Naquele horário o café era sempre mais calmo, por isso era o horário preferido de Suppasit. O ex militar de trinta e dois anos, se diria ao interior da cafeteria, já ansiando pelo sabor doce e frio de um delicioso Latte. Porém a tranquilidade que o homem buscava, não seria encontrada naquela tarde…Assim que se aproxima do balcão, uma agitação pode ser ouvida na calça em frente ao estabelecimento. Vozes gritam altas e uma movimentação chama sua atenção, mas não mais do que as mãos que se agarram a roupa de Suppasit, claramente pedindo ajuda. O garoto era apenas alguns centímetros mais baixo que ele, mas as mãos trêmulas que agarravam sua camisa, lhe faziam parecer apenas uma criança. Olhando através da janela o militar, entende o nervosismo do garoto. Os homens la fora, pareciam procurar alguém, e suas roupas e posturas davam um ar de perigo a cada um deles. Provavelmente eram agiotas, Mew sabia que ele não se livraria deles, mas se pudesse ao menos adiar o encontro, talvez fosse de alguma ajuda ao menor. Suas mãos envolvem os ombros do garoto lhe puxando mais pra perto. A garota que espera no balcão lhe encara de testa franzida e olhos atentos — Boa tarde, um Latte gelado e um chá de baunilha com xarope extra – o sorriso dado após a frase, derreteu um pouco a expressão confusa da atendente. A garota se vira, deixando-os a sós, o corpo ainda embaixo de sua guarda tremia e parecia fraco demais, o pedido foi entregue e Suppasit os guia para um das mesas de madeira. O garoto parece ter dificuldades pra sentar, mas o faz depois de um pequeno resmungo. Mew se sentia ainda mais intrigado com o jovem desconhecido.
— Qual seu nome ? – de forma clara mas calma, ele inicia uma conversa amigável, mas o garoto estava claramente apavorado demais pra lhe responder, os olhos inquietos vagavam pelo espaço cuidando tudo e todos ao seu redor. Suppasit começa a se preocupar com a situação, sua atenção estava focada na movimentação que agora se direcionava pro interior da loja. O tempo foi quase nenhum, mas graças ao treinamento de elite seus reflexos foram instantâneos — ABAIXA – o corpo do garoto foi jogado no chão, ao passo que a mesa foi virada, formando uma barreira. Os disparos caíram como chuva em sua direção, enquanto Suppasit alcançava a própria arma na cintura, soltando muitos resmungou durante a ação. Achou que seus em ativa haviam acabado.
Apenas uma olhada pelo canto da mesa é necessária, e os alvos já estão marcados, as costas prensadas contra a mesa ficam tensas por um segundo, antes das mãos ágeis executarem o que a mente estrategista já tinha simulado. Um tiro certeiro no meio da testa, *menos um*, um tiro na perna, a queda de um corpo e a arma que voa longe
*menos dois*, mais um tiro ecoa acertando em cheio o peito do homem que cai ao chão *menos três*, tudo indo perfeitamente como planejado, mais duas balas e mais dois homens, ou era isso que Suppasit havia planejado, mas o novo homem que atravessa a porta lhe surpreende — Merda merda merda – Mew detestada mudança nos planos.Precisando pensar rápido, ele varre a área com o olhar, pensando em suas melhores alternativas. — Garoto, escuta só – o corpo encolhido e trêmulo, nem se mexia. Respirando fundo ele toca o garoto lhe fazendo encara-lo. Os olhos umidos e assustados encontram os seus, e Mew sente seu peito apertar, ele já sabia, mas naquele segundo sua mente expressa o que o coração sentiu muito tempo antes " ele precisa da minha ajuda "
— Me escuta, vai ficar tudo bem ok!? Mas preciso que faça exatamente o que eu disse tá bom!?Mesmo com visível medo, o garoto balança a cabeça em concordância — Ok, tá vendo aquela porta de vidro!? Aquela é a cozinha, assim que eu disser, você vai correr com todas as suas forças até lá e se esconder dentro da geladeira. Fica tranquilo eles desligam o frigorífico nas segundas quando não tem encomendas. Não abra pra ninguém, eu vou te encontrar quando terminar tudo aqui ok ? – a ordem era meio maluca e assustadora, mas os olhos de Mew expressavam tanta confiança que o garoto não teve coragem de negar o pedido, apenas acena com a cabeça novamente — Certo, no três ok !? Um… Dois… TRÊSSS – ao sinal, o menor não viu mais nada, baixou a cabeça e correu.
