a pego. Não me visto apenas retiro o lençol fino da cama e me envolto nele, logo abrindo a porta, não o quero ver nunca mais.
- Calma, não é nada do que estás a pensar - diz ele me tentando impedir de sair, mas não respondo nem quero ouvir.
Corro pelo corredor com o lençol enrolado em mim e as minhas roupas nas mãos. Vejo um homem que entra no seu quarto mas não me interesso nele. Ando agora mais devagar até ao elevador, quando ele abre vejo Carlos quase chegando a mim e dou graças a Deus pelo elevador se ter fechado no exato momento que ele ia chegar a mim. Rápido com a adrenalina me percorrendo aperto um botão do elevador que tem um sino e ele pára me dando um tempo para vestir, largo o lençol e visto o meu vestido vermelho, não sei da minha lingerie mas não interessa pelo menos não estou nua. Volto a clicar no botão quando já estou vestida e o elevador volta a funcionar normalmente, clico no número um para voltar á entrada e logo sinto o elevador descer.
A minha mente está branca, baça talvez fazendo eu não recordar o que aconteceu, mal o elevador abre eu saio, vejo que não tem ninguém lá fora, eu esperava alguém, sim talvez Carlos me esperando e se justificando. O lençol ficou para trás dentro do elevador. Sinto o frio ao me aproximar da porta de entrada e vejo que ainda está meio escuro, parece ser noite ainda, ninguém me perguntou nada no caminho até aqui, talvez ninguém veja a confusão que vai na minha mente.
Tento empurrar a porta, mas percebo que afinal diz puxar e não empurrar, puxo a porta observando a rua, várias árvores ao longe, sinto o cheiro de fresco, mas não apaga a sensação que sinto no meu peito. Tento não pensar e aí a minha mente me leva para outro lado enquanto caminho. Me lembro de quando fui viajar de como estava feliz, não a viagem ao Brasil uma outra antes dessa com os meus pais, mas me lembro também do que aconteceu quando cheguei a casa, de ver o corpo de Mia no chão sem vida.
No início acreditei que tinha morrido de velhice, mas meses depois no aniversário da minha prima, ao o pai dela referir Mia, eu sabia o que tinha acontecido ele a tinha matado, a minha gatinha, o ar no seu rosto aquele sorriso entranhado dizia tudo.
Percorro a estrada, quase no meio dela, vários carros passam quase ao meu lado se esquivando e eu não me importo realmente. Me sinto culpada, sinto que se não tivesse viajado ela estaria viva. Passo por uma ponte, neste caso uma ponte que poucos carros passam e vejo a vista dela o mar ao longe, as lágrimas escorrem ao lembrar o corpo de Mia, sinto tantas saudades dela. A sensação do meu peito volta, e eu vejo a cara de Tiago, irmão de Carlos, quando ele me forçou, parece que ouço a sua voz, dizendo que eu nunca ia ser feliz, ele tinha razão como confiei em alguém de novo?
Depois de uns minutos observando o mar volto a andar parece que o meu corpo tem vida própria e anda sem medo, passo por um cão, ele não me causa medo ele anda para longe de mim nem me tenta atacar. Percorro o mesmo caminho que percorri muitas vezes, depois das 7 deixei de as contar, todas as vezes por causa de Tiago da lembrança do que ele me fez e nunca tive coragem de acabar de vez com o sofrimento. Mas eu disse a mim mesma que não ia sofrer mais, estou mal não só por ter ouvido o que ele disse, mas com a saudade de Mia. Estou perto do mar num grande degrau de cimento.
- Me perdoa por tudo - eu digo mentalmente a Mia, esperando que ela me perdoe não ter sido capaz de a salvar. A frase que anteriormente ouvi, ele dizer que eu me entregava facilmente. Ele não sabe quanto tempo eu levei até confiar em alguém e ele me faz isso? Dizer que fui um pedaço de carne que ele pode comer e deitar fora para provar algo? Levei anos de verdade e quando o fiz percebi que nada mudaria. Sinto a água chegar perto dos meus pés me molhando, indo e vindo. Não tenho nada a perder agora não tenho. Coloco a mão no nariz talvez um instinto primordial e passo a passo chego mais perto do mar, ao me lançar, me admiro ao sentir que a maré está baixa, vou percorrendo o espaço tentando apenas andar não nadar e quando já não sinto pedras debaixo dos pés me afundo na escuridão do mar.
Esta é a minha história, a história da minha vida ou do que foi a minha vida, uma garota com apenas 25 anos que sofreu muito até á sua morte, sim eu estou morta eu me afundei naquele mar sentindo algo me puxar para o fundo algo de outro mundo, agora percorro um local, não sei onde estou, vejo pessoas andando, mas apenas flutuo, não sinto medo não sinto nada, talvez isto seja a morte ...
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Porquê?
Short StoryUma garota que desde sempre conheceu a maldade humana, descobriu do que as pessoas são capazes cedo demais, ela não confiava facilmente em alguém, quando o seu caminho se cruza com alguém do passado muita coisa vai mudar, será que ela vai ter um pou...