Ela parou de andar e eu segui seu olhar até uma mansão, jades subiam pelas paredes até as janelas grandes do segundo andar. Havia um jardim na frente com flores brancas que refletiam a luz do sol. As duas portas de carvalho negro eram imponentes como o restante do lugar, ao lado á uma distância curta, havia um celeiro. Eu conseguia ouvir relinchos vindo de lá.
Ela apertou a minha mão e voltamos a andar em direção à mansão.
: Ele vai sentir seu cheiro, estará aqui em segundos, ele também não vai te machucar. —Avisa calma.
Assim que ela terminou de falar, ouvi a porta ser aberta, mas não tive tempo de olhar quem saiu de lá. Ele já estava na minha frente. Seus olhos totalmente brancos, seus cabelos loiros quase tocavam os ombros, e a franja tocava alguns de seus cílios, as grandes asas se estendiam abertas, ele me analisava como ela.
: Ela...
: Não. —Responde séria.
: Vamos pra dentro. —Ordena ainda me olhando.
Ela me puxou mais uma vez e passamos pela porta, tudo parecia maior do lado de dentro. Quadros pintados enchiam as paredes da sala de estar e seguiam escadas acima. Eu tinha a estranha sensação de ter alguma ligação com aquele lugar... Com aqueles seres.
Sinto muito...
Não!
Por favor... por favor...
Eu não posso.
O choro... os gritos... as vozes...
Não sei quanto tempo fiquei presa dentro do lapso, mas acordei com a garota me chamando.
: Como se sente? —Pergunta o loiro, que agora estava sentado no sofá da sala de estar.
—Quanto tempo?
: Alguns minutos. —Ela respondeu se levantando do sofá, onde me colocaram.
: Você...
: Vamos. —Diz se levantando. —Temos outras coisas pra resolver. —Afirma séria. —Não importa o que faça, não saia dessa casa. Em hipótese alguma. Seu quarto é a terceira porta á direita do corredor lá em cima.
Ele me olhou por alguns segundos então se levantou.
: Algumas coisas aqui, são iguais à sua casa. A comida é uma delas, se estiver com fome, a cozinha fica ali. —Diz apontando para o cômodo atrás de nós. —Se precisar de qualquer coisa, é só verbalizar e então terá, a casa é protegida, qualquer possível ameaça não consegue vê-la, nem rastreá-la. Também não sentem seu cheiro aqui. Vai estar segura contanto que não saia desta casa, não vamos demorar.
E então, eles saíram. Me perguntava pra onde teriam ido. Eu queria tanto explorar o mundo lá fora, pelas janelas tudo era tão convidativo, mas ainda ouvia as vozes de cada um dos dois ecoando pela minha cabeça, me avisando que não devia sair. Que não devia ir à lugar algum lá fora.
Só me restava tentar lembrar de algo. Olhando as pinturas ainda sentia algo familiar, sabia que já tinha as visto, e tentava com todas as forças me lembrar mesmo sabendo de todos os avisos da minha psiquiatra sobre não forçar. Eu queria muito me lembrar, queria me livrar dessa sensação horrível de vazio, queria entender tudo isso... Eu sentia que já estive aqui em algum momento, mas quando tentava me lembrar parecia que era apenas um surto meu.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Locked Memories (Sob Alterações)
FanfictionE se a vida que você vive, a forma como vê o mundo, não fossem o que você pensa? E se o mundo que você conhece não fosse a única coisa que conheceu durante a vida? E se tudo que você acredita e toma como verdade, só fosse assim por uma ilusão criada...