O som do tiro ecoou alto e mais um corpo caiu, um dos homens restantes rosna, corredo com a arma em punho em direção a Suppasit. O ex militar agarra uma das cadeira e joga em direção ao homem, assim que o móvel atinge o agiota, um chute é dado em seu joelho sendo possível ouvir o som da patela se quebrar, assim que cai no chão, o homem recebe outro chute no rosto lhe fazendo desmaiar. Mew até queria sorrir, mas o som do gatilho sendo destravado bem ao lado de seu ouvido, lhe travou o maxilar. Erguendo as mãos ele vira o rosto em direção ao homem, ficando com a arma rente ao centro de sua testa, o sorriso assassino e convencido do homem de preto, com certeza não era a cena que o militar gostaria de ver antes de sua morte.
O gatilho foi puxado e o click, ecoou novamente. Ambos olhares se arregalaram diante da cena, a arma estava sem balas. O mafioso que quase lhe tirará a vida se espanta tropeçando pra trás, e sem perder tempo Mew avança, três socos e uma rasteira foram o suficiente pra imobilizar o meliante. Mas a briga ainda não tinha acabado, ao que parece não ia ser tão fácil assim, o outro homem também estava sem balas, mas ao contrário do amigo desmaiado, esse era bom de briga. Mew recebeu um soco no rosto, fazendo um pequeno corte no lábio inferior. Gentilmente retribuindo, quando Mew acerta dois socos em seu estômago.
Ninguém mais estava por perto, até os atendentes já haviam ido embora, mas no interior da cafeteria dois corpos ainda lutavam avidamente, o lugar já estava revirado, os rostos manchados e com cortes espalhados, Mew mantinha o treinamento mesmo depois de aposentado, mas precisava demitir que o outro cara não estava nada mal também — Es…. (Respiração pesada) Espera só – fazendo um sinal com o dedo, como se pedisse por um minuto de descanso, Mew encara o homem, e estica a mão em direção ao seu café que ficou abandonado sobre a mesa, quando tudo isso começou. Assim que a mão agarra o copo Suppasit sorri. O líquido foi jogado sobre os olhos do homem, o cegando momentaneamente, aproveitando a brecha, sua mão segura com força os cabelos escuros do bandido, e com mais força ainda, bate a cabeça dele contra o tampo da mesa, três vezes, só pra garantir. O corpo cai com um baque seco no chão. Suppasit respirando agitado e se apoiando nos joelhos, sente o peso do corpo se multiplicar por mil, um suspiro profundo e ele já se direcionava até a porta por onde o menor passou um tempo atrás, e onde ele espera que ele ainda estivesse. Porém se interrompe por um momento, se abaixa e vascula os bolsos do homem agora inconsciente — Você me deve 17,50 pelo café – pegando alguns trocados na carteira alheia, ele devolve os pertences do desacordado, agora indo em direção aos fundos do estabelecimento.
As portas pesadas se abrem, e logo se fecham assim que ele passa, o silêncio que agora ressoava ali era até um pouco assustador. Com calma ele bate na porta do freezer, falando baixo pra não assustar o menor — Eii garoto, sou eu. Acabou, pode sair agora – recebendo apenas o silêncio de volta, Suppasit começa a ficar angustiado, até que a porta se abre lentamente, só para lhe por em panico verdadeiro. O garoto tremia, mas agora não mais de medo e sim pelo frio absurdo de sua pele. O freezer não estava desligado, os labios machucados e volumosos do garoto agora estavam azulados, as sobrancelhas tinha pequenas gotículas de gelo — Ahhh merda, você é louco… Se viu que tava ligado por que entrou?? – Mew não podia crer naquilo, o que mais lhe impactou foi o olhar que lhe encarava e parecia dizer " por que você disse pra fazer " o que era loucura, quem seguiria uma ordem de um estranho de forma tão cega assim !? — Droga, vem, vamos sair daqui ou você vai ter hipotermia – sua jaqueta já era acomodada sobre os ombros do garoto, enquanto seus pés se arrastavam na direção em que Mew lhe puxava.
Ao chegar na porta pela qual acabou de passar, Suppasit cospe um palavrão. Do lado de lá da porta, inúmeros homens vestidos em ternos examinam o local, ele até sairia e explicaria a situação, mas claramente aqueles homens não pertenciam a parte confiável da sociedade. Um letreiro luminosos e néon parecia anunciar " Perigo" acima de suas cabeças. A conversa pode ser ouvida, ainda que não precisasse daquela informação pra saber o que acontecia ali — Achem o garoto – a ordem foi dada alta, e os homens já começavam a se movimentar pelo salão, Mew encara o garoto trêmulo e gélido ao seu lado, que de olhos arregalados se agarrava ainda mais contra seus corpo. Não sabendo exatamente o que fazer, o ex militar só pode expressar o pensamento que não saia de sua mente desde o momento em que o garoto surgiu no café — Quem diabos é você??