Não sei quando decido sair do lugar, do cantinho confortável e seguro entre minha cama e meu guarda-roupas. Blue, meu cachorrinho de infância, costumava se esconder ali toda vez que chovia e trovejava. Eu não entendia o motivo naquela época, mas agora entendo: os barulhos externos parecem muito menores.
Tudo fica abafado, distante e vago, não há um lampejo de perigo à vista – ao menos, não enquanto você está ali, escondido, embiocado entre o colchão e o gélido da madeira. Por isso mesmo não entendo porque meus pés insistem em seguir caminho rumo à escada, indo contra meus instintos inatos de sobrevivência.
Faço um esforço imódico para pisar nos degraus como uma pluma, leve e vagarosamente, temendo denunciar minha presença. Os gritos ficam mais altos a cada passo e, com eles, meu peito arde tanto que me formiga os braços. Tento refrear minha respiração descompassada, mesmo que isso piore o aperto sob meu tórax e me cause uma sensação de desfalecimento.
Meus pés fincam no penúltimo degrau, enquanto ainda estou escondida pela parede da sala, e me agarro com robustez no corrimão. O vão da minha cintura dói pela força que espremo meu corpo contra o apoio, mas não dou a mínima, sequer esprimo uma careta.
— Você é um covarde! – mamãe grita com a voz trêmula.
Não preciso olhá-la para saber que chora descompassadamente enquanto meu pai ri alto e espaçado, achando a cena cômica.
— Foda-se – ele responde. – Pega suas coisas e sai daqui agora. Você e essa sua filha de merda.
Filha de merda.
Sou eu.
— Ela não tem nada a ver com isso, Doyun! Ela é sua filha também, não ouse...
Sua fala é interrompida por um tapa.
O barulho estridente me faz estremecer no lugar, e o som da televisão, ligada no canal principal de notícias, preenche a casa por alguns segundos.
Eu acho que é a primeira vez que meu pai bate na minha mãe.
Não sei quanto tempo fico segurando a respiração pelo medo de ser ouvida, já que os dois estão calados e mamãe parece estar segurando o choro, mas quando ouço seus passos caminhando em direção à escada, volto a puxar o ar com força.
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CAMPO DE VIDRO | Jungkook
FanfictionYejin conhece Jungkook desde a adolescência, mas eles nunca trocaram mais que três palavras entre si. Ele sempre fora tão bonito que ela nunca conseguira encara-lo por mais que dois segundos. Ainda assim, era por ele que seu coração sempre batera ma...