Capítulo 32- Mudanças no tabuleiro

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Vic estava de olhos fechados, dançando. Ela sempre dava um jeito de fugir do VIP para a pista quando os irmãos não estavam por perto. Alguns a olhavam de canto ou cochichavam " olha se não é a princesinha da máfia". Ela nunca conseguia se enturmar, vivia sob a sombra do constante estigma de ter os irmãos que tinha, morar onde morava e ser quem era.

Os A.G dominavam, todos tinham medo deles — mesmo que para Vic eles fossem apenas os seus garotos, as outras pessoas não os viam assim.

Ela girou, seus cabelos chicoteavam o ar, seus quadris balançavam de um lado para o outro. Tinha um homem a olhando do bar. A nuvem densa de fumaça de charuto a impediu de enxergar o rosto dele num primeiro momento, mas assim que ele assoprou a fumaça para longe, Vic percebeu que aquele era Henri Van Der Berg, o prefeito.

O corpo de Vic gelou, mas ela não se mostrou menos a vontade por isso.

Do alto da soberania da ala VIP, Z estava a espreita, andando de um lado para o outro, passando os olhos pela pista. Vic não sabia se ele tinha visto Henri, mas Z estava sério demais naquela noite.

O palhaço sombrio dos Anjos Guerreiros. O Monsenhor tinha assumido.

Vic escorregou pela pilastra de metal, sem parar de mexer os quadris até deslizar para o chão. Ela ainda podia sentir o olhar do homem sobre si, e dessa vez, retribuiu. Vic não sabia muito bem o que pensar sobre Henri. Ele era amigo de Louise e ela cresceu o vendo frequentar sua casa, mas Daniel e Théo o odiavam.

— Senhor prefeito — Vic sorriu com cordialidade para ele. Era a primeira vez que o via por ali. Ela girou na pilastra de ferro como uma criança travessa e se curvou na direção do homem.

— Pequena Vic — Henri correspondeu. Ele não estava perfeitamente alinhado como nos comícios. Longe disso, sua gravata estava solta, os botões do colarinho abeto, e aquela foi uma das poucas vezes que Vic o viu sem terno.— Sempre sendo a mais simpática da família. Desde pequeneninha, desse tamanhozinho — Henri fez um gesto indicando— você estendia as mãozinhas e dizia " oi tio Henri". Você se lembra?

Vic soltou uma risadinha, verdadeiramente corada, apesar de não se lembrar. Existiam muitas coisas da infância que ela não se lembrava.

— É impressão minha ou o seu irmão tá ignorando o próprio toque de recolher?

— Nós não estamos na rua — Vic colocou as mãos ao redor da boca para confidenciar o segredo.

— Você é muito esperta — o olhar de Henri desceu, a avaliando.

Podia ser estranho ter os olhos de Henri sobre si com tanta fome, ele já era um homem formado quando Vic ainda era criança. Ele a viu crescer. E Vic sabia que não devia confiar em ninguém que não fosse da sua família. Mas era bom ser elogiada por alguém que não fosse seus irmãos, só para variar.

Por mais que não tivesse pretensão de fazer nada, Vic gostava daquela atenção. Lhe causava bons formigamentos.

Alguém puxou seu braço de repente e ela viu Z lhe afastar do homem.

— Ei, eu estava conversando!

— Acabo a conversa então.— Z encarava Henri, que o encarava de volta entre a fumaça.

— São só vocês que podem invadir o que é meu então?— respondeu o prefeito Van Der Berg.

— O que foi que você disse?— Z avançou como um animal, mas foi segurado por Vic.— Encosta um dedo nela pra você ver se eu não te viro no avesso e coloco a sua cabeça de enfeite naquela droga de estante!

— Ora, eu não estava falando da Vic, estava falando da boate — Henri soou descontraído.— Ou será que tem mais alguma coisa minha que você invadiu além da minha casa?

Espectro da Meia-Noite/ Legado Das Sombras- Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora