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O padre Sérgio vivia recluso havia seis anos. Tinha agora quarenta e nove anos. Levava uma vida dura. Não devido aos pesados jejuns e às preces — isso não lhe era difícil —, mas a um conflito interior absolutamente inesperado. As fontes desse conflito eram duas: a dúvida e a concupiscência carnal. Ambas as inimigas surgiam sempre juntas. Pareciam duas coisas distintas, quando na verdade eram uma só e a mesma. Tão logo as dúvidas se desfaziam, o mesmo acontecia com a concupiscência. Achava, porém, que se tratava de dois demônios distintos, e lutava com cada um separadamente.

"Meu Deus! Meu Deus!", pensava. "Por que não me alimentas de fé? Há concupiscência em mim, é verdade, mas também santo Antônio e outros santos lutaram contra ela, com fé. Eles tinham fé; eu, no entanto, passo minutos, horas, dias, sem que a fé me socorra. Por que todo este mundo repleto de encantos, se o pecado existe e devemos renunciar a ele? Para que criaste a tentação? Tentação? Mas não será tentação o fato de eu querer me afastar dos prazeres terrenos e me preparar para algo que talvez não exista?", dizia a si mesmo horrorizado, com nojo de si mesmo. "Canalha! Canalha! E ainda tem a pretensão de se tornar santo", repreendeu-se. E pôs-se a orar. Porém, mal havia iniciado suas orações, e a imagem nítida de como vivera no monastério já lhe surgiu à mente: uma figura majestosa de manto e klobuk. E sacudiu a cabeça. "Não, isso não está certo. É ilusão. Posso iludir aos outros, mas não a mim mesmo nem a Deus. Não sou essa figura majestosa, e sim um homem lastimável, ridículo." Levantou a batina e ficou olhando as pernas magras saindo pelas ceroulas. E sorriu.

Baixou a batina em seguida e começou a ler as orações de joelhos, benzendo-se. "Será este leito minha sepultura?", leu. E parecia que o diabo lhe sussurrava: "Um leito solitário é a própria sepultura. Tudo isso é uma fraude". E viu em imaginação os ombros de uma viúva que fora sua amante. Sacudiu-se e continuou a ler. Após a leitura dos ensinamentos, tomou o Evangelho, abriu-o e deparou com uma passagem que repetia sempre e sabia de cor: "Creio, Senhor. Auxilia-me em minha descrença". E afastou todas as dúvidas que lhe vinham. Como se ajeitasse um objeto de equilíbrio instável, aprumou-se uma vez mais sobre a base oscilante na qual repousava sua fé e recuou cauteloso, a fim de não sacudi-la e derrubá-la. Novamente sentiu-se como de antolhos e sossegou. Repetiu uma oração da infância, "recebe-me, Senhor, recebe-me", e sentiu-se leve, repleto de terna alegria. Benzeu-se e deitou-se sobre o colchão de palha na cama estreita, colocando a batina de verão sob a cabeça. E adormeceu. No sono leve, julgou escutar um toque de sinos. Não sabia se era realidade ou sonho. Mas foi despertado por batidas na porta. Levantou-se, mal acreditando que aquilo fosse real. As batidas, porém, continuaram. Sim, eram batidas muito próximas, vinham da porta, acompanhadas de uma voz feminina.

"Meu Deus! Será verdade o que li na Vida dos Santos? Que o demônio toma a forma feminina... Sim, essa voz é de mulher. Uma voz meiga, tímida, amável! Ai, ai!", pensou e cuspiu de lado. "Não, é imaginação", disse consigo e se afastou para um canto diante do atril, ajoelhando-se com aquele movimento regular e habitual no qual encontrava consolo e prazer. Abaixou-se, os cabelos caindo-lhe sobre o rosto, e comprimiu a testa já desnuda contra o tapetinho úmido e gelado (o vento soprava por baixo da porta).

Leu o salmo que o velho padre Pímen recomendava em momentos de alucinação. Ergueu suavemente o corpo descarnado e leve sobre as pernas fortes, querendo continuar a leitura, mas não prosseguiu, apurando involuntariamente os ouvidos na tentativa de escutar algo. Queria escutar alguma coisa. Silêncio completo. As gotas continuavam a cair do telhado sobre o barril colocado num canto da gruta. No pátio, a névoa engolia a brancura da neve. Tudo em silêncio. De repente, ouviu-se na janela um ruído, e uma voz nítida — uma voz meiga, tímida, uma voz que só poderia pertencer a uma mulher atraente — disse:

— Abra, pelo amor de Deus...

Sentiu que todo o sangue do corpo fluíra para o coração e se estancara ali. Não conseguia respirar. "Que Deus se manifeste, e o mal dissipe..."

Padre Sérgio (1898)Onde histórias criam vida. Descubra agora