Primavera

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Sinto meu corpo enrijecer, os olhos dela em minha direção, como brasas queimando. Sentimentos indecifráveis escupiam-se em seu rosto pálido, me sentia quase paralisada. Ao meu
redor as coisas não pareciam fazer muito sentindo, o céu distorcido, assim como o chão de terra batida.

Tinha a impressão que a gravidade havia aumentado, deixando meu corpo mais pesado, os pés presos ao solo. Mas talvez não fosse a gravidade, talvez fosse aquele olhar quase mortal, cada vez mais próximo a mim.

Olhei ao meu redor, numa tentativa inútil de encontrar meus companheiros, não havia mais ninguém ali, Kakashi, Naruto e Sasuke simplesmente desapareceram. Tentei forçar meu corpo a se mexer, precisava me defender de alguma forma, contudo Kaguya já havia me alcançando. Tive a impressão que o tempo havia parado, enquanto eu estava congelada, sentindo apenas meu próprio coração martelar dentro do peito com mais força do que deveria ser possível.

Kaguya que flutuava, curvou-se até chegar a minha altura, tomou meu rosto em suas mãos, obrigando-me a encara-la, seus olhos estavam fixos no meu, tento desviar o olhar, mas é como se estivesse presa a sua orbita. Incapaz de me soltar. Minha respiração fica curta e mais rápida, meu peito começa a doer, sinto uma pressão esmagadora em minha mente, como se ela estivesse prestes a explodir. Kaguya tinha total controle sobre mim, como se pudesse me subjugar apenas com seu olhar. Suas mãos se moveram rapidamente, encostando as pontas dos dedos na minha testa e na clavícula.

A dor é eminente, sinto meu corpo queimar.

Minha mente fica nublada, e essa nuvem começa a envolver os meus pensamentos, a única coisa que me resta é a dor insuportável. Tudo ao meu redor parece distante e indistinto, meus pulmões param de puxar o ar, me sinto sufocada.

"Está feito"

Sua voz invade minha mente, e eu finalmente acordo.

Meu corpo estava trémulo devido ao pesadelo, faziam meses que não sonhara mais com a guerra, no entanto, nas últimas semanas os sonhos voltaram a ser frequentes. Levanto da cama sentindo meu corpo pesado, minha cabeça latejava como um resquício de dor deixada pelo pesadelo, podia sentir ainda aquele efeito, como uma memória queimando em minha mente.

Me obrigo a andar, e vou até ao banheiro, ligo o chuveiro e submerjo na água gelada, sinto meu corpo se arrepiar pelo frio, mas logo meus batimentos voltam ao normal e meu corpo enfim consegue relaxar.

Dois anos haviam se passado desde a quarta grande guerra ninja e o mundo estava se reconstruindo aos poucos. A paz finalmente retornou a Konoha. As ruas agora estão cheias de vida e energia, com as pessoas voltando a suas rotinas diárias. As lojas e restaurantes estão abertos novamente, e as crianças brincam despreocupadas nas praças da cidade.

No entanto, apesar da tranquilidade aparente, Konoha não é mais a mesma. A guerra deixou cicatrizes que nunca poderiam ser apagadas. Muitos dos nossos companheiros de batalha partiram, alguns para outras vilas, outros para o mundo além das nossas fronteiras. Seus lugares agora são preenchidos por uma nova geração de ninjas, tão destemidos e corajosos quanto aqueles que vieram antes deles. Shinobis dispostos a proteger Konoha das ameaças que ainda existem lá fora.

Desligo o chuveiro depois de alguns minutos, ainda era cedo, o sol mal havia levantado no horizonte. Observo a luz entrando pela janela do quarto, apesar de mal passar das seis da manhã, os raios eram tão intensos que faziam as partículas de poeira flutuando no ar parecerem estrelas cintilantes.  A luz incide diretamente sobre a mesa de cabeceira, refletindo pequenas rajadas coloridas sob o porta-retrato depositado ali.

Me aproximo e o seguro com as duas mãos.
Encaro a foto com um aperto no peito, sentindo um misto de saudade e tristeza. Meus companheiros, meus amigos, parecem tão distantes agora. E não é apenas a partida de Sasuke que dói em meu coração, mas também a ausência de Naruto, que está fora da vila em missão há meses.

Sakura: A ascensão da força interiorOnde histórias criam vida. Descubra agora