O padre Sérgio permaneceu recluso por mais sete anos. De início, aceitava muito do que lhe traziam: chá, açúcar, pão branco, leite, roupa, lenha. Contudo, com o passar do tempo, tornava-se mais e mais rígido consigo mesmo, recusando todo o supérfluo, até que, por fim, chegou ao ponto de não aceitar nada além de pão preto uma vez por semana. Tudo o que lhe traziam distribuía aos pobres que vinham até ele.
Passava o tempo todo na cela orando ou conversando com os visitantes, que chegavam em número cada vez maior. Saía apenas para ir à igreja três vezes ao ano, e somente quando necessário ia em busca de água e lenha.
Os fatos ocorridos durante a reclusão do padre Sérgio — a visita noturna de Mákovkina, sua conversão e seu ingresso no monastério — logo se espalharam por toda parte. A partir dessa época, a fama do padre Sérgio cresceu. O número de visitantes aumentava sem parar, alguns monges instalaram-se junto a sua cela, ergueram-se uma igreja e uma hospedaria. Como de costume, a fama excedia os feitos. Vinham até ele pessoas dos cantos mais distantes, trazendo-lhe doentes, acreditando em seu poder de cura.
A primeira cura ocorreu no oitavo ano de sua vida como recluso, com um garoto de quatorze anos cuja mãe o trouxera ao padre Sérgio exigindo que este o tocasse com a mão. Nunca lhe ocorrera que pudesse curar doentes. Consideraria tal pensamento como grande pecado de orgulho; mas a mãe que trouxera o garoto havia implorado com veemência, ajoelhando-se a seus pés e perguntando por que, pelo amor de Cristo, ele não queria ajudar seu filho, logo ele, que havia curado outras pessoas. Quando o padre Sérgio afirmou que só Deus tinha o poder de cura, ela retrucou que pedia apenas que o tocasse e orasse por ele. O padre Sérgio recusou-se e entrou em sua cela. No dia seguinte, porém — isso ocorrera no outono, as noites já eram frias —, ao sair da cela para buscar água, avistou a mãe e o filho, um garoto, pálido, descarnado, e ouviu o mesmo apelo ardente. Lembrou-se da parábola do juiz injusto e, se antes não tinha dúvidas quanto a recusar o pedido, agora ficou indeciso, e nessa indecisão começou a rezar, e rezou até que uma resposta surgiu em sua alma: acederia ao pedido da mulher, cuja fé poderia salvar o filho; ele próprio, padre Sérgio, seria nesse caso um reles instrumento eleito por Deus.
Dirigindo-se até onde os dois se encontravam, o padre Sérgio realizou o desejo da mãe, colocando a mão na cabeça do garoto e pondo-se a rezar.
A mãe partiu com o filho, e, um mês depois, o garoto se restabeleceu, e espalhou-se pelos arredores a fama do santo poder de cura do stáriets Sérgio, como agora o chamavam. Daí em diante, não passava semana sem que chegassem pessoas trazendo seus doentes. Como não se havia recusado a um, não poderia recusar-se aos outros, e assim pousou a mão em muitos e por muitos orou, e a muitos curou; e a fama do padre Sérgio propagou-se aos quatro ventos.
Assim transcorreram nove anos de monastério e treze de reclusão. Padre Sérgio tinha a aparência de um stáriets; tinha a barba comprida e grisalha, mas os cabelos, embora ralos, ainda eram negros e ondulados.