Capítulo 26- Dose diária de violência

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Théo permaneceu no subsolo mesmo quando os outros saíram. Éros ficou o olhando, esperando que ele fizesse alguma coisa.

E ele fez.

Théo girou a chave no indicador e a colocou na fechadura, abrindo a porta da cela. Ele entrou e se sentou de frente para Éros. O seu silêncio e seu olhar eram sempre assustadores.

— Então você quer que eu acredite que a minha irmã te soltou num momento onde a casa estava completamente desprotegida, e ao invés de ir para a sua casa, que fica do outro lado da rua, você preferiu dar a volta na cidade e praticamente implorar que o meu irmão te encontrasse.— Théo fazia desenhos invisíveis na própria coxa. Ele apenas ergueu os olhos para Éros quando acabou o raciocínio.— É o princípio do cavalo de Tróia. Pra destruir, você precisa estar dentro. Isso vale pra tudo; mentes, corações, Impérios. Eu sei que está entendendo o que eu estou falando. Você entende de política. E gosta disso.

O semblante de Éros permanecia impassível, mesmo diante da acusação incrivelmente acertava. Théo enxergava nas entrelinhas e isso era um perigo para os planos de Éros.

Mas o princípio da vitória sempre foi e sempre seria: esconder o jogo. Mesmo quando se era descoberto — um jogador de poker não desiste de sua jogada quando lhe acusam de blefe, ele continua blefando.

Aumenta a aposta

De certa forma, aquilo era estimulante para Éros.

— Já que estamos falando de política, eu gostaria que você fosse o primeiro a saber que eu destruí todas as chances que os mentalistas ainda tinham de se erguer quando fatiei o corpo do seu professor em pequenos pedaços e os espalhei pela cidade — o tom de Théo se manteve calmo a todo momento, como se comentasse algo sobre o clima. — Outra morte de outro humano que vai ser atribuída aos mentalistas. Eu tenho certeza que os humanos dessa cidade vão se revoltar com isso, você não?

Dessa vez, Éros não conseguiu esconder o ódio que lhe subiu. Théo era perverso. Perverso de verdade.

Éros sentiu a ponta dos dedos gélidos de Théo tocar de repente na maçã de seu rosto e descer até seu queixo.

— Você se parece tanto com a sua irmã, sabia?

— Você é doente.— Éros segurou o pulso dele e o afastou.— Você tá incitando o ódio dos humanos contra nós.

— Eu não, você tá. Deveria ter pensado melhor antes de fazer essas coisas.

— Eu não fiz...!

Éros se interrompeu.

Pouco importava o que ele tinha feito ou não. Théo foi cuidadoso o suficiente para que parece-se obra mentalista, obra dele, para deixar os humanos em pânico.

A verdade era a última coisa que importava naquela situação.

— Acho que agora quem não vai querer sair daqui, é você— Théo disse a Éros.

                            ***

— Você tem ideia do que você fez?! O Éros tá trancado no nosso porão e você colocou a cidade toda atrás dele!— Daniel apoiou as mãos sobre a mesa, encarando o irmão.— Que brincadeira é essa, Théo? Você tá querendo me desafiar, é isso?

Théo não se deu ao trabalho de sentar para ter aquela conversa.

Daniel massageou as têmporas.

— Eu sei que o jantar na casa da Louise te afetou e eu sinto muito por isso. Mas eu quero que entenda que isso é entre nós, eu e você, e que você não pode transformar uma briga nossa em algo que afete todo o sistema político dessa Organização.

Espectro da Meia-Noite/ Legado Das Sombras- Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora