Guerra de Sangue

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Marcos, Lara, Pedro e Dannilo se dirigem pra uma cabine de madeira marinha, guiados por Themis, enquanto o mesmo é seguido nervosamente pelo diminuto comadante.

Fjal'ar: Acha mesmo que é uma boa ideia pegar pesado com eles tão cedo? São apenas jovens!

Themis: Jovens ou não, são capazes, você consegue notar apenas pelo modo que se portam: que tipo de pessoas ficariam tão descontraídas quando se encontram em uma realidade que sequer consideravam existir?

A menção fez Fjal'ar parar por um tempo, o olhar franzido.

Fjal'ar: Agora que mencionou...

Themis: Veja, esses garotos não temem a nada, entendem a situação que estão e vão determinados a superar de qualquer forma apresentada. O potencial ilimitado, Fjal'ar! Enxergue que a profecia não se realizou apenas com a chegada deles, e sim com sua maneira de se colocar no lugar sem pestanejar, como se no fundo já tivessem certeza que ganharam!

O comandante acenou com a cabeça, pensativo, logo após se dirigindo para a cabine aonde os outros se encontravam. Lá, ele os ajudou a vestir cotas de malha, feitas de um metal de tom alaranjado, quase semelhante a um cristal translúcido. Era um tanto pesado, eles logo notaram, enquanto imaginavam o quão pesado seria uma armadura completa se essa era apenas a primeira vestimenta.

Fjal'ar: Boa sorte meus jovens!

Lara: Valeu comandante!

Pedro: Valeu seu moço!

Todos saem do armazém, pisando agora sobre o ringue pavimentado, encarando Themis que se encontrava do outro lado, vestindo a mesma cota que eles, com a adição de algumas placas de metal escuro.

Marcos: Quais as ordens, Themis?

O líder estala um dos pulsos.

Themis: Seu primeiro teste será para despertar definitivamente seu Killer Instinct.

Dannilo: Mas eu não já fiz isso?

Themis: É mesmo? Por que não demonstra então?

Dannilo se vê pego de surpresa pelo questionamento, martelando na cabeça como usaria de novo as armas que havia empregado antes.

Themis: Foi o que imaginei! Naquele momento na floresta, você usou da técnica por impulso, por necessidade. Killer Instinct não foi feito pra isso: é algo meticuloso que deve ser bem pensado, porém para ativá-lo...

Um clarão vermelho e dourado é enxergado na região dos olhos de Themis, com o mesmo subitamente sumindo da visão dos quatro recrutas, seguido por uma lufada de vento e um golpe, que joga todos para o meio da arena, espantados.

Dannilo: Ai caceta!

Pedro: Mas que diabo-

Themis: É necessário querer apagar seu alvo.

A voz de Pedro é cortada por uma lâmina vermelha translúcida, que fincou no pavimento a centímetros de seu rosto. Olhando pra trás, ele vê Themis, com uma segunda espada curta semelhante em sua mão, olhando pra eles com a mesma expressão assassina que Dannilo havia demonstrado contra os lobos.

Themis: Venham.

Lara e Dannilo levantam, tomando iniciativa mas ainda apreensivos. A mera presença de Themis os assustava agora, um contraste em relação a sua atitude anfitriã e pacífica de mais cedo.

Marcos: Calma, a gente precisa formar algum jeito de pegá-lo de surpre-

Mais uma lufada de vento, com Themis surgindo na frente de Marcos que ainda se encontrava sentado no chão. Em uma velocidade surreal, o rosto do rapaz é agarrado e tragado até o pavimento, sendo depois arremessado a outra ponta da arena.

Uníssono: MARCOS!

Dannilo tenta um pontapé, mirando no queixo de Themis. Com a mão esquerda, o líder agarra a perna dele, enquanto usando a mão direita ele se propulsiona ao ar com um giro, que derruba Dannilo no processo, a espada luminosa sumindo ao ar como mágica. Encostando no chão com a perna direita, ele se vira para Pedro, chutando seu estômago com a esquerda, antes que ele pudesse terminar de se levantar, o fazendo rolar na arena. 

Lara se encontra com ele num trombo, forçando um embate de braços. Se recompondo, ele joga a garota para o lado, a tempo de segurar o punho fechado de Marcos, sua testa sangrando em filetes, o olhar enfurecido.

