Capítulo III - Gandara

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O sol já estava alto no céu quando alcançou o fim da garganta naquele desfiladeiro que dava pra cidade de Gandara. Desceu do cavalo, e manteve-se ainda na entrada da garganta, a qual era encoberta por algumas rochas, altas e juntas o suficiente para ocultar quem estivesse naquela entrada, embora tal empreitada não fosse precisa, já que a entrada parecia pouco importar para os guardas que vigiavam de cima dos altos muros de argila, madeira e pedra da cidade, devido a sua posição pouco vantajosa pra qualquer exército. E de que qualquer forma, a cidade apresentava poucas opções pra qualquer um que a visse. Seus muros eram altos, largos e espessos, merlões afiados se enfileiravam no topo como cercas, atrás dos quais soldados caminhavam acima dos muros. Mais altas ainda eram suas torres, largas e com várias ameias no alto, similares as das torres que vira no oeste, embora de constituição mais compactada. De suas janelas, podia vislumbrar silhuetas humanas com elmos que observavam lá de cima, tendo podido vê-la até mesmo naquela parte, mas que por sorte, não a vira, e se vira, não dera importância. Shayenne se sentiu frustrada por aquele descuido ser realmente fundamentado, pois não havia jeito de entrar naquela cidade, mesmo os exércitos nagathianos teriam dificuldade de invadir aquela cidade, mercenários certamente não teriam a menor das chances, a única coisa que poderia realmente quebrar as defesas e destruir a cidade, eram de fato, os dragões, que voavam, eram enormes e resistentes o suficiente para suportarem o ataque de flechas e sopravam fogo, o qual teria poder suficiente para derreter aquelas muralhas, diziam, embora Shayenne jamais vira algum em ação em toda sua vida. Não restava mais nada a não ser apelar a draconiana, mas a rainha amazona era orgulhosa e não queria ceder, talvez houvesse alguma forma de pelo menos se infiltrar na cidade, e se disfarçar entre a população, pensaria em como libertaria suas irmãs e sair da cidade depois, com mais calma, talvez estivesse em mais segurança dentro daquela cidade, cujo povo não queria sua cabeça (ainda), e não haviam homens cinzentos que os quisessem perseguí-la detrás daquelas muralhas, o cavalo talvez precisasse ser sacrificado, pois fosse como fosse não conseguiria leva-lo para dentro. Era duro e lamentável fazer aquilo, já que tinha aquele cavalo há muitos anos, como um presente da própria Farwinni, mas não havia outra opção melhor. 

Começou a ponderar as opções. Entrar pela frente da cidade, talvez não fosse uma boa ideia, pois certamente seria questionada, e com certeza, não importasse o que dissesse, não se importariam com ela, nem abririam a porta da cidade a não ser que tivesse que falar com os ministros, aristocratas ou com o próprio rei, e não queria isso, já que pretendia levar essa missão no melhor sigilo possível, e não queria ter outro povo perseguindo-a até os confins do mundo. Pensou em se juntar a quaisquer das caravanas que entrassem na cidade, mas essas eram costumeiramente seguidas de mercenários e guarda-costas que com certeza iriam querer tirar satisfações, e certamente ainda seria questionada ao chegar nos portões. Poderia se disfarçar de escrava, mas era uma empreitada perigosa, já que os kmaelianos eram tidos como severos senhores de escravos, uma vez como escrava, talvez não mais conseguisse se libertar dos grilhões, e já havia passado tempo suficiente agrilhoada para ter que voltar a essa condição outra vez, não desperdiçaria sua sorte. Os muros eram constantemente vigiados, então nem pensar em se aproximar para verificar se haveriam falhas ou rachaduras nos muros, suficientes para que pudesse se esgueirar para dentro da cidade, pois certamente não existiam, a julgar pelas lendas de como foram construídas e do esmero de seus nobres. As opções foram escasseando, mas não demorou para que lhe surgisse uma ideia brilhante, embora arriscada: ir por debaixo.

Como a maioria das cidades kmaelianas, Gandara não se localizava próximo a nenhum rio ou qualquer corpo de água superficial, ao contrário, toda a água utilizada na cidade provinha principalmente do subsolo, muitas vezes nas mais profundas camadas, de onde a água era captada por dutos que a conduziam até a superfície em poços e fontes da cidade, a qual era utilizada pela população no interior da cidade. E se a água tinha por onde entrar, certamente tinha por onde sair. Entretanto, o esgoto de Gandara não parecia ter um sistema de canalização como ocorria nas cidades do oeste. Também haveria uma opção menos provável, mas que podia valer, que seria entrar por alguma passagem secreta, utilizada pelos nobres em casos emergenciais, embora fosse um pouco mais arriscada. De qualquer forma, a ideia da amazona era entrar em alguma parte da cidade por baixo, sem ser notada, e a noite, poderia dar uma ronda pela cidade, descobrir onde estavam as suas irmãs e tirá-las da cidade da mesma forma que saiu. Mas para entrar na cidade desta forma, precisaria encontrar alguma caverna profunda o suficiente que a levasse pra algum poço subterrâneo que estivesse sendo usado pela cidade, daí seguiria os ductos e sairia por algum poço ou fonte do tipo, embora esperaria até a noite pra sair discretamente, e assim, de dia estaria mais disfarçada entre o povo (após pegar umas roupas, claro, algo que ela resolveria rapidamente no interior da cidade, ou assim esperava), e procuraria saber onde estavam suas irmãs. Um processo que poderia durar muito tempo, e não poderia levar o cavalo junto, pois pouco teria vantagem no subsolo, e seu cavalo certamente não duraria mais uma semana, mas não o deixaria abandonado ali, pois não só chamaria atenção, como não era nada legal deixar sua montaria ali, sofrendo de insolação, fome e sede, precisaria sacrificá-lo, sua missão agora era salvar as irmãs de sua tribo, providenciaria outra montaria quando saísse, e certamente suas irmãs também não tinham cavalos, assim que não conseguiriam acompanha-la.

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⏰ Última atualização: Mar 18, 2023 ⏰

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