A colheita

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Maio, 2025

Foi a primeira vez que comprou um pastel na cantina da universidade.
Balançava a perna para descarregar a ansiedade enquanto aguardava ela chegar. A luz da lâmpada trêmula às vezes apagava e o abandonava em um escuro parque. Um morcego batia suas asas por cima do lago até desaparecer na escuridão.
Deu a última mordida, saboreando o queijo que se deixou escorrer para o fundo, amassou o papel e o lançou na direção de uma lixeira vermelha, errando o alvo.
Líria chegou e simplesmente parou no caminho, fixando seu olhar na bola de papel.
- Você vai recolher isso, né? - Isaac se assustou: ela não era mais a mesma.
- Cla-claro. - Levantou-se, o coletou e descartou na lixeira azul, o que a fez destravar e abrir um sorriso.
- Deu certo?
- Eu consegui - contou, sorridente. - Fui contratado.
A garota o abraçou, o deixando enrubescido de vergonha.
- Sabia que iria dar certo. - Ela levantou a mão do anel depois de tocar levemente em seu peito. - "Ut sementem Feceris, ita Metes", ou seja, você colhe o que planta. Estudou um bocado e conseguiu a vaga. Estou muito feliz por ti.
Por um tempo não disse nada. Apenas a olhou de perto.
- Eu gosto de você - admitiu, com o coração acelerado. - E sei que faz apenas 24 horas que nos conhecemos, mas foi a primeira pessoa para quem quis contar quando soube que seria contratado... - Inquieto, olhou para os lados enquanto pensava em algo. - Se eu te chamasse pra sair, para nos conhecermos melhor, você viria?
A luz amarelada do poste se apagou. Líria o puxou e o beijou na escuridão da noite.
Uma coruja se espantou quando um galho se moveu.

O Manuscrito de CarvalhoOnde histórias criam vida. Descubra agora