Themis: A Guerra de Sangue não é lugar para meros soldados, é uma batalha travada por anjos e humanos, seres capazes de fazer tudo o que fazemos dez vezes mais.

Em um movimento com a perna, ele derruba Marcos e chuta o rosto de Dannilo, que tentava um ataque furtivo enquanto estava no chão. Pedro se aproxima com cautela depois de ter se levantado, segurando o estômago com a mão, ainda sentindo a dor do impacto.

Themis: Um ataque pode determinar o curso de uma batalha inteira, um passo em falso pode decidir um vitorioso em questão de segundos.

Reinvocando uma de suas espadas, Themis corta a perna de Pedro, o fazendo recuar e analisar o corte. Por pouco não foi um corte profundo. Se aproveitando do mesmo movimento, o líder finca a espada no braço de Lara, o que causa um urro de dor. 

Themis: E eu sei o que vocês podem estar pensando: como eu posso acreditar que uma raça tão impossívelmente inferior como a humanidade tem qualquer resquício de chance?

Dannilo grita, correndo cegamente em direção de Themis, apenas para ser ferido no lado pela segunda lâmina que ele agora empunhava, caindo no chão, sangrando e arfando com o corte.

Themis: A resposta é simples, entenda... se querem saber a verdade eu não acredito na humanidade.

Pedro dá mais um passo pra trás, incerto do que fazer, vendo o resto de sua equipe derrotada no chão em tão pouco tempo, enquanto Themis se aproxima lentamente dele.

Themis: Humanos são criaturas solitárias e estúpidas, cada uma delas, incluindo eu! São todos míseros. Não importa de que mundo são, desse ou do de vocês, nenhuma droga de coisa muda com isso.

Um pingo... Sangue. Passos... Ecoando. Morte... Iminente. Lutar ou fugir? Proteger ou debandar? Tudo isso passava na mente de Pedro, na mente de todos os outros. Era impossível, era improvável, eram incapazes. Cada segundo passando como uma gota em um copo prestes a transbordar. O cérebro trabalhando com mil possibilidades e pensamentos, todos conflitantes, alguns apenas memórias, alguns ideias de planos, até que uma frase começa a gritar em suas consciências, ecoando loucamente como uma ordem ao corpo.

e necessario querer apagare necessario querer matar


Vermelho e dourado vibrantes envolviam a arena, e todos que estavam no acampamento pararam para admirar o clímax do combate ali presente. A aura combinada dos cinco adversários cobrindo toda a área, criando um espetáculo não apenas luminoso, como também de força, sua presença sendo exalada pela mesma aura. Marcos, Pedro, Lara e Dannilo se erguiam, seus corpos sangrando mas sem mais sentir dor, cada um expressando um olhar de confiança e desafio, suas íris faiscando nos tons predominantes do local. Marcos empunhava uma arma, um rifle feito de pura energia avermelhada, com marcas em dourado no cano, gatilho e punho. Pedro empunhava com as duas mãos uma espada longa, com o punho, cruzeta e placa da lâmina apresentando símbolos anciãos. Lara engatilhava uma espécie de lâmina curva que cobria todo o seu braço, a ponta e fio da mesma reluzindo no amarelo vigoroso. E por fim, Dannilo empunhava suas adagas duplas, agora muito menores mas ainda mais eficientes, veias douradas percorrendo toda a extensão da arma, pronta para ser usada em seu tamanho normal. Todos eles encaravam uma só pessoa com o mesmo objetivo: derrubá-lo. E no centro, Themis sorria, orgulhoso.

Themis: No entanto, eu acredito no potencial da humanidade. Nós podemos sobrevoar os céus e as estrelas, mesmo quando a própria humanidade duvidou de si mesma, mas alguém eventualmente realizou o feito, o verdadeiro merecedor o fez!

O líder se põe em guarda, convocando suas espadas curtas, se unindo ao coro de auras que o rodeavam.

Themis: É POR ISSO QUE DEPENDE DE NÓS PARA QUE TENHAMOS CERTEZA QUE O POTENCIAL DAQUELES QUE FORAM MAL-ENTENDIDOS SEJA DESCOBERTO ANTES QUE TENHA SIDO EM VÃO! EM FRENTE, DEUSES DO ALÉM, EN GARDE!!

Picotados: O AlémOnde histórias criam vida. Descubra agora