Previsões do Oraculum

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Desde pequeno, me lembro de ouvir histórias das criaturas selvagens que viviam nas trevas. Vampiros acorrentados à maldição da noite, incapazes de perambular na luz.

Os Nocturnus foram o motivo dos meus pesadelos quando ainda tinha apenas seis anos.

A forma como agiam, como matavam. Sedentos por sangue, sem emoções, sem fraquezas. Não eram mais humanos e definitivamente eram impiedosos.

Depois da minha primeira semana como um Refuga, perdido no mundo como um corcel ferido, meu sangue atraiu essas criaturas. Eu sangrava da marca, deixava rastros do meu sangue por todo lugar que passava. E quando fui encurralado por um trio finto de Nocturnus, pensei que morreria.

Mas a verdade é que já estava morto. Nada me prendia, e de alguma forma, mesmo sangrando mais do que deveria, não foi difícil arrancar as cabeças de vampiros da noite. Depois de realmente matar o primeiro, prestes a ser atacado pelos outros dois, percebi que não eram grande coisa. Eram vampiros, e matar vampiros não era um pesadelo.

Mas ainda criança, conhecemos histórias sobre vampiros antigos, que andavam na luz, que viviam como Deuses.

Nenhum morto-vivo pode ser Deus, mas eles... Os Diurnais, eram mais do simples vampiros que bebem sangue e estripam pessoas. Eram lendas, raros, quase místicos.

Eram vampiros poderosos, de linhagem antiga, com parentesco bruxo. Eram os verdadeiros pesadelos. 

Aquele sangue quente escorrendo pelo meu braço era real, e de alguma forma eu acreditava que não poderia fazer nada além daquilo. A ferida atravessada de sua mão, seria o mais longe que eu poderia chegar de realmente tentar matar um Diurnal.

Quando um arrepio se apossou dos meus ossos, minha cabeça latejou. Eu senti aquele cheiro novamente depois de tantos anos. O odor doce e ácido. Cítrico e amargo. O cheiro de magia.

Ele exalava magia apenas por respirar, se é que respirava. Era tão... Bom. Nostálgico e avassalador, mas bom e aconchegante.

-Estive o procurando por muito tempo, doce bruxo. - sua voz era ainda mais potente do que imaginei.

Grave e ardente. Fez meus ossos tremularem. Eu estava em suas mãos, novamente me sentindo como um corcel indefeso.

Ele me mataria como os outros? Me estriparia por ter sido um Dahlia?

Eu não tinha nada para devolver à Terra, eu poderia ir para o outro lado mesmo assim? Meu guia me encontraria?

Não... Não, nenhum Refuga passa para o outro lado. São condenados como almas presas a uma dívida astral.

-Não sou um Dahlia, não há motivos para me matar. - tolas palavras. Tolas afirmações. Tolas e doces.

Ingênuas demais.

-Matar você? - repetiu, a voz firme causando-me calafrios confusos. Aqueciam meu corpo de forma abismal. -Não, não...

A mão em meu rosto desceu lenta até meu corpo, enquanto a ferida segurou no punhal, escorregando pela lâmina.

O olho dourado ferveu enquanto o vermelho borbulhava.

Seus dedos afundaram na carne da minha cintura, me fazendo tencionar o corpo inteiro. Ele arrancaria minhas costelas primeiro?

-Eu salvei você. - declarou.

Fui pego pelo absurdo. Confusão tomou conta do meu rosto, e naquela fração de lucidez, tentei me afastar. O barulho da minha lâmina arrastando em sua carne com força foi como música. Livre do aperto, pensei em fugir, e poderia ter fugido.

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