Como eu havia contado no capítulo anterior, não tinha ninguém naquele momento que pudesse segurar na minha mão e falar que ele estava errado e que ele era doido, não tinha ninguém que me avisasse que eu não era culpada, e que me contasse que não era difícil me amar. Mas porra, não tinha. Eu tinha 11 anos e já pensava que era uma pessoa difícil de lidar e de amar... Minha mãe voltou para buscar a gente, mas já tinha algo de errado na minha mente e eu não conseguia entender o que era. Mas eu não conseguia falar que amava minha mãe e minha irmã, Vênus continuou na outra cidade e eu não tinha mais notícias do meu pai, mas tinha algo de errado na minha mente, sempre que eu me estressava ou me irritava, eu perdia a memória do que eu falava ou fazia e quando eu sentia muita raiva sentia uma dor muito forte na cabeça. Eu não era mais a heroína da minha irmã, eu me tornei o seu monstro, eu ameaçava ela e se ela não fizesse o que eu mandava, eu espancava ela até eu cansar e continuou assim por muito tempo, tenho certeza que até hoje se eu contar até três ela faz o que eu mandar pelo o medo da minha rejeição e por medo de mim. Eu me tornei o que eu mais odiava, minha mãe me olhava com os mesmo olhos que olhava para ele, com raiva, medo, nojo. Eu podia ter lidado com a rejeição do meu pai de outra forma, mas eu não sabia, eu lidei da forma errada, mas naquele momento era a única forma que eu sabia lidar. Não saia mais palavras bonitas da minha boca, só raiva e ódio, rancor, tristeza, arrependimentos e o que for de ruim, mas naquele tempo aquilo não me afetava, afetava as pessoas que eu amo, minha irmã e minha mãe, agora era só nós três e eu estava quebrada. Foi ai que eu comecei com o álcool, com 14 anos dei o meu primeiro pt, com 15 cheirei minha primeira carreira de cocaína, com 15 ficava nas esquinas cheirando loló, com 15 anos eu fazia qualquer coisa para me tirar da realidade e que não me deixasse sozinha com os meus pensamentos. Como minha mãe estava criando a gente sozinhas, ela não tinha tempo para a gente, não lembro um momento nosso quando eu estava nessa fase, ela trabalhava de dia e de madrugada e isso me dava o direito de fazer o que eu quisesse, já que eu que estava cuidando da casa, deixava minha irmã dormindo em casa e saia de madrugada para ficar em esquina bebendo e me drogando, aquela parecia minha pior fase, mas ainda ia piorar mais.
Meu pai resolveu aparecer, ele tinha me dito que tinha parado de beber, e porra fiquei tão feliz. Ele estava bem e me queria na vida dele de novo, queria eu e minha irmã de novo. Minha mãe, obviamente, não confiava nele e não deixou a gente ver ele, mas a minha irmã mais velha, Vênus, estava grávida e era gravidez de risco e como eu já tinha 15 anos eu poderia ajudar ela em casa e foi o que eu fiz, com 15 fui morar com minha irmã mais velha, na mesma cidade do meu pai e ele foi lá se encontrar comigo, na primeira semana com ele foi um paraíso, ele era um homem bom quando estava sóbrio, ele me abraçava, ele me levava para sair, ele me dava atenção e eu estava amando isso... Eu nunca tinha recebido essa atenção dele, e ele também estava feliz, então certo dia ele falou que ia comprar um vinho, pipoca e uns filmes para a gente assistir.
- Pai, não compra. O senhor sabe quando fica quando bebe, vamos só assistir e comer, por favor.
- Relaxa Lua, vai ser só um vinho, não vou ficar bêbado.
Ele ficou bêbado. Ele não comprou só um vinho, comprou dois vinhos e uma caixa de cerveja, enquanto eu assistia, ele bebia e conversava comigo, ainda estava tudo bem.
- Quando tua mãe deixar aquele caba feio, me avisa visse, vou conquistar ela de novo para a gente voltar a ser uma família. - Ele falou abrindo a última cerveja
- Não acho que ela vá deixar Carl, ela tá feliz com ele. -
Falei enquanto limpava a sala da casa da minha irmã, ele tinha sujado tudo e faltava pouco para ela chegar, ela tinha ido no mercado com o marido dela. Depois que eu falei isso, o meu pai se irritou e saiu de casa e foi até sua moto, ele tinha me ensinado a pilotar ela e como ele estava bêbado, não deixei ele ir sozinho.
- O senhor vai para onde? - Falei preocupada
- Não é da sua conta, me dê a chave. - Falou embriagado e vindo até mim.
- Não vou deixar o senhor sair de moto bêbado, eu levo o senhor. - Falei subindo na moto e ligando ela.
- Vou comprar cigarro. - Falou subindo na moto.
Quando chegamos no mercado ele olhou para mim e sorriu
- O senhor vai comprar bebida...? - Falei com tom da voz baixo
- Lua, eu sou adulto, posso beber quando eu quiser. - Falou entrando no mercado..
Não entrei com ele, fiquei perto da moto com os olhos cheios de lágrimas, como pude ser tão burra???? Obvio que ele nunca iria mudar, ele é assim, sempre foi e sempre será! Ele saiu do mercado com várias sacolas, ele tinha comprado bebidas e besteiras para eu não brigar com ele, então voltamos para casa, quando chegamos minha irmã já estava em casa.
- Ele já tá bebendo? - Minha irmã perguntou com raiva.
- Sim... Desculpa, não conseguir controlar ele. - Falei triste.
- Ele vai dormir aqui? - Meu cunhado perguntou.
- Vou, amanhã não trabalho. - Meu pai respondeu entrando na cozinha e botando as bebidas na geladeira.
Meu cunhado saiu, minha irmã foi descansar, ela já tinha andado muito e ficou com dor na barriga, ela não podia se estressar com meu pai naquele momento.
- Vai ficar tudo bem, vai descansar, quando ele terminar de beber coloco ele para dormir. - Falei arrumando a cama da minha irmã, logo em seguida ela deitou.
- Qualquer coisa me chama, não saia com ele. - Ela falou preocupada.
Então sai do quarto, obvio que não iria sair com ele, mas também era obvio que eu não iria chamar ela caso acontecesse algo comigo... E novamente, ele me decepcionou.
Espero que estejam gostandoo, depois tem mais. <3
VOCÊ ESTÁ LENDO
A menina que busca o herói
Non-FictionEssa história se passa no mundo real, a protagonista vai enfrentar demônios da vida real. A sociedade, os julgamentos por causa da sua sexualidade e acima de tudo, o monstro que há dentro da sua mente. Alerta de gatilhos